História de quem dedica sua vida ao teatro e a arte francana

Por Débora Simões

(Imagem cedida pelo "Grupo Ato")

(Imagem cedida pelo “Grupo Ato”)

Ana Cláudia Segadas, 50, natural do Rio de Janeiro, mudou-se para Franca SP, depois do seu primeiro casamento em 1985. Dedica sua vida ao teatro e a cultura francana há mais de 25 anos. Formada em educação artística, pela Universidade de Franca (Unifran), já trabalhou como professora, produtora, iluminadora, diretora teatral, atriz e atualmente está ariscando na área carnavalesca da cidade.

Ana Cláudia foi até minha casa e contou sobre sua vida, dificuldades, projetos relacionados à área cultural de Franca.

Débora Simões: Como percebeu que a arte era o caminho que queria seguir?

Ana Cláudia Segadas: Percebi quando eu já era professora recém-formada, estava com 26 anos, e fui fazer um curso de iniciação ao teatro. Sempre tive a arte presente na minha vida, porque minha mãe era professora de educação artística e desde pequena, como morava no Rio de Janeiro, ia ao teatro. Nesse sentido eu tive uma infância privilegiada, pois pude ter acesso às manifestações artísticas, mas como espectadora.

Depois que tive os filhos, comecei a pensar profissionalmente e resolvi fazer arquitetura, mas não terminei. Fiz educação artística, mudei para a edução por causa dos meus filho.

Já dando aula, gostava de contar historias para criança, então resolvi fazer um curso de iniciação ao teatro, achei que isso iria facilitar minha carreira como professora. Esse curso foi uma grande surpresa, pois me descobri atriz e vi que era isso que queria fazer, logo no começo me encantei

D.S: A arte e dividida em quatro frentes (musica, teatro, dança e plástica) quando você se descobriu no teatro?

Ana Cláudia Segadas: No curso de teatro, porque eu já tinha trabalhado com a artes plásticas e passei por um coral, por  conta deste ultimo quis fazer o curso, pois tinha uma representação cênica, mas não tinha passado pela dança.

D.S: Por que deixou o Rio de Janeiro, sendo lá um dos principais polos do teatro?

Ana Cláudia Segadas: Porque eu casei com um francano (risos), eu já estava gravida do meu filho e lá não tinha onde morar e assim decidimos vir pra Franca.

 D.S: Você já deu aula em escola pública, você gosta?

Ana Cláudia Segadas: Já dei muita aula em escola pública, porque me formei para ser professora, gosto de dar aulas, mas com o tempo eu comecei a ver que não era minha praia estar na escola pública, e vi que a minha atuação profissional, mesmo gostando de dar aulas, devia ser fora do ambiente escolar.

D.S: Para você, qual a maior dificuldade do ensino público?

Ana Cláudia Segadas: Eu me acho uma pessoa fora de padrão, sou extremamente criativa, minhas soluções não são as comuns. A estrutura de uma escola, com horários era muito difícil me adequar. As minhas ideias ficavam muito além daquele limite que a escola me dava. Sentia-me muito chateada, pois não podia falar tudo o que penso, porque as pessoas começam a me olhar como se eu fosse um E.T. Levei até quando precisei dessa estrutura organizada para poder ter um salário para sustentar meus filhos, depois que eles foram para a faculdade e ficaram adultos tive certeza que eu não dava mais certo, até porque não tinha mais a pressão do salário. Então escolhi sair da escola pública.

D.S: Qual peça mais te marcou?

Imagem cedida pelo grupo Ato: peça Graças a Santo Antônio, Ana Cláudia como Estefânia à esquerda.

Imagem cedida pelo grupo Ato: peça Graças a Santo Antônio, Ana Cláudia como Estefânia à esquerda.

Ana Cláudia Segadas: É uma pergunta difícil, porque cada uma tem algo que te marca, pois eu já fiz de tudo no teatro, aprendi a dirigir, a iluminar, a produzir e a criar os projetos. Em Franca não se encontra todos os profissionais, então esperei para poder dizer que eu era só atriz. Posso dizer que a que mais me marcou é a última peça: Graças a Santo Antônio, fiz a Estefânia, que é uma farsa, porque era uma menina de 15 para 16 anos, o que é totalmente impossível pois tenho 50. Ela foi criada com as vacas, tendo um jeito vaca de ser (risos), é muito legal poder viver isso e muito engraçado.

D.S: Das áreas técnicas que você já trabalhou, qual te surpreendeu mais?

Ana Cláudia Segadas: A que eu gosto mais é a de produção artística, mais a que eu me surpreendi foi a direção de ator, porque me desenvolver como diretora era difícil. Fui desenvolvendo aos poucos e com muita dificuldade, mais hoje em dia acho que faço bem isso.

D.S: Qual personagem foi o mais difícil?

Ana Cláudia Segadas: O mais difícil para mim na época, pela minha inexperiência, foi a Bernarda Alba da peça “A casa de Bernarda Alba”, do Garcia Lorca, era um personagem incrível e tinha pouca condição, sofri muito na mão do diretor, ele não me dava segurança, foi difícil conseguir fazer, mais consegui.

D.S: Quais as maiores dificuldades encontradas na área do teatro e na parte cultural em Franca?

Ana Cláudia Segadas: Se eu for fazer um rol disso (risos) não saímos daqui hoje. A primeira grande é a falta de tradição que a cidade tem, Franca é uma cidade musical, esta é uma área muito bem aceita. No teatro não, as pessoas não vão ao teatro, nem sabem o que é isso e não têm interesse, com isso ninguém vai querer patrocinar teatro, e não temos nenhum tipo de apoio, fazemos na raça. Agora a prefeitura criou o bolsa cultura, que é um incentivo ridículo em questão de valor. Em 2012 foi nove mil reais, se for depender disso para apresentar uma produção, você não faz,  se faz, pois você quer fazer.

D.S: O que poderia ser feito para melhorar?

Bom, tentar divulgar as ações culturais que estão acontecendo. Em primeiro lugar, o artista tem que conscientizar-se do seu papel social, arregaçar as mangas e exigir. Não é porque ninguém vai ao teatro que eu vou parar, pois isso é o que sei fazer, é o que faço de melhor, sinto que nasci para ser atriz. Acredito que Deus me deu essa missão, não sei o porquê de vim fazer teatro em Franca (risos), acho tenho um compromisso sociocultural de fazer as pessoas crescerem e evoluírem seus horizontes, por último, tentar fazer o melhor trabalho possível, mostrar que com o teatro a qualidade de vida melhora.

 O “Grupo Ato” (grupo no qual ela participa), junto com outros grupos culturais, vem fazendo um trabalho que se chama “Rede Cultural de Franca”, são artistas de diversas áreas que reúnem-se para provocar melhorias na arte francana. Fazendo ações como fóruns culturais, levando a arte para a periferia. Com isso estamos conseguindo trazer o público, aos poucos, mas as pessoas já estão nos vendo como um grupo profissional de teatro em Franca, o que é uma conquista, pois é o primeiro grupo profissional aqui.

D.S: Como incluir a população na participação e criação do teatro?

Ana Cláudia Segadas: O “Grupo Ato” tem feito um curso livre de teatro. O grupo é para jovens e adultos, a proposta é que o individuo melhore como pessoa nesse meio artístico, qualquer pessoa maior de 18 anos pode, de graça, uma vez por semana brincar, fazer exercícios teatrais e começar a ter contato com o texto. Por mais que tenha a brincadeira há uma reflexão relacionada com contexto em que a pessoa vive. Contudo temos um limite de vagas, pois é uma ação voluntária e quem sabe com o passar do tempo, se conseguirmos incentivo, podemos ampliar.

D.S: Você acha que as pessoas que participam do curso podem vir a participar do grupo profissional?

Ana Cláudia Segadas: Sim, mas o enfoque é outro. Temos o desejo de manter o curso livre e ter um grupo amador. Porém participar do grupo profissional é diferente, pois a pessoa tem que fazer do teatro seu meio de vida, mesmo que tenha uma profissão paralela para pagar as contas, mas a pessoa deve ter a consciência que o nosso eixo dentro da cidade é o teatro, e tem que ter uma formação relacionada ao teatro.

D.S: Atualmente você está entrando na área do carnaval, como está sendo a experiência?

Imagem retirada do álbum picasa do site GCN (https://picasaweb.google.com/100373985731643026089/DesfileFrancaFilhos?feat=flashalbum#5710888100954165234) Carnaval 2012, Ana Cláudia desfila pela escola Filhos de Gandhi

Imagem retirada do álbum picasa do site GCN (https://picasaweb.google.com/100373985731643026089/DesfileFrancaFilhos?feat=flashalbum#5710888100954165234) Carnaval 2012, Ana Cláudia desfila pela escola Filhos de Gandhi

Ana Cláudia Segadas: O carnaval está sendo muito divertido. Primeiramente o grupo foi convidado a participar da comissão de frente, que foi uma oportunidade de começarmos a ganhar dinheiro, justamente numa época que ele não entra. Então comecei a ter contato com a produção da festa e depois do carnaval do ano passado, o Lázaro, que é presidente da escola de samba Águias Douradas, me falou que gostaria de fazer o enredo sobre a história do teatro e perguntou se eu não gostaria de trabalhar, resolvi arriscar (risos).

É totalmente norteador, pois é outra linguagem e outra expressão, completamente diferente, o carnaval também é um espetáculo e conta uma história, porém a linguagem é através da música, da dança e elementos como carros alegóricos e fantasias. A dificuldade novamente é a questão do dinheiro, porque o orçamento é curto, tornando desafiador a produção de arte.

 D.S: Qual a meta para 2013?

Ana Cláudia Segadas: Que esse carnaval seja um espetáculo, e em relação a mim, gostaria de dar mais aulas de teatro para crianças pelo “Grupo Ato”, pois sinto falta. Em relação ao “Grupo Ato” nós estamos com um espetáculo novo e a meta é colocá-lo para rodar. E como ano que vem o grupo completará 15 anos, temos que começar a planejar alguma comemoração.

Ana Cláudia está animada com os novos projetos e sente-se realizada por tudo que já fez, mas pretende fazer muito mais para a área cultural em Franca, já que esta é um dos principais problemas que a cidade apresenta.