A estrada com destino ao balcão do bar

Por Amanda Sereno

De um ambiente pouco movimentado, mal administrado e com excesso de dívidas, a um lugar agitadissímo de segunda a segunda, frequentado por muitos jovens de Osasco e com um bom retorno financeiro. Essa foi a transformação que Cícero Lima Dantas, 50 anos (conhecido como Ciço), realizou no bar (atual “bar do Ciço”) em 1999. O cearense afirma que nunca havia pensado na possibilidade de administrar um bar e acreditava não ter vocação. Sua sina porém, foi contrária a isso. Quando se questiona o porquê de sua vida ter seguido esse rumo, Ciço revela toda sua fé e responde feliz e satisfeito: “Só quem sabe explicar isso é Deus né?!”.

Amanda: Há quanto tempo o senhor está em São Paulo? Cícero: Quando eu vim para São Paulo eu tinha 14 anos, foi em 1976. Há trinta e seis anos que eu “tô” aqui.

A: E porque o senhor se mudou para cá? C: Eu era caminhoneiro, desde os 8 anos trabalhava na estrada. Aí vim pra cá arriscar minha vida. Trabalhei de motorista, cortador de carne, garçon. Trabalhei na Folha [Folha de S. Paulo] entregando jornal à noite e de manobrista em restaurante.

A: Como o senhor se tornou dono do bar? C: Conheci um cara e ele veio tentar me vender esse bar aqui. Eu nunca pensei em comprar um bar na minha vida! Nunca pensei que eu tenho vocação pra bar. Aí o cara chegou umas dez vezes querendo trocar uma moto que eu tinha vermelha pelo bar. Eu não quis! O bar estava sendo alugado por um cunhado dele que estava ferrando ele, não pagava o aluguel do estabelecimento ou quando pagava era três meses atrasado. A situação não estava boa. Ele veio conversar comigo de novo, falou que venderia por 5 mil. Eu juntei dinheiro, peguei e comprei… Me dei bem.

A: E há quanto tempo esse cara te vendeu o bar? C: Há 14 anos.

A: Você lucra muito com o bar? C: Ah… Eu não posso falar nada. Tirando os chapéus que os caras dão. Eu economizo porque nem tenho que pagar aluguel, o local é meu. Aqui em volta têm restaurantes que param de funcionar onze horas, meia noite e todo mundo vem pra cá, fica aqui e não vai e nenhum outro bar… Só quem sabe explicar isso é Deus né?!

A: E a média diária de clientes, é alta? C: É boa, graças a Deus! Sempre tem minha clientela, têm as pessoas que gostam de mim que vêm… De longe, Jabaquara, Pirituba, Helena Maria, Novo Osasco, Olária do Nino, de todo canto vem gente!

A: Onde o senhor mora? C: Aqui pertinho, na Avenida Martin Luther King. Venho pra cá todo dia de moto ou carro. Dá 1 km de onde eu moro pra cá.

A: Há outro meio de sustento para a sua casa, além do dinheiro do bar? C: Não, minha mulher não trabalha.

A: Se o senhor pudesse escolher uma outra coisa pra fazer da vida, o que seria? C: Caminhão na estrada. De novo!

Ao responder a última questão, o cearense muda discretamente de expressão, resultando em um sorriso de canto, quase imperceptível. Durante a entrevista pude notar que Ciço têm como herança de sua origem a simplicidade e não se intimida com os desafios desse mundão. Ele orgulha-se de suas conquistas e evidencia sua crença a todo momento.