Diversos festivais, encontros, peças e eventos culturais acontecem em Ouro Preto mas não atingem toda a população
Por Anna Antoun, Douglas Gomes, Katiusca Demetino, Marina Morgan da Costa, Pamela Moraes
Ouro Preto possui uma vasta programação artística e cultural, tanto voltada ao turismo quanto para a população local. Percebe-se, entretanto, que a comunidade não participa de todas as atividades que são realizadas.
A cidade é muito marcada por divisões e estas são responsáveis pelo desinteresse e ausência de público nos eventos culturais promovidos. Outro conflito que prejudica a interatividade entre a comunidade e os eventos culturais da cidade é a insatisfação da população com as formas de divulgação de tais eventos. Esse sentimento é compartilhado tanto pelos estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto como pela população local. Já os produtores e realizadores culturais afirmam que o público tem acesso à informação, mas não participa por falta de interesse.
Ouro Preto é declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade desde 1980 pela Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (UNESCO). Em sua época de Vila Rica, foi Capital do Brasil e sede da Casa da Moeda. A cidade sempre esteve como foco turístico, seja por sua localização, clima, arquitetura ou por suas riquezas minerais e culturais.
Renan Marcheto, 22, assessor executivo do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes, esclarece sobre a cena cultural da cidade: “Ouro Preto agrega muitos eventos em seu calendário durante todo o ano e talvez por isso seja impossível apontar qual seja o mais importante devido à diversificação de conteúdo que os eventos na cidade proporcionam para os mais variados públicos”. Mesmo assim, Renan arrisca dizer que o Festival de Inverno é um dos maiores e mais importantes eventos que ocorrem na cidade, tanto por sua diversidade quanto pela participação do público que é bastante expressiva.
O estudante de Engenharia de Minas, Almiro Santana Junior, 23, se interessa e procura por atividades culturais da cidade, mas, para ele, somente os eventos maiores como os festivais, possuem uma divulgação eficaz. Os eventos menores, como dança e teatro são divulgados num prazo de tempo muito curto, tornando inviável a presença. A mesma opinião tem a estudante de Economia, Lucineide Santos, 33. Para ela, os eventos não são divulgados há tempo de se programar.
Meios de divulgação
O Blog “Bom Será” reúne diversos personagens entre jornalistas, historiadores, publicitários e empresários, que publicam periodicamente informações informais sobre a Cidade. Nele são divulgadas matérias de diversos assuntos, tais como Patrimônio Cultural, sua relevância e importância histórica.
Aline Monteiro, 34, Jornalista, conta como surgiu o “Bom Será”: “Há dois anos, quando o Twitter tinha mais impacto que o Facebook enquanto rede social, algumas pessoas da cidade começaram a conversar e surgiu a ideia de fazermos um encontro de twitteiros. Marcamos a data para organizar o evento, mas dessa conversa surgiu a ideia de criar um blog/site que falasse de Ouro Preto sem ser noticioso. Fomos amadurecendo a ideia e alguns meses depois o Bom Será estava no ar.”
O Blog possui 1.100 seguidores em sua página do Facebook, mas não pode-se calcular quantas pessoas tem acesso a ele. “O número é pouco, mas é uma estatística do Facebook, que não representa o universo de alunos da UFOP nem a população de Ouro Preto. Acredito que o Bom Será presta um serviço informativo relevante (sem ser jornalístico), porque trata de coisas sobre Ouro Preto que são do interesse, especialmente, de quem mora na cidade, seja estudante, nativo, professor, trabalhador ou seja lá o que for.”
A cidade possui, ainda, o Portal Ouro Preto, que reúne anúncios comerciais, turísticos e culturais da cidade. A página é gerenciada por Eduardo Trópia, fotógrafo de Ouro Preto.
Outro meio importante de difusão das informações culturais no portal Cultura em Revista. Dirigida por Luciano Almeida, a “Cultura em revista é uma revista eletrônica, mas também é um portal em que outras ferramentas irão se juntar, procurando suprir lacunas e promover o desenvolvimento cultural nos municípios de Mariana e Ouro Preto. Mas isso só pode acontecer quando os atores culturais participam deste processo. Assim, criamos mecanismos de participação através de enquetes periódicas, mural de recados e comentários, além de outras ferramentas. “
Em outros mecanismos é possível encontrar informações por meio de sites institucionais, como o da Secretaria de Cultura e Turismo de Ouro Preto, da Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP e o site da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP.
Além da divulgação digital, há distribuição de cartazes em diversos pontos onde há intensa circulação de pedestres e folhetos distribuídos pela cidade. Outro meio importante são as divulgações que ocorrem durante a programação diária da Rádio Itatiaia Ouro Preto.
Se as informações são anunciadas e há meios eficientes de comunicação, por que a população se sente tão desinformada?
Para a estudante de Farmácia, Paula Soares, 20, as atividades são divulgadas mais por meio virtual e deveriam intensificar outras formas de informação. Ela e Lucineide destacam que muitas pessoas ainda não possuem acesso à internet e estas acabando ficando de fora das principais programações.
Jorge Moreira do Egito, 21, estudante de Engenharia de Telecomunicações – UFSJ, nasceu e foi criado em Mariana. Ele afirma não conhecer os eventos das cidades, mas não por falta de interesse e se sim por falta de acesso. Para ele seria mais eficaz uma página especifica com os eventos culturais de ouro preto. Ainda segundo Jorge a comunidade local só frenquenta os shows, ainda deixando de lado boa parte da programação cultural dos festivais, isso porque o foco maior dos mesmos são os turistas. “Normalmente voltam mais as atividades para o público externo, acho que deveriam realizar uma pesquisa e ver o que a maioria da população de Mariana e Ouro Preto realmente gosta”, diz.
Almiro destaca outro ponto, a divulgação que não atinge todos os tipos de públicos. “Os ouropretanos de fato ainda são uma parcela muito pequena, comparado ao tamanho da população nativa. Sempre os noto nos eventos, mas acredito que se fosse melhor divulgado nos bairros e comunidades, haveria uma maior participação”.
Valter Nascimento, 31, é blogueiro, empresário e produtor do Cineclube Museu da Incofidência. O projeto iniciado em 2009 mantém sua programação constante de exibição de filmes para a comunidade. A proposta de trazer novos realizadores e resgatar elementos importantes do cinema mundial tem um público fiel, composto em sua maioria pela comunidade local. O Cineclube investe bastante na divulgação, além do blog, são publicados releases nos portais de cultura e através de cartazes em diversos pontos da cidade. Além disso, quem se cadastra no site recebe as programações com uma semana de antecedência.
Valter relata que o público é muito irregular. “Assim como podemos ter a casa cheia, podemos contar com pouquíssimas pessoas, isso varia muito.”. Ele destaca que a população local tem um certo receio em se envolver nos eventos. “As pessoas dizem não saberem dos eventos mas também não procuram saber sobre o que está acontecendo e mesmo quando sabem não frequentam e depois se arrependem”.
Para Aline não falta interesse, mas existem divisões que prejudicam a interação da comunidade com os eventos “É que a cidade é muito marcada por divisões. Além da clássica estudantes x moradores, ainda tem o Pilar x Antonio Dias, Centro x Morros. E muitas vezes a programação é focada em certo tipo de público. Aí se acaba divulgando só para um tipo de público, em canais próprios. O que eu acho que falta é mais uma visão do todo para produtores de eventos e para divulgadores. No Bom Será, por exemplo, a gente fala só para a parte da população que tem acesso à internet e gosta de ler. Ou seja… Não vamos chegar aos morros se não tivermos esse perfil lá. Ou se investirmos em outras formas de divulgação, como rádio, panfletos, etc”.
Além de Museus e exposições fixas espalhadas pela cidade
A maioria das programações ocorrem gratuitamente, algumas com distribuições de senhas, quando ocorrem em lugares fechados. Nossa equipe observou a presença de públicos diversos, entre estudantes, turistas e moradores da região, mas não foram observados um número significante de participantes.
Thiago Souza Dias, 26, funcionário público, também nasceu em Ouro Preto e vive na cidade. Ele afirma conhecer e ter bastante frequência nas atividades culturais que a cidade oferece, ainda assim reconhece que a divulgação não alcança a população no geral.
Mesmo que essa seja uma tarefa difícil, unificar em um único meio todas as manifestações culturais e levá-las até as comunidades mais afastadas seria uma forma de diminuir as fronteiras entre a comunidade, os estudantes e os turistas. A interação entre esses grupos sociais contribui para um melhor fluxo de comunição e de trocas de experiências.
“Acho que a participação nos eventos fica restrita a uma pequena porcentagem da comunidade e normalmente é essa porcentagem que já tem acesso a cultura.” A opinião de Thiago é persistente, ele fala, em suas palavras, sobre a democratização da cultura. Expandir as formas de difusão, alternar os meios de divulgação e derrubar assim, as barreiras tão tradicionais que existem entre a população. A união entre realizadores, produtores e consumidores culturais começa no processo de transformação e compartilhamento de ideias e preferências.
Ouro Preto é uma cidade tão rica em cultura e deve ser preservada. Não somente pela tradição mas pela conservação de um patrimônio que é da população. Sem estímulos é normal que as pessoas percam o interesse e não se envolvam como devem e merecem. Aline resume, claramente, essa situação: “O ideal seria que mais pessoas participassem, conhecessem as peculiaridades da cidade, para haja mais pessoas encarregadas de preservar. Nós só preservamos o que conhecemos, por isso é imprescindível que haja educação patrimonial em vários níveis da educação.”
Durante o final de semana no qual foi realizada a reportagem, nossa equipe identificou diversas atividades culturais e não foi preciso procurar muito. Algumas estavam disponíveis em páginas do Facebook, outras no portal ouropreto.com.
Sábado 23/03 – Houve duas oficinas:
> Customização de roupas – Refazendo a moda através da chita e outra
> O Artista Produtor – Teatro em Movimento
Quinta-feira – 21/03 - Uma apresentação da Orquestra de Ouro Preto na Igreja São José
Sexta-feira – 22,23,24 - Espetaculo – Jardim do Silêncio – Companhia Calor de Laura
Sexta-feira – 22/03 - Cineclube Museu da Inconfidência- Filme mudo Aurora – 1927
Sexta-feira – 22/03 - Cine Vila Rica – Filmes comerciais
17h – DETONA RALPH | 19h – O MESTRE (The Master)| 21h e 30 min – A VIAGEM (Cloud Atlas)
Sábado – 23/03 - Intervenção dos alunos de arquitetura no Parque Vale dos Contos
- Orquestra de Ouro Preto – Foto: Amanda Santos
- Espetáculo Jardim do Silêncio – Foto: Katiusca Demetino
- Cineclube. Foto: Katiusca Demetino
- Intervenção “Descubra o Parque” – Foto: Françoíse Viana
Visualizar Alguns pontos culturais de Ouro Preto em um mapa maior
IGREJAS:
Igreja de Nossa Senhora do Pilar - Endereço: Praça Monsenhor Castilho Barbosa. - Contato: (31) 3551-4736 - Horário de missas: todos os dias as 07:00 h. Sábados e Domingos as 07:00 h e as 19:00h
Igreja de Nossa Senhora da Conceição - Endereço: Praça Antonio Dias, sem número. Contato: (31) 3551-3282 - Horário de missas: Terça a Sexta as 19:00 h . Domingo as 08:30, 10:00 e 19:00 h.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo - Endereço: Rua Brigadeiro Musqueira, sem número. (ao lado do Museu da Inconfidência) - Contato: (31) 3551-2601 - Horário de missas: Somente aos Domingos as 08:30h.
Igreja de São Francisco de Assis - Endereço: Largo do Coimbra. - Contato: (31) 3551-3282 – Horário de missas: Sábados as 19:30 h.
Igreja Nossa Senhora do Rosário - Endereço: Largo do Rosário, antigo bairro Caquende - Contato: (31) 3551-4736 – Horário de funcionamento: de terça a sábado, das 12h às 16h45, e domingo, das 13h às 15:30.
FESTIVAIS
Festival Inconfidentes de Cinema
CINEMA
Cine Vila Rica - Endereço: Praça Reinaldo Alves de Brito, 47, Centro, Ouro Preto/MG. Contato : (31) 3552-5424
Cineclube Museu da Inconfidência - Contato: (31) 3551-1121 / (31) 3551-6023
TEATRO E MÚSICA
Casa da Ópera Endereço:Teatro Municipal Casa da Ópera / Rua Brigadeiro Musqueira S/N – Centro Ouro Preto, MG - Contato: (31) 3559-3224
Vales dos Contos - Horário de Funcionamento: de segunda a segunda, das 7 às 17 horas. Contato: (31) 3552-6321
MUSEUS E EXPOSIÇÕES
Casa dos Contos - R. S José, 12 – Centro – Contato: (31) 3551-1444
Casa de Cultura Padre Faria - Contato: (31) 3551-7796 - Horário de visitação: Das 8h às 11:30 e das 13h às 17h.
Trem da Vale - Estação de Ouro Preto: Praça Cesário Alvim – Barra, Ouro Preto Contato: (31) 3551-1759 | Estação de Mariana: Praça Juscelino Kubitschek – Mariana – MG, 35420-000 - Contato:(31) 3558-3104
Casa de Gonzaga - R. Dom Silvério, 108, Centro - Contato: (31) 3552-2866
Museu de Arte Sacra de Ouro Preto - Praça Monsenhor C Barbosa, 17 - Contato: (31) 3551- 4735 - Horário de visitação: Terça a Domingo, das 9h às 10:45h e 12h às 16:45h
Museu do Oratório - Adro da Igreja do Carmo, 28 – Centro- Ouro Preto MG - Contato: (31) 3551-5369
Museu do aleijadinho - Rua Bernardo de Vasconcelos, 179 Bairro de Antônio Dias. Contato: (31) 3551-4661 - Horário de visitação: Terça a domingo, das 08:30h às 12h e das 13:30 às 17h.
Museu de Ciência e Técnicas da Escola de Minas - Praça Tiradentes, 20 – Centro. Contato: (31)3559-3118 ou (31)3559-1597
Galeria da FIEMG - Endereço: Praça Tiradentes, 04 – Bairro Centro – Ouro Preto - Contato: (31) 3551-3637
Mina do Chico Rei - R. Dom Silvério, 108, Centro Ouro Preto – MG – Contato: (31) 3552-2866
Galeria LGTA - Contato: (31) 3551-2093
ficou muito legal! adorei o modo como voces, ao mostrarem a dificuldade de se incluir toda a população nas atividades culturais da cidade, acabaram por fazer um mapeamento, quase um dossiê, de tudo o que rola por lá, da maneira mais natural possivel. o melhor é que o tom nao soa pretensioso, mas sim como um convite a se pensar novas formas de estimulo a sociedade neh. nao é mera noticia, mas noticia que convida a refletir. adoro quando isso acontece!
Parabéns! Gostei muito da matéria e acho uma iniciativa de muita importância, apesar de que textos como esse também não chegam a todos. :/
Bom, tenho quase certeza que há uma informação errada, verifiquem.
O nome do espetáculo citado como “Espiral do Silêncio – Companhia Calor de Laura” é na verdade “Jardim do Silêncio”.
Obrigado Natassia!
Vamos tentar fazer esse texto circular o máximo possível então, compartilhando.
Sobre a errata, agradecemos pela observação e colaboração. Já apuramos e fizemos a alteração do nome do espetáculo.
Att.,
Douglas.
Muito boa a reportagem.
Eu como Morador, nativo e estudante da Ufop consigo ver os dois lados da moeda.
Em parte falta interesse das pessoas nas atividades culturais. Porém, em outros casos, não há interesse por falta de acesso, divulgação nas comunidades. Creio que uma boa alternativa é fazer um levantamento quantitativo e qualitativo a respeito da não integração destes universos com uma amostra da comunidade, os chamados “nativos” assim como os estudantes. Assim teríamos um mapeamento de como solucionar este problema.
Parabéns pela matéria. Se sente que há um trabalho de pesquisa que busca realmente contribuir com o conhecimento desse perfil de oferta e demanda cultural na nossa cidade. Não entanto, é necessário mais uma vez não esquecermos dos territórios que estão fora do centro histórico, os distritos de Ouro Preto!
Seria interessante que as pessoas que trabalham com produção cultural abrissem um pouco mais o seu foco de interesses e assim quem sabe descobrir outras possibilidades, outras Ouro pretos, outros ângulos desta cidade tão rica e tão contraditora.
Boa matéria informativa, jovens jornalistas!
Parabéns!