Papai Noel existe

Por Ana Elisa Siqueira

Foto: Ana Elisa Siqueira

Foto: Ana Elisa Siqueira

A figura do papai Noel faz parte da nossa vida desde a infância. Apesar de ser um único personagem, em cada cidade do Brasil existe um Papai Noel diferente. O bom velhinho da cidade de Barbacena, Minas Gerais, se chama Gilson Bello Reis, tem apenas 56 anos. Desde 2008 trabalha como Papai Noel no BQ shopping.

Ana Elisa: Quando começou a se vestir de Papai Noel?

Gilson Reis: Comecei em casa, com os filhos e os sobrinhos e acabei gostando da brincadeira. Um dia a administradora do BQ foi na minha casa e me convidou pra ser o Papai Noel do shopping e eu aceitei. Isso foi em 2008. Desde então eu sou o Papai Noel do shopping. É um trabalho muito gratificante. Naquela cadeirinha eu vejo muitas histórias, algumas bonitas e outras que entristecem, emocionam. Outro dia eu vi duas crianças que estavam arredias. Quando elas se aproximaram eu perguntei o que elas queriam pedir para o Papai Noel, e uma delas disse: “ Papai Noel eu gostaria que você tirasse meu pai e minha mãe do Seres.” Seres é um presídio. Aquilo doeu muito meu coração, abracei ambos muito emocionado. Conversei com o pessoal aqui do shopping e eles fizeram uma doação de cesta básica para as crianças, durante um ano, e doaram roupas e brinquedos também. Eles vão ter um natal diferente. Uma das lojistas matriculou as crianças em uma boa escola e vai ajudar para que elas estudem. Aqui a gente vê os dois lados, crianças que chegam e pedem um monte de coisas e ganham realmente e outras que o pedido é tão simples que toca a gente.

AE: As crianças acreditam que você é o Papai Noel? Sua barba é falsa, eles percebem?

GR: Acreditam. A maioria acredita, querem me beliscar, puxar a minha barba. De vez em quando alguns falam, eles olham por baixo e falam que a barba não é minha, ai a gente tem que fazer uma ginástica, tem muita criança esperta. Outros acreditam piamente, mas alguns olham e falam que eu não sou o Papai Noel.

AE: Qual é o seu trabalho nos outros meses do ano?

GR: Sou taxista. Na época do natal eu trabalho aqui no shopping, no correio e visito lares terapêuticos, faço trabalho voluntário com os idosos e doentes mentais. Eles me abraçam, choram. Tem pessoas lá mais velhas do que eu, mas tem a idade mental de uma criança, chego lá elas me mostram bonecas e brinquedos. É muito legal.

AE: Você acreditava no Papai Noel quando era criança?

GR: Acreditava. Aos oito anos eu queria ver o tal do Papai Noel e levei um susto danado porque eu vi foi meu pai colocando os presentes na árvore e descobri que ele era o Papai Noel. Fiquei decepcionado. E eu chamei todos os meus irmãos (nós éramos uma família de sete filhos) e mostrei quem era o Papai Noel. Ficamos todos escondidos atrás de uma poltrona, fingimos que fomos dormir e ficamos esperando o Papai Noel. Quando meus irmãos viram que era nosso pai foi uma choradeira danada, e eu ainda acabei ficando de castigo.

Durante o natal a jornada de Gilson Reis no shopping começa às 10h e vai até às 21h. Apesar de trabalhar por muitas horas, ele diz que tendo saúde vai continuar trabalhando como Papai Noel. Lamenta que o espírito natalino tenha se transformado em consumismo, mas com seu trabalho semeia o verdadeiro sentido desta festa, que é o nascimento de Jesus Cristo e a solidariedade.