Um lugar, uma cultura, uma história

Por Ana Clara Oliveira

Uma oportunidade inesperada apareceu nessa última semana. Fiquei hospedada em um retiro espiritual, o Retiro do Universo em Desencanto, da Cultura Racional, em Nova Iguaçu – RJ. Um lugar lindo, cercado por natureza e pessoas sempre vestidas de branco. E eu, que nunca tinha ouvido falar em tal ideologia, caí de pára-quedas nesse universo e tive o prazer de entrevistar Dona Antônia Jimenez, 77 anos, que há mais de vinte anos vive lá.

Ana Clara: Onde a senhora nasceu?

Dona Antônia: Em Granada, na Espanha. Em 1962 vim para o Brasil com meu marido.

Ana Clara: Quando a senhora conheceu a Cultura? Como foi sua passagem para essa crença?

Dona Antônia: Conheci a Cultura em 1980, no livro encontrei muitas respostas que precisava. Minha crença no catolicismo foi muito importante, foi o meu caminho para chegar até aqui. Cada um teve um caminho, aqui tem até gente budista. Todas as crenças foram importantes, mas agora passou a fase delas, começou o terceiro milênio, a fase do raciocínio e temos que estar prontos para entender tudo que está acontecendo com a natureza nessa nova fase.

Ana Clara: E como sua família, sendo católicos espanhóis, reagiram quando a senhora falou da Cultura?

Dona Antônia: Levei os livros da Cultura para todos na Espanha. Minha mãe dizia para eu tomar cuidado com essas “seitas brasileiras”. Na Espanha o povo ainda é muito materialista, eles não estão prontos para entender a Cultura. Quando se fala em energia lá, só pensam na energia elétrica.

Ana Clara: O que é a Cultura Racional?

Dona Antônia: Não é uma religião. O objetivo dela é desenvolver a terceira parte do cérebro que é o raciocínio. O raciocínio ainda não está desenvolvido, o raciocínio não é perfeito. Agora, o raciocínio só pode ser desenvolvido por uma energia superior, tem que estudar um pouco a Cultura Racional para entender. O raciocínio é uma partícula da identidade de Deus. Nós somos a imagem e semelhança de Deus porque temos uma partícula dele aqui no cérebro. Tudo é feito de energia. Essa cultura é para a humanidade toda, não é para quem gostar, é um caminho que a gente tem a seguir no mundo. Todo mundo nasce com uma missão, só que nós somos educados para o artifício e não sabemos o que vai acontecer quando morrermos.

Ana Clara: E o que a senhora acha que acontece quando a gente morre?

Dona Antônia: A vida não acaba. Tudo se transforma. A gente morre e nasce de novo em outra vida, até que complete nossa missão nesse mundo. Depois que a gente completa nossa missão a gente sobe para o mundo racional. Todo mundo veio do mundo lá de cima e a gente tem que voltar um dia para lá.

Ana Clara: E a senhora acredita em Deus?

Dona Antônia: Eu acredito. Acreditava na religião católica e agora descobri outro valor superior. Na religião católica era um mistério: “porque Deus queria” “porque Deus queria” “porque Deus queria”, então eu descobri que não é assim não, tem muito mais coisa.

Ana Clara: Como surgiu a Cultura?

Dona Antônia: Surgiu do Centro Espírita, um senhor recebeu uma mensagem para escrever um livro para a salvação da humanidade. Ele recebia mensagens que eram gravadas em fitas e depois foram passadas para livros. Esse senhor se chama Manoel Jacinto Coelho. Quando mudei para cá ele era vivo, eu o conheci. Ele morreu em 1991. Ele transmitia uma tranquilidade, você sentia uma sensação de alegria, de paz, muito bom.

Ana Clara: Quantos livros compõem a Cultura Racional?

Dona Antônia: São muitos livros, a obra tem 21 volumes, mas tem os outros complementares. Eu já li todos. O s livros têm tradução em várias línguas, eu mesma que traduzi para o espanhol. São todos feitos a mão, para que a gente já receba sua energia ao fazê-lo. Eu já entreguei esse livro na mão do Rei da Espanha e na mão do Papa!

Ana Clara: E quando a senhora se mudou para o Retiro?

Dona Antônia: Eu já tinha vindo uma vez visitar, eu precisava conhecer Manoel, esse homem que respondia tantas das minhas perguntas em seus livros. Então em 1985 eu saí de São Paulo e vim para cá, com meu marido e três das minhas quatro filhas. Aqui eu sou como uma voluntária. Ajudo e colaboro com a comunidade, trabalho na gráfica onde são feitos os livros, todos os dias eu vou lá.

Sorridente do início ao fim, Dona Antônia me presenteou com o primeiro volume da obra de Manoel Jacinto Coelho, quando a entrevista terminou. Podia ter ficado o dia todo ouvindo histórias dessa senhora tão vivida e sobre essa cultura tão diferente de tudo que já conheci.