Camelô: de pai para filho

por Daiane Aparecida

ribeirão

Foto disponível em: www.jornalacidade.com.br

Quando você caminha pelo Calçadão, no centro de Ribeirão Preto, se depara, em meio à multidão, com diversos ambulantes, vendendo os mais diversos produtos. São os chamados camelôs. Apresento Carlos Monteiro da Silva, de 31 anos, que sustenta sua família nas calçadas da cidade.

Indo fazer compras na semana do natal, é que me deparo com Carlos. E algo me chama a atenção nele: o colorido e a variedade de coisas expostas em sua barraca e principalmente a felicidade notada em seu rosto, onde nota-se o prazer em realizar o seu trabalho. Peço-lhe então para fazer algumas perguntas, e com ele de acordo, começo o nosso diálogo.

Daiane Aparecida: Quando começou a ser camelô e por que decidiu por essa profissão?

Carlos Monteiro da Silva: Sempre sofri com a fome e a pobreza da minha família. Meu pai era camelô também, então comecei, ainda criança, a ajudar no sustento da casa indo trabalhar com meu pai. E continuo com isso até hoje e assim vou sustentando a minha família também.

DA: Sente vontade de mudar de profissão?

CM: Sentir eu até sinto, mas não tive estudos, oportunidades… Mas tenho orgulho do meu pai ter vivido a gente dessa forma, por isso gosto do trabalho. Prefiro ir ganhando meu dinheirinho assim, pelo menos.

DA: Que tipo de mercadoria você oferece às pessoas?

CM: Eu tenho de tudo, sabe? Bolsas, DVDs e CDs piratas, de todo tipo que você pensar… Brinquedos, bijuterias. O que o cliente precisar, eu ofereço.

DA: E essas mercadorias, como as consegue? Não tem medo da fiscalização?

CM: Então moça, temos nossos fornecedores. Só busco as mercadorias, o que eu precisar, eles têm. Ah, da polícia, sempre tenho… Se tem sinal deles chegando, a gente já vai recolhendo e correndo. Mas preciso ganhar meu dinheiro, não dá pra parar.

DA: Pode me contar como é o seu dia-a-dia?

CM: Acordo cedo, eu e minha mulher. Ela faz o café e me ajuda a preparar as coisas e às 8 horas já saio, pra chegar aqui assim que o Calçadão abre. Trabalho o dia inteiro, só paro para comer uma coisinha aqui mesmo, no Centro. Vou embora quando o calçadão fecha e quando chego em casa meu filho já chegou da escola, quero que ele estude, que tenha uma vida melhor que a minha. É nosso tempo juntos, gosto de aproveitar isso. Descanso no Domingo, ai dá pra ficar em casa vendo um futebol, né não?

Agradeço a Carlos e nos despedimos.

Após a essa entrevista, é notável o quanto julgamos algumas profissões, como atribuídas a pessoas que não querem estudar, que querem uma “vida fácil”. Será que é apenas uma escolha da pessoa ou são as condições que a vida lhe deu? Não acho que nenhuma vida seja realmente fácil, todos lutamos, cada um de uma forma, para um futuro melhor.