Carnaval em Ouro Preto: alegria, dinheiro e segurança

por Ana Amélia Maciel, Ana Elisa Siqueira, Nathália Viegas e Sarah Gonçalves

Marchinhas, fantasias, blocos de festa e diversão, assim começa o carnaval em várias cidades do Brasil. Uma das tradições mais valorizadas no país e por boa parte dos estrangeiros, o carnaval brasileiro além de ser fonte de felicidade para muitos é fonte de renda para outros que aproveitam a data para garantir o sustento do ano.

O famoso carnaval de Ouro Preto, Minas Gerais, acontece tanto na rua como nas repúblicas dos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). No centro histórico são montados vários palcos com shows gratuitos promovidos pela Prefeitura Municipal e pelas ruas saem os blocos. A maioria deles são organizados pelos estudantes.

O Bloco Mesclado é um exemplo. Ele começou em 1998 e é organizado por um grupo de estudantes. O Mesclado tem caráter cultural, promove o desfile pelas ruas históricas com bonecos do Zé Pereira dos Lacaios, atrações circenses e uma bateria comandada pelo Mestre Negão do bairro Padre Faria. Segundo a Diretora Cultural de Comunicação do bloco, Bárbara Andrade, o “Mescladão” “começou com um grupo de estudantes de algumas repúblicas, que queriam um rock legal, com um desfile legal pelas ruas de Ouro Preto, para fechar o carnaval com chave de ouro e músicas boas; o lema já diz o que o bloco sempre foi ‘Uga uga uga veeemm, vem pra lama vem!’ ’’. O bloco do Mesclado é uma organização sem fins lucrativos e é financiado pela venda dos abadás aos ouro-pretanos e aos turistas das repúblicas de apoio. Os organizadores e conselheiros são moradores dessas casas.

A folia nas Repúblicas

O carnaval republicano é uma das principais marcas da folia em Ouro Preto e uma das alternativas para os foliões que querem curtir a festa gastando pouco dinheiro. Há mais de 60 anos as republicas particulares e federais organizam a recepção de turistas nesse período com o objetivo de suprir os gastos da casa ao longo do ano.

Para organizarem uma folia cada vez melhor, as repúblicas começam a planejar o carnaval com pelo menos seis meses de antecedência. Elas oferecem aos seus hóspedes cinco dias de festa com bebida liberada, bandas, abadás de blocos, festas temáticas, segurança 24h e duas refeições ao dia. Nas repúblicas entrevistadas foram recebidos de 30 a 80 turistas este ano e os valores pagos pelos hóspedes ficam entre 600 a 900 reais. Para recebê-los, os moradores das repúblicas desmontam todos os móveis e se alojam em um único cômodo da casa. No caso da República Tabu os moradores se hospedaram, durante o carnaval deste ano, na República Rebu, que foi casa de apoio do CarnaTabu 2013, abrigando inclusive os seguranças do evento.

As repúblicas federais precisam preencher um requerimento relatando todo o planejamento do carnaval. Este documento tem de ser entregue à UFOP que o analisa e aprova. É exigido também uma prestação de contas que é feita anualmente e entregue ao órgão responsável em outubro.

Link para o site da  Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto – REFOP http://refop.com.br/

Investindo o dinheiro

A arrecadação é destinada à execução do carnaval e dos blocos. Se há algum lucro este é utilizado para compra de aparelhos eletro-eletrônicos para a casa e para reformas que visam a manutenção e melhoria das casas históricas, uma vez que a maioria das repúblicas encontram-se em casas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Com dinheiro do carnaval 2012 a República Federal Sinagoga fez uma escada que a

Créditos: Sarah Gonçalves

Créditos: Sarah Gonçalves

liga à República Reino de Baco, além de reformar a parte elétrica da casa. A República Sem Destino investiu todo o lucro do carnaval do ano passado no projeto contra incêndio, que consiste na disponibilização de extintores, cartazes com informações sobre como se portar em casos de incêndios e placas que indicam as possíveis saídas; já a República Tropicália utilizou o dinheiro para ajudar na mudança de casa e na pintura da moradia antiga. As repúblicas federais Poleiro dos Anjos, Rebu e Tabu revertem o dinheiro para melhorias e reformas internas como recuperação de fachada e consertos no telhado. Já as repúblicas Trem de Doido e Favinho de Mel investem em móveis e eletroeletrônicos para a casa.

Aqui é seguro

Créditos: Nathália Viegas

Para realizar um carnaval com excelência além da preocupação com banda e bebida para garantir os cinco dias de festa, as repúblicas têm que, obrigatoriamente, atender todas as exigências do projeto de segurança do Corpo de Bombeiros. Esse projeto exige que os moradores tenham equipamento de combate a incêndio e saídas de emergência.

Outros setores que também devem ser procurados são a Polícia Militar, a Defesa Civil e a Prefeitura Municipal. A PM, para estruturar um plano de segurança e a Defesa Civil, para vistorias do ambiente e realização de planos de segurança e de saída imediata das pessoas em caso de fogo ou distúrbio.

Como organizar uma festa com segurança

Conforme a legislação do Estado de Minas Gerais, todo evento onde haja a aglomeração de pessoas, deve possuir o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros – AVCB, documento que comprova que o local de realização possui condições seguras para abandono em caso de pânico, acesso fácil para os integrantes do Corpo de Bombeiros, além de equipamentos para combate a incêndio.

Para adquirir o documento, o organizador do evento precisa providenciar o Projeto de Evento Temporário (PET), elaborado por engenheiro legalmente habilitado, o qual, após aprovado pelo Corpo de Bombeiros, deve ser totalmente executado. Ao final da execução, deve ser solicitada a vistoria da Corporação. Sendo verificada a conformidade, o AVCB será emitido.