Um Catete de rua

A (in)segurança dos pedestres em Mariana

 

Por Amanda Sereno e Ana Clara Oliveira

Carros em todas as direções, calçadas estreitas, ausência de faixas e semáforos mal planejados. Essa é a realidade do pedestre em Mariana-MG. Ao pensar em uma cidade de pouco mais de 54 mil habitantes, as pessoas a relacionam à tranquilidade e a um menor volume de carros. Mariana, no entanto, se contrapõe a essa ideia, pois qualquer um que a conhece, nota a enorme quantidade de veículos, a falta de sinalização e o tráfego intenso nas principais avenidas. Nessa última semana conversamos com moradores e fomos atrás das autoridades para uma explicação e uma possível solução para esse descaso com o pedestre.

A Rua do Catete, por ser a principal entrada e saída da cidade, conta com um volume de carros ainda maior e, contraditoriamente, com grande deficiência estrutural e de sinalização. O fato de o Catete ser uma rua comercial, residencial, que liga o Centro à Rodoviária e ao principal supermercado, além da recente instalação de mais um Instituto da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) são fatores que contribuem para o agravamento dessa situação. “Eu acho que o semáforo só atrapalhou, porque ele não está bem na entrada do ICSA (Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas), fora que ele aumentou muito mais o engarrafamento. Então tá ruim tanto para os pedestres, quanto para os motoristas. Não foi bom para ninguém”, afirma o estudante do Jornalismo da UFOP, Lucas Machado, sobre a recente tentativa de melhorar o trânsito no Catete, a instalação de um semáforo.

ponte

ponte em frente ao ICSAfoto: Amanda Sereno

Há, também, o conflito entre a preservação do patrimônio histórico e o bem-estar do cidadão. A ponte localizada no final da Rua do Catete contribui drasticamente para a dificuldade no fluxo de carros e pedestres. Caminhões e ônibus têm a altura maior que a permitida para passar embaixo da ponte, e os pedestre se arriscam ao atravessar simultaneamente pela estreita passagem que há ali embaixo. “Você fica naquela: vou, não vou, vou, não vou? Aí você vai e tem um carro passando do seu lado. É totalmente inseguro, ilógico”, reclama a analista de suprimentos, Cristiany Januário, que por muito tempo morou em Belo Horizonte e afirma que é mais difícil dirigir aqui do que na capital mineira.

Ao longo de toda a Rua há dois semáforos, sendo que somente um deles tem faixa de pedestres, porém são apenas três segundos reservados para a travessia das pessoas. O descaso é evidente, o semáforo recém instalado próximo à entrada do ICSA foi mal planejado. Além de não ter faixa, beneficiou somente o trânsito de veículos, dificultando a travessia dos pedestres que, quando finalmente conseguem chegar ao outro lado, deparam-se com um degrau de aproximadamente meio metro.

Com tudo isso, o cidadão tem que contar com a boa vontade e educação dos condutores, que é quase inexistente. Para o marianense Geraldo Paulo da Silva, é necessário uma reeducação dos motoristas no trânsito. O ideal seria uma reestruturação, porém o respeito por parte de quem dirige já ajudaria e é indispensável, independente da situação.

 

degrau que há em frente ao ICSA

degrau em frente ao ICSAfoto: Amanda Sereno

Cadê as autoridades?

Por Tamara Pinho

Através do site da prefeitura de Mariana é possível ver que existe na cidade uma secretaria de trânsito e transporte. No site existe a informação de que tal secretaria é composta pelo Departamento Municipal de Trânsito (Demutran) e pelo Departamento da Garagem Municipal, tendo como secretario Geraldo Magela de Oliveira.

Ao entrar em contato, por telefone, em busca de uma entrevista foi informado de que o secretário não fica mais na secretaria e sim na garagem municipal, com outras funções. A alternativa foi ir pessoalmente ao Demutran, que segundo um dos guardas-municipais era onde poderia encontrar algumas respostas, como o porquê de o semáforo em frente ao ICSA ser apenas para os veículos, o que faz com que os pedestres que circulam no local tenham que se arriscar atravessando a rua entre um sinal vermelho e outro.

No Departamento de Trânsito, um funcionário, também de nome Geraldo, ao ser questionado sobre o número médio de acidentes na região da rua do Catete, a falta de faixa de pedestres, e o semáforo que não tem “tempo para os pedestres”, desconversou e disse que não poderia informar os índices de acidentes uma vez que a secretaria de trânsito de Mariana está passando por uma reestruturação e que somente a partir deste ano a Guarda Municipal fará o controle do número de acidentes com pedestres na cidade. Sobre a faixa para pedestres e o semáforo o funcionário disse não poder informar nada e o melhor seria procurar o chefe de trânsito da Guarda Municipal, José Luiz, no Terminal Turístico de Mariana.

Durante duas semanas consecutivas, José Luiz não foi encontrado em seu local de trabalho. As perguntas continuam sem respostas, a situação sem ser esclarecida e os pedestres, mais uma vez, são esquecidos.

Com a palavra, a vítima

Por Brunello Amorim

Eu estava atravessando naquela avenida em frente ao ICSA, então veio uma moto e me pegou. A moto veio da parte debaixo da ponte”. Este é o relato de Gabriel Machado (25), que no final de 2011 foi atropelado enquanto atravessava a confusa rua do Catete. Por sorte, no acidente, Gabriel não sofreu ferimentos graves.

Na época do acidente, não havia faixa de pedestres, nem o semáforo. Mais de um ano depois, nenhuma medida tomada assegurou integralmente a tranquilidade dos pedestres que atravessam a rua do Catete. Os responsáveis ainda se esquivam, empurrando a culpa de um para o outro.

Falando de seu acidente, Gabriel afirma que a culpa maior foi da prefeitura de Mariana: “uma região como aquela não pode ficar sem semáforo e nem faixa de pedestre”. A resolução do problema parece ser óbvia pra todos que correm risco na região. Será que só os responsáveis ainda não sabem? 

Para saber mais sobre os problemas de trânsito em torno da rua do Catete, acesse a edição online do Jornal Lampião