O Marionetista

Por Alessandra Alves, Bruno Arita, Charles Santos, José Aprígio

Minas Gerais como um todo respira cultura. E na cidade de Mariana não é diferente. Com aproximadamente 60 mil habitantes, desde de 2005, uma companhia de teatro de bonecos chamada Companhia Navegante (fundada em 1994) leva ao país e ao mundo todo a arte de confeccionar e manipular marionetes.

Catin Nardi (Foto: Cia. Navegante)

Catin Nardi (Foto: Cia. Navegante)

O responsável pela criação da companhia é o marionetista Catin Nardi, 46 anos, argentino, da província de Santa Fé e que desde criança sonhava em morar no Brasil. Foi aí que em 1990 o artista resolveu vir ao Brasil e morou inicialmente no Espírito Santo. Acumulou diversos trabalhos pelo país e pelo mundo. Dentre eles, os da rede de televisão Globo ganham destaque (ver vídeo abaixo).

A história de Catin com os bonecos começou no seu país e por influencia de seus pais que exerciam funções que utilizavam de muita habilidade manual. Seu pai era da área da telefonia e um apaixonado por ferramentas, e sua mãe confeiteira. Além disso, ele foi protético (profissional que faz próteses dentárias) durante alguns anos, o que acabou desenvolvendo ainda mais sua destreza em confeccionar os bonecos, porém a impossibilidade de manter as duas profissões o fez optar por aquilo que mais gostava: a arte.

Sobre como construir um boneco de madeira, levando em conta a maquinaria que possui e a experiência, o artista leva cerca de três a quatro dias para montar um. Para vestir a marionete, mais dois ou três dias. Segundo Catin, uma pessoa sem muita experiência, levaria em torno de 20 a 30 dias finalizar esse trabalho.

Catin no Video Show

Catin, um homem do mundo

Com uma bagagem de mais de mil shows pelo Brasil e vasta experiência na área fizeram com que o artista fundasse a “Companhia Navegante” em 1994. Localizada atualmente em Mariana-MG, ela nasceu com o intuito de desenvolver um projeto social no qual as pessoas aprendessem a construir bonecos. Por ser uma arte rara e incomum, a dificuldade é grande, pois não há uma ajuda financeira substancial . Mesmo assim, ainda existe um projeto para viabilizar tal empreitada, esta que não é a primeira (houve outras que não deram certo pela dificuldade financeira de mantê-las).

Foi criado também o bloco de carnaval chamado de “Bloconeco”. A ideia surgiu como uma forma de interação com a sociedade. A dúvida era sobre como a população se identificaria com a Companhia. Zé Pereira, figura tradicional na cidade foi um dos enfoques de Catin, porém o artista queria fazer algo que não copiasse e, sim, tivesse uma imagem própria. Assim, desenvolveu bonecos que pudessem mover os braços por controle de cordas do manipulador que estiver dentro dele. No bloco, as famosas marchinhas de carnaval ficam de lado e cedem lugar ao Rock n’ Roll, que segundo o artista, é o seu estilo favorito.

Catin afirma que uma das principais fontes de renda da Cia. são os espetáculos. Eles estão distribuídos por Argentina, Itália e Brasil. O destaque fica para a Itália, onde o público é “encantador”, segundo o artista. Assim, a Companhia vive de espetáculos, o que dificulta o caminhar dos projetos, porém, o artista não desiste. O artista, já mostrou seu trabalho na televisão. Um deles foi a abertura do seriado “Hoje é dia de Maria”, em 2005. Outro trabalho foi a também abertura da novela “Filhas da Mãe”, em 2001. Recentemente, sua Companhia apareceu no programa da TV Globo de Regina Casé, “Esquenta”, porém o marionetista não pode comparecer pelo falecimento de seu pai.

Há uma vontade muito grande do criador de marionetes de passar o seu legado a frente. Por isso, está estudando na Escola de Artes Cênicas. A busca pelo mundo universitário/acadêmico é uma forma de criar vínculos mais sólidos na sua área, como a institucionalização dessa arte.

O desejo é de não deixar as marionetes como apenas uma parte da cultura nacional e sim dela fazer parte do mundo acadêmico, de ser desenvolvida.

Questionado sobre a parte cultural de sua vida, Catin alegou que não se sente nem brasileiro, nem argentino. Passou metade de sua vida em cada um dos países e até brincou espelhando sua vida em uma música da banda brasileira “Titãs” chamada “Lugar Nenhum”. Para o artista, a tendência mundial é de as pessoas cada vez mais se misturarem ao ponto de chegar em uma população de uma cor apenas, uma raça, sem diferenças.

Endereço da Cia. Navegante: Rua do Seminário, 290, Centro – Mariana-MG

Álbum de fotos