Convivendo com o câncer que mais atinge os brasileiros

Por Pamela Moraes

Renilson Ribeiro da Silva, 46 anos, mestre de obras até julho de 2012 onde descobriu que estava com adenocarcinoma pulmonar (câncer no pulmão). Morador da cidade de Serra Negra, interior de São Paulo, há trinta anos, Renilson deixou seus familiares em Paripiranga, Bahia, para construir uma nova vida. Com as obras paradas, dedica seu tempo a quimioterapias no hospital e sessões de oxigênio em casa. Casado e pai de dois filhos, ambos maiores de idade, ele conta como está sendo sobreviver a este drama.

Pâmela: Como descobriu a doença?

Renilson: Eu estava trabalhando, ao fazer um movimento mais brusco senti uma dor forte no centro da cabeça, sentei e comecei a sentir falta de ar. Um de meus funcionários estava perto e me levou para o hospital. Como tive problemas cardiovasculares há seis anos achei que o problema fosse no coração. Fiz um exame eletrocardiograma e o médico disse que não era nada. Tomei um analgésico e fui repousar em minha casa. Mal entrei pela porta da sala e já senti um enjoo. Fui levado outra vez ao hospital, dessa vez pela minha filha. Novamente medicado, dessa vez mediram minha pressão, que estava abaixo do normal. O mesmo médico que me atendeu anteriormente pediu para que eu fizesse outros exames. Com os exames em mãos levei ao doutor, estava constatado que estava com câncer no pulmão, o câncer havia preenchido 80% do meu pulmão.

Pâmela: Após descobrir a  doença que providências foram tomadas?

Renilson: Como o hospital não oferecia condições necessárias para a minha hospitalização, fui encaminhado ao centro médico da UNICAMP (Universidade de Campinas). Assim que cheguei lá, fui encubado e fiquei tomando soro. No outro dia me disseram que eu estava preparado para novos exames. Tenho três marcas de furos na costela, foi por esses furos que os exames foram feitos, foi retirado um litro de água do meu pulmão, como eu poderia sofrer uma parada cardíaca a qualquer momento, a maioria dos exames foram feitos sem eu ser sedado. Sofri muito com as dores. Após três dias consecutivos de exames fui novamente encubado. Respirava através de um oxigênio colocado dentro da incubadora. Durante dez dias me alimentava através de sonda. Após os resultados dos exames o médico que me acompanhava me deu três dias de vida. O tumor havia se espalhado para o outro pulmão.

Pâmela: Ao receber a noticia de que lhe restavam três dias de vida, qual foi a sua reação?

Renilson: Eu não recebi a notícia, na verdade eu a escutei. Eu estava encubado, como havia uma sonda em minha garganta eu não falava, só ouvia, e para mim era muito triste ouvir e não poder responder nada, reagia com olhares. Como eu estava muito fraco, era um grande esforço ficar com os olhos abertos, mantive-os fechados em todo momento que eles estavam no quarto. Acharam que eu estava dormindo, quando o médico chegou com o resultado do exame meus familiares pediram que ele falasse naquele instante. Não contive as lágrimas, logo meus familiares perceberam que eu estava acordado. Conversaram comigo e me disseram que iriam procurar informações de outros médicos. Mantive-me forte graças à força que meus familiares, principalmente a minha esposa, me passavam. Recebi a visita de um padre, ele com a sua fé me confortou. Passaram-se os três dias e eu me recuperei para a surpresa do médico. Eis que meus familiares receberam informações de mais dois médicos, ambos não me deram mais que dois meses de vida. Só fiquei sabendo disso há um mês, quando passou cinco meses após a descoberta do câncer.

Pâmela: Quanto tempo o senhor ficou hospitalizado? E o que ocorreu durante esse período?

Renilson: Fiquei internado durante dois meses. Foram os piores meses da minha vida. Achava que iria morrer toda vez que eu ia dormir, quando acordava era um alívio. Sofri duas paradas cardíacas enquanto estava encubado, uma seguida da outra, para o espanto dos médicos que me socorreram, eu sobrevivi. Recebia visitas todos os dias, minha esposa dedicou-se somente a mim nesse tempo, ela dormia em uma cama ao lado da minha. Ela me dava forças, pedia para que eu não desistisse, pois muitas vezes eu disse a ela que preferia a morte a ter que passar mais tempo naquele hospital. Os dias foram passando, fiz novos exames, o tratamento ficou mais extenso. Fiz a minha primeira quimioterapia, num total de sete até o momento, após sair da sala onde a mesma estava sendo realizada senti fortes enjoos e eles se prolongaram por seis dias. A pior parte do tratamento é a quimioterapia, é muito forte, você descarrega muitas energias, sente dores no corpo o tempo todo. Achava que não chegaria a terceira sessão. Sai do hospital com o câncer atingindo 25% do meu pulmão e continuei o tratamento em casa.

Pâmela: Após seis meses, como está seu tratamento? E quais são suas perspectivas e planos para esse ano que se inicia?

Renilson: Agora estou bem melhor. Iniciei a sessão de quimioterapia, agora para os ossos, pois ainda há resquícios do câncer neles. Faço diariamente o uso do oxigênio. Não voltei ao trabalho, pois estou esperando os resultados dos exames. Quero continuar a minha vida, sei que agora terei restrições, mas acredito que nada nessa vida é por acaso. Fico muito mais tempo com a minha família, e vejo o quanto essa união nos fortaleceu. Quero voltar com a minha rotina, continuar com meu trabalho. O ano que terminou foi de grande superação para mim, 2013 é o ano da saúde, é o que eu desejo para mim e para todos.

Renilson finalizou a entrevista agradecendo por poder contar a sua história. Nos deixa a mensagem de incentivo, a “nunca desistirmos de nossos objetivos, por maior que sejam os obstáculos, a vida dá golpes, mas ela recompensa no final”.