De uma graduação a outra profissão

Por Inaê Martins Costa

Priscila de Figueiredo Aqueno hoje trabalha como Chefe da Divisão de Educação do Ministério da Saúde, e é exemplo de como circunstâncias e acontecimentos podem mudar um rumo profissional. Ela passou por empresas como a Polícia Federal, ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), Asnabe (Associação Nacional dos Empregados da Conab) e Sebrae (Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas). Priscila, 32, nascida e crescida em Brasília, Distrito Federal, onde tal situação é comum, é da turma do segundo semestre de 1998 de Comunicação Social/Jornalismo do Centro Universitário de Brasília (CEUB), formou-se em 2003 por conta de sua gravidez no penúltimo semestre do curso. Na entrevista aqui apresentada fala um pouco sobre sua trajetória profissional e o que a encaminhou ao seu atual emprego.

Inaê: No CEUB, você teve incentivos e propostas de estágio no Jornalismo, ou não havia esse contato? Como se deu essa sua trajetória em tantas empresas?

Priscila: Olha, no CEUB, a partir do terceiro semestre que eu fui trabalhar, e eu queria trabalhar em qualquer coisa, mesmo que não fosse na minha área, queria ter meu dinheiro. Então eu fui trabalhar na Polícia Federal como terceirizada na área administrativa, fiquei lá por seis meses… Depois eu queria mais assim voltado pra minha área, falei: “Ai gente nada a ver ficar aqui e tal…” mas ai eu consegui outro emprego um pouco melhor só que ainda não era na área de jornalismo. Esse era emprego mesmo, carteira assinada, mas ganhava muito pouco, que foi como operadora de telemarketing na ANEEL. Fiquei lá um pouquinho, acho que uns quatro meses. E ai quando eu tava na ANEEL, comecei a ver estágio, eu já tava no quarto semestre e fica mais fácil de conseguir estágio na área, né? Depois eu fui pra Asnab, fazia o jornal interno impresso e alguns textos. Fiquei um tempinho, mas eu vi que a minha orientadora do estágio me usava muito como “faz tudo”, entregava jornal, digitava os textos dela e eu produzia muito pouco. Ai acabou que eu fui pro Sebrae do Distrito Federal, foi bem legal, o estágio lá era 6 horas, eu trabalhava na área de comunicação social mesmo e desenvolvia ações, escrevia  textos pra página da internet e pro rádio da Sebrae, porque que a minha coordenadora  fazia algumas propagandas do Sebrae, e fazia ao vivo, não lembro a rádio que era, mas era uma rádio FM e algumas divulgações internas… Comecei a praticar mais a comunicação (mesmo que interna), a escrever.

I: Nesse momento, você estava indo para o lado do Jornalismo, como você mesmo disse, produzindo, escrevendo. O que aconteceu pra você ingressar nesse outro rumo profissional?

P: Não era bem o que eu pensava pra mim não. Eu entrei na faculdade querendo trabalhar em rádio ou televisão, muito mais televisão, acho que é aquela coisa do glamour, né? Eu pensava muito nisso: “Ai eu quero ser jornalista de televisão…”. E ai depois eu comecei a gostar do rádio também, acho que foi a partir do quinto semestre, eu não lembro exatamente quando a gente começou a ver alguma coisa de rádio. Só que acabou que eu nunca busquei fazer estágio nessas áreas, acho que foi uma falha minha, foram aparecendo em outras áreas e muito voltados pra serviço público e comunicação interna e eu acabei descobrindo isso, coisa que eu nunca queria, antigamente… Pra falar verdade eu nunca quis ser Servidora Pública, e minha mãe sempre falava: “Você tem que fazer concurso…”, e eu: “Não, num quero, nada a ver…”. E acabou que tudo ia me levando pra esse lado do serviço público.

Ai tive que sair do Sebrae por conta de doença do meu pai, tive que está mais tempo com ele. Então veio a oportunidade no Ministério da Saúde. Na época ainda era estágio, 2001, eu já estava no sétimo semestre de comunicação e vim pro Ministério fiz uma entrevista pra trabalhar na Intranet de uma área específica do Ministério, a Subsecretaria de Assuntos Administrativos, gostei bastante da proposta e fiquei trabalhando como estagiária de jornalismo, e eu fazia o clipping diário. Eu fui ficando… Fiquei, acho que o pessoal foi gostando de mim, do meu trabalho. E então eu engravidei e num tinha terminado a faculdade ainda, ai aqui acabou meu estágio, eu já não tinha como renovar porque havia acabado também o CEUB. Foi quando eu recebi a proposta de continuar como terceirizada aqui no Ministério, mas ai já mudou um pouco meu trabalho, já não era tão voltada pra área de jornalismo, era mais de assessoria, na área administrativa. De lá pra cá, eu passei por vários vínculos, depois de um tempo eu passei a ser DAS (Diretora de Assessoria Superior), que é uma gratificação, e depois eu passei em um concurso do Ministério da Saúde. Eu fiz o concurso porque hoje, como servidora, tenho uma certa segurança e estabilidade.

I: E na função que exerce hoje, você consegue encaixar alguma coisa relacionada com a Comunicação Social?

P: Eu sempre busquei fazer uma coisinha na área, uma articulação com o pessoal da assessoria de comunicação interna, quando tem algum curso ou alguma palestra de comunicação eu vou, tento me atualizar, não quero abandonar totalmente, eu busco sempre um contato com jornalistas pra divulgar nossas ações, faço uma minuta de texto e já mando pra eles, eu gosto muito da minha área, não perdi o vínculo. No meu setor aqui no Ministério, organizamos muitos eventos, exposições, ações e cursos de capacitação, então a gente tá sempre em contato com a comunicação do Ministério.

I: Por mais que você não tenha atuado na área de graduação, você hoje se sente satisfeita com o seu trabalho? E você acha que ainda falta alguma coisa…?

P: É eu me sinto sim, por mais que a gente não faça aquilo que sonhou em fazer a vida toda, que queria mesmo, acho que tem que buscar alguma satisfação, alguma coisa que motive a gente, e eu procuro fazer o melhor, estou sempre buscando desafios e não sei, gostaria de um dia voltar a praticar o jornalismo, e dessa vez eu queria tentar o rádio, que foi até um dos meus trabalhos finais do CEUB, gosto bastante.

Algumas vezes eu tento concursos no serviço público na minha área, mas são pouquíssimas vagas pra jornalista. E pra isso você tem que está praticando, isso eu vi nesses últimos concursos que eu fiz, eu disse: “Gente, tem 10 anos que eu me formei, e nunca mais atuei na área, assim diariamente, eu já perdi muito do conteúdo, dos termos” então pra mim é difícil, fazer prova de jornalismo.

Mas mesmo assim acho que todo mundo tem que saber se comunicar bem, escrever bem, falar bem, e acho que isso independe da sua formação, se você é jornalista ou não. E eu sou muito nova, ainda posso voltar pra minha área.

Esse caso de Priscila é exemplo de uma mudança na área de atuação profissional por motivos pessoais e de responsabilidade com a família. No entanto, ela continua tentando não abandonar o que sempre quis para sua vida e mesmo assim é uma pessoa sorridente e cativante, querida em seu local de trabalho.