Jogadora da Seleção Brasileira Sub-20 troca agitação carioca pela tranquilidade do interior mineiro

por Elis Gonçalves |

Lilian (primeira da direita para esquera). Foto: Arquivo pessoal.

Lilian (primeira da direita para esquera). Foto: Arquivo pessoal.

Lilian Câmara de Souza, jogadora da Seleção Brasileira Sub20, em visita à cidade de Porto Firme, Zona da Mata mineira, onde passou o natal com seus familiares, nos falou um pouco de sua vida profissional; como iniciou a carreira, a participação da família na escolha da profissão, e de como encara as dificuldades e preconceitos que aparecem pelo caminho. Lilian mora no Recreio dos Bandeirantes-RJ, tem 19 anos, é estudante de Educação Física da Faculdade Castelo Branco no Rio de Janeiro e, atualmente, atleta do Botafogo.

Elis Gonçalves- Lilian, como e quando começou seu interesse pelo futebol?

Lilian Souza – Começou através de meu pai jogando num campo de areia, aí ele chamou a mim e a minha irmã para jogar futebol, só que nessa época eu não sabia chutar na bola, aí ele me ensinou como eu chutava na bola, cabeceava, e foi a partir desse momento que eu fui para a escolinha de futebol do Memere e fui seguir na minha carreira de futebol.

EG – Atualmente você está no Botafogo, em que outros times você jogou e o que você traz de experiências dessas outras equipes?

LS – Já joguei no Vasco, no Bangu, já passei pelo América, Duque de Caxias, CEP, e trago o convívio social entre as meninas no alojamento, o convívio dentro de campo, de como você deve lidar com uma jogadora que talvez você não se dá bem com ela e aprender tudo de bom que há nela e ensinar para ela tudo que o futebol trás de bom para nós.

EG – Quais os campeonatos mais importantes que você participou por essas equipes?

LS – Campeonato Carioca, pelo Campo Grande Atlético Clube do RJ, Seleção Brasileira que foi em Trinidad-Tobago, Sub-17, em São Paulo pela Seleção- também Sub-17, nos EUA pela Seleção Sub-20, Campeonato Sergipano que foi em Fortaleza e o Campeonato Carioca que foi no Rio de Janeiro pela Sub-17.

EG– Você é estudante de Educação Física. Como é conciliar os estudos com o futebol? Como você administra esse tempo?

LS – É meio difícil porque estudo de manhã e treino a tarde, aí não tem muito tempo de estudar ou às vezes tem que dar a maior ênfase ao futebol porque tem campeonato final de semana e não tem como estudar, aí procuro prestar atenção na aula, lá na hora que a professora dá para fazer a prova.

EG – Existe alguma possibilidade de troca de experiência do futebol para seu curso o e do curso para o futebol?

LS – Com certeza, levo a disciplina que aprende muito no futebol porque tem que saber respeitar as pessoas que está convivendo e também, e no caso da Faculdade aprendo os esportes que tem, que eles dão ali, como natação também e no futebol e aprendo as técnicas.

EG – Sobre a Seleção Brasileira, como é representar o Brasil com esse peso todo que o pais tem de ser o “país do futebol”?

LS – É uma emoção muito grande né, representar o país do futebol, é uma alegria imensa a possibilidade de poder jogar ao lado da Marta que é a melhor jogadora do mundo e que é brasileira. É uma felicidade muito imensa.

EG – Quando você começou a jogar futebol você já vislumbrava a Seleção Brasileira?

LS – Eu sempre achava que a Seleção Brasileira era uma consequência, mas que nunca ia acontecer tão rápido em minha vida como aconteceu, mas graças a Deus aconteceu tudo certo e hoje eu estou na Seleção.

EG – Lilian, e preconceitos, você já enfrentou preconceitos na Seleção ou mesmo ao longo da carreira de jogadora, visto que a mulher é muito discriminada principalmente pelo futebol ser um esporte masculino? Como é essa questão?

LS – Ah, com certeza, isso todas as meninas que jogam futebol já passaram, mas o importante é que nunca passei na minha família, meu pai sempre me deu apoio, minha família e isso é que foi mais importante, mas preconceito sempre tem.

EG – Sabemos que existem dificuldades em todas as profissões, no futebol não é diferente. Que obstáculos você enfrentou até chegar à Seleção e como você superou esses obstáculos?

LS – Ah muitos obstáculos e obstáculos que passei mesmo com meus pais com separação, mas depois voltaram, com minha irmã, meu tio faleceu, mas isso aí a gente tem que conciliar pelo fato de você querer ser melhor, querer arrumar um objetivo na sua vida.

EG – Apesar de não ser portofirmense, você tem raízes aqui em Porto Firme. Como que é essa ligação com a cidade?

LS – É muito boa porque tenho muitos parentes aqui, meus tios, meus avós estão todos e venho aqui quando eu posso, em julho quando tenho férias do futebol e até mesmo agora no Natal.

Foi um grande presente essa entrevista com a Lilian, pois além de uma oportunidade única foi uma grande coincidência encontrá-la em Porto Firme. Mais do que isso foi, para mim, um grande acontecimento cheio de ansiedade, insegurança e descontração. É o que conto na matéria a seguir.

BASTIDORES

Presente de Natal, por Elis Gonçalves

A essa altura do campeonato adivinha quem aparece pra mim? Papai Noel!!!!! Claro que sim!!!

Só pode ser presente de Papai Noel a entrevista que conseguí em pleno 25 de dezembro de 2012.

Eu estava em minha cidade natal, Porto Firme – zona da mata mineira, preocupada com o trabalho que teria que fazer para a disciplina Técnica de reportagem e Entrevista do curso de Jornalismo da UFOP. Era quarta-feira, dia 25 de dezembro, 15h e fazia muito calor. Estava na varanda da casa de minha mãe com meus pais e irmão jogando conversa fora depois de um apetitoso e calórico almoço de natal, quando recebemos a visita do Antônio Souza, vulgo, Toninho Canuto. Toninho é filho de compadres de meus pais e foi criado com meus irmãos mais velhos. Passaram a infância aprontando todas na casa de meus avós. Quantas travessuras e castigos eles têm em seu currículos! Pois bem, após os votos de feliz natal e as novidades serem colocadas em dia, afinal só nos encontramos nessas datas, perguntei a ele sobre a “Aline”. Ele então me perguntou quem era Aline. E eu, toda sem graça, respondi: – Sua filha, que joga futebol? (Não sei por que sempre a chamo de Aline) Aos risos ele me corrigiu e disse que ela se chama Lilian. Me desculpei e ele é claro que respondeu que ela estava bem e agora melhor ainda, pois estava jogando no clube que ele ama: Botafogo, na Seleção Brasileira sub-20 e está cursando Educação Física no Rio de Janeiro.

Foi nesse momento que percebi que Papai Noel existe! Que ótimo ela estar na Seleção! Disse bastante entusiasmada. E como ela está? Perguntei já pensando em meu trabalho de entrevista. Ótima – respondeu ele – e aqui em Porto Firme. Aí não hesitei, perguntei logo se ela me concederia uma entrevista para um trabalho universitário. Ele respondeu afirmativamente e eu, para garanti, pedi que ele ligasse para ela para confirmar, pois não queria correr o risco de um não ao vivo. Ele me tranquilizou dizendo que não precisa me preocupar, que ela não me negaria a entrevista. Nesse momento um tio, que estava presente, o convidou para uma visita a um conhecido. Ele aceitou, mas antes de sair, confirmou a entrevista para quando voltasse. Tudo combinado faltava apenas as perguntas que eu faria à entrevistada. Meu Deus!! E agora? Apesar de gostar de futebol e, principalmente de Seleção Brasileira, o que perguntar? Menina nova, 19 anos apenas, estudante de Educação Física, jogadora profissional de futebol, com sonhos e grande perspectiva de projeções no futebol nacional e, quem sabe, internacional. Mas encarei. Pensei em perguntas simples, coisas de início de profissão, relacionadas à decisão da escolha do futebol, às dificuldades e obstáculos enfrentados.

Meus irmãos, que estavam comigo durante a elaboração das perguntas, me fizeram viver momentos de medos, insegurança e até raiva. Faziam uma espécie de terrorismo: Você acha mesmo que o Toninho vai passar aqui? Ele só quis ser simpático. Acho que ele não volta e você vai se frustrar com essa entrevista que não vai acontecer.

Terminei as perguntas, apenas 10, mas acredito o suficiente para uma primeira entrevista. Agora era só aguardar e ir ao encontro da Lilian. E…que demora, já começava a acreditar nas suposições de meus irmãos e a sentir uma pontinha de decepção, afinal seria minha primeira entrevista com alguém de projeção no futebol feminino brasileiro. E o tempo passava…

Enfim, às 19h chega o Toninho. Entra rapidinho na casa de meus pais e se despede de todos, inclusive de mim. Hã? Como assim? Você está se despedindo de mim? Esqueceu-se do compromisso que firmou comigo? Ele se desculpou dizendo que havia esquecido mesmo, mas por ter demorado mais que o previsto no sítio. Saímos então ao encontro da Lilian.

Ao chegarmos onde ela estava, pedi ao Toninho que conversasse com ela antes de nos apresentar. Aguardei do lado de fora da casa e minutos depois os dois chegaram à porta me convidando para entrar. Após sermos apresentadas, expliquei o objetivo da entrevista, enfatizando a presença dela em Porto Firme como um acontecimento para a cidade, e em seguida apresentei as perguntas que ela se dispôs a responder.

 Os momentos de entrevista seguiram-se de maneira tranquila e descontraída, apesar de todo meu nervosismo de primeira viagem, a objetividade dela em suas respostas de certa forma me tranquilizou.

SAM_0182

Foto: Maria Saraiva

Lilian me falou um pouco de sua vida, da importância da participação e do apoio incondicional que sempre recebe da família na escolha da profissão e na caminhada em busca de reconhecimento. Falou das dificuldades e preconceitos que enfrentou e ainda enfrenta, mas segundo ela, encara com naturalidade, pois sabe que não é só ela que enfrenta isso, mas vê como privilégio a presença da família, sabendo que muitos não vão a diante por não tê-lo.

Falou sobre as equipes nas quais jogou: Flamengo, Bangu, Vasco, entre outras e de suas conquistas com essas equipes. Além dos campeonatos que participou pela Seleção Sub-17 e Seleção Sub-20.

304672_10151084879758197_1798780690_n

Fonte: Arquivo pessoal – Bangu

60773_365355900227412_730803835_n

Fonte: Arquivo pessoal – Vasco

558594_214706568634356_1709801661_n

Fonte: Arquivo pessoal – Flamengo

Sobre a sua preparação acadêmica, contou das dificuldades em conciliar treinos e aulas e das estratégias que utiliza para driblar tais dificuldades e conseguir levar os dois adiante. Relacionou as experiências que consegue levar tanto da faculdade para o campo como do campo para a faculdade.

Para finalizar, falou um pouco de suas raízes em Porto Firme e com que frequência ela vai à cidade. Segundo ela, seus avós e tios moram lá e sempre que pode ela gosta se reunir com esses familiares.

578412_172695306200362_714455210_n

Foto:SmaylyPorto Firme/MG

Foi uma experiência maravilhosa a de entrevistar a Lilian. Uma atleta nova, que tem perspectivas de grandes vitorias e muito talento pela frente, porém não abre mão de sua família nem do contato com suas raízes.