Cultura, economia e futebol: ”valores” de uma Copa do Mundo

Um Mundial construído por quem veio buscar mais do que futebol

A Copa do Mundo é sempre um evento muito esperado por todos, e não só pelos fanáticos por futebol. De quatro em quatro anos, ela arrasta multidões até o país sede do espetáculo, trazendo amantes desse esporte e suas bagagens, de todos os tipos, significados e intenções. O evento que mexe diretamente com a economia do país, tem impactos notáveis na circulação de moedas. Na África do Sul, em 2010, foram gastos em média R$ 18 bilhões, segundo dados oficiais. Para esse ano, de acordo com Luis Fernandes, secretário-executivo do Ministério dos Esportes e coordenador do grupo executivo da Copa do Mundo (GECOPA), o investimento girou em torno de R$ 28 bilhões.

Já diria o antropólogo Édison Gastaldo, ”O futebol não é culturalmente importante porque rende dinheiro, mas que rende dinheiro por causa de sua importância na cultura”. No entanto, quem visita o país nessa época com a intenção de assistir aos jogos, também pensa no bolso e faz de tudo pra economizar. Há um mês, o colombiano e jornalista independente, David de Plaza, 28, saía de Medellín, cidade onde reside e que fica há aproximadamente 446 KM da capital Bogotá, para desembarcar em Manaus, permanecendo no Brasil desde então.

O Sul-americano escolheu o país como destino em virtude da realização do torneio internacional, e julgou como positiva a preparação brasileira para o evento. Após conhecer o norte do país, dessa vez David se encanta pelas ladeiras e patrimônios históricos de Ouro Preto, Minas Gerais. A razão em optar pela tranquilidade do interior mineiro, ao invés de permanecer na cidade sede de Belo Horizonte, se baseia  no conselho de uma amizade italiana feita na capital amazonense.

Durante o passeio pelos arredores da Praça Tiradentes e a visita ao Museu de Mineralogia da Escola de Minas, pertencente à Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o colombiano manisfestou um ponto de vista equilibrado em relação às expectativas depositadas fora das quatro linhas: “Não quero ver minha estadia aqui somente pelo futebol, porque ele é o que menos me importa. Não sei se o Brasil é o que mostra aqui ou se é outra coisa que não se mostra pelo Mundial e isso não me agrada. O que quero é conhecer coisas verdadeiras”, afirmou, deixando de lado a discussão sobre a qualidade do investimento feito para a Copa.

 

David de Plaza, criador da Fan Page Visit Medellin no Facebook, onde compartilha, entre outros assuntos, sua experiência no Brasil. Foto: Thamiris Prado.

Assim como todo evento de grande porte, o Mundial da FIFA de 2014 gera expectativas não só nos torcedores, como também em comerciantes e empresários brasileiros. Um estudo feito pela empresa inglesa de consultoria, Ernst & Young, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, aponta que a economia brasileira teria uma movimentação de mais de R$ 110 bilhões. Ramos como o alimentício e o turístico, por exemplo, acabam se tornando os mais procurados.

De acordo com o professor e doutor em Desenvolvimento Econômico e Inovação Tecnológica, Francisco Horácio Pereira de Oliveira, da UFOP, uma outra fonte de renda nesse período de Copa está na venda de vestuários esportivos, além do crescimento significativo da rede hoteleira. O economista ainda reporta ao fato de que quando um turista que vem ao país gosta do que encontra, certamente irá voltar, ao passo que fará propagandas positivas sobre o local visitado, trazendo então mais pessoas.

Em Mariana, o Restaurante Casarão, administrado pelas empresárias Arlete e Sônia Eler, têm recebido diversos turistas estrangeiros, em especial espanhóis e chilenos. Segundo elas, na preparação para o período de Copa as modificações foram feitas  no sentido de adequar o atendimento aos visitantes, oferecendo aulas básicas de inglês para os funcionários. ”Não fizemos mudanças no nosso cardápio, até porque já trabalhamos com pratos típicos”, salienta Arlete. Sônia, por sua vez, destaca que os produtos mais consumidos são: a feijoada, o bambá, a caipirinha e o café.

O argentino da cidade de Rio Gallegos, Marcelo Rodriguez, 42, ressalta que o que lhe motivou a ir à Ouro Preto foi a vontade em conhecer um lugar histórico, berço cultural e de beleza inigualável. Além do mais, para ele, ‘’Ficar uma semana em Belo Horizonte seria muito tempo, então resolvi vir para Ouro Preto devido à proximidade, e por tudo que a cidade representa’’, completando ainda que, a insegurança sentida durante os dias de permanência na capital mineira ajudou em sua escolha pela capital da arte barroca.

 

Os argentinos Eduardo e Marcelo, respectivamente, esperam voltar para casa com o tri campeonato Celeste.Foto: Thamiris Prado.

 

Mais um argentino que veio para o Brasil assistir aos jogos de sua seleção, Eduardo Villalba, 41, também natural de Rio Gallegos, afirma que ”o povo argentino que é apaixonado por futebol estuda e trabalha, e apesar da Copa ser ‘do lado de casa’, se gasta muito para vir até aqui. Minha paixão pelo futebol me trouxe ao Brasil, e a cultura até Ouro Preto”.

Como visto, os impactos proporcionados pelo torneio não se restringem apenas às capitais que recebem os jogos do Mundial. As cidades do interior também se apresentam como rotas alternativas para quem vem de fora, em busca de um Brasil que permeia as doze grandes sedes e se enconde por trás dos legados da bola.

 

Editor: Fernando Cássio

Repórteres: Fernando Cássio e Thamiris Prado