Nem toda brasileira é bunda!

por Bárbara Lemos, Gabriella Visciglia, Lígia Caires, Roberta Heuley e Sabrina Passos

“Como abordar uma mulher brasileira em um clube: Assim como eles jogam futebol; agressivamente. Seja ágil e continue até marcar um gol”. É dessa maneira que a revista indiana GQ (Gentlemen’s Quarterly) orienta seus leitores a abordar as mulheres brasileiras, em uma edição especial sobre a Copa do Mundo no Brasil. Assim como os mexicanos são retratados usando sombreiros e bigodes enormes, os franceses são os de boina e que comem croissant, já os homens brasileiros sempre são lembrados como  jogadores de futebol e as mulheres com corpos lindos e fáceis de serem conquistadas, mas até que ponto essas imagens superficiais são levadas a sério pelo restante do mundo?

Jorjane Cury sentiu na pele essa imagem prejulgada dos homens em baladas americanas. A brasileira mudou-se em busca de uma qualidade de vida melhor e está a mais de sete anos fora do Brasil.  A falta do cuidado da própria mídia do país na construção dessa caracterização entristece Cury, pois alimenta esse estereótipo vulgarizado da mulher para o exterior.

Maria Graciosa Lima Alvarez Athanasio é mais uma brasileira que sofreu preconceito durante os seis anos que morou na cidade de Savona, na Itália. Nesse período ela lembra ter recebido propostas indecentes e até conheceu algumas moradoras da favela da Rocinha (Rio de Janeiro) que se prostituíam por não possuírem estudo, muitas vezes até deixando filhos para trás, em busca de melhoria de vida.

O turismo sexual tem estado sob os olhares atentos do Governo brasileiro, principalmente em grandes eventos que acontecem no país. Com o Brasil sediando a Copa do Mundo, a marca alemã Adidas teve que  reformular sua linha inspirada no evento por relacionar o Brasil à imagens de cunho sexual. As camisetas mostravam frases como lookin’ to score podendo significar tanto “buscando gols” quanto “pegar garotas”, e a outra era “Eu amo o Brasil” junto de um coração no formato de um bumbum com biquíni.

Brasileiro e descendente de italianos, Pedro Pessoa mudou ainda jovem para a Itália onde viveu por dez anos antes de retornar à sua terra natal. Não surpreendido com a matéria da GQ, conta que a imagem divulgada do Brasil era totalmente baseada em estereótipos divulgados pela mídia nacional. “O samba na avenida durante o Carnaval, a Panicat rebolando na frente da câmera, a brasileira de biquíni minúsculo desfilando pelo calçadão. Tudo isso focado na frente de uma câmera e distribuído para toda a população mundial como a realidade do país. Esta é a mulher brasileira para o resto do mundo”.

A pedido o Instituto Patrícia Galvão, a Data Popular fez uma pesquisa, em março de 2013, sobre as representações das mulheres nas propagandas na TV. Essa análise indicou que 84% dos entrevistados concordam que o corpo da mulher é usado para promover a venda de produtos nas propagandas na TV e 58% avaliam que as propagandas mostram a mulher como objeto sexual.

O alemão Alexander Thomas Niedermeier pôde conferir de perto o que o Brasil tem a oferecer. O estudante fez um intercâmbio de cinco país e afirma, que “Ele (o Brasil) é noticiado como o país do futebol, como um dos mais crescentes no mercado mundial, um mercado de futuro, especialmente para indústria automobilística que é muito importante na Alemanha. É também considerado, politicamente, o país mais importante da América do Sul”. Isso mostra que houve a mudanças na visão dos estrangeiros sobre o Brasil.

Porém, essa visão estereotipada das brasileiras ainda é bem forte. A revista portuguesa “Focus” promete revelar em uma matéria, o segredo das mulheres brasileiras, edição 565, do ano de 2010. A matéria focou nos principais motivos que levam portugueses a se casar com brasileiras. A matéria apresenta que um dos principais motivos, para que os estrangeiros se interessem tanto pelas brasileiras, é que elas são mais comunicativas e expressivas que outras pessoas.

Capa da Edição 565, ano de 2010. Nessa edição a revista traz uma matéria sobre os segredos das brasileiras, que levam os portugueses a preferirem casar com brasileiras.

 

Para a professora de Serviço Social, Jussara Cássia de Lopes Soares, pesquisadora das áreas de gênero e etnia, o imaginário historicamente construído sobre a mulher brasileira permitiu com que os homens, especialmente estrangeiros, tratassem ela de forma desrespeitosa e muitas vezes até violenta. “A matéria indiana é um retrato de toda essa realidade, e serve para descortinar algo que as mulheres sofrem cotidianamente: assédio sexual só pelo fato de ser mulher.”. Além disso, esse tipo de violência é tão banalizada e já se tornou parte de nossa cultura. Além disso, é uma tarefa difícil romper com todo esse contexto de opressão e os movimentos sociais, que tentam modificar essa realidade são muitas vezes criminalizados.