O duelo que manifesta

Batalha de MC’s resiste a duras penas na capital mineira

Repórteres: Clarissa Castro, Janaína Oliveira, Moises Mota, Tainara Ferreira

Imagem: Pablo Bernardo – Indie BH

Edição: Anna Gonçalves  

A euforia, as rimas e o espírito competitivo transformou a capital mineira em um verdadeiro cenário da arte de rua. Criado em 2007 pelo Coletivo Família de Rua, em Belo Horizonte, o Duelo de MC’s tem como objetivo levar a arte e o amor pelo rap às ruas da capital. A primeira edição do evento aconteceu na Praça da Estação e obteve um público de 50 pessoas. O Viaduto Santa Tereza tornou-se palco fixo dos duelos, que aconteciam todas as sextas-feiras e atingem um número significante de frequentadores.

A estudante Simone Kamato, acompanha o evento desde o seu lançamento. Segundo Simone, o duelo pode ser considerado uma das maiores manifestações da cultura de rua da capital. Uma das questões abordadas é sobre o uso excessivo de drogas no local que acaba prejudicando a imagem das apresentações, além de incomodar alguns frequentadores. “Os antigos participantes se preocupavam unicamente em aproveitar os duelos. Os novos membros acabam deixando o uso de entorpecentes influenciar o nome e a reputação da batalha”, acrescenta a estudante.

Mulheres e o Rap

Em vários ritmos, a inserção das mulheres em papéis de destaque no cenário musical é demorada e enfrenta muitas dificuldades. Principalmente em ritmos marginalizados, os papéis das mulheres costumam ser associados ao prazer masculino, ou ainda, que prezem à desvalorização da mulher, como pessoa. O machismo, tornando-se cada vez mais frequente e claro, inibe as mulheres do cenário musical.

No rap isso não foi diferente. O predomínio masculino e a falta de espaço para as mulheres em seus palcos ainda é evidente. Mas muitas mulheres não se deram por vencidas e o rap feminino começou a ganhar espaço e mais do que isso, fãs e seguidores. A conquista se deu pelo próprio talento de mulheres que não quiseram mais ser meras expectadoras, e com o microfone nas mãos, mostrou que o rap também é ‘coisa de mulher’.

No Brasil, nomes como Flora Matos, Karol Conká e Lurdez da Luz tomam o espaço masculino e destaque cada vez maior no rap. A rap Ludez da Luz, natural da cidade São Paulo, chegou até mesmo a ser indicada ao VMB 2012 – festival que premia bandas e cantores brasileiros – pelo clip da música “Levante”. Em Belo Horizonte, criou-se a Liga Feminina de Mc’s, onde mulheres se desafiam em rimas e improvisos, que também desafiam o preconceito e a luta pelo espaço no cenário do rap.

Em conversa com uma integrante da Liga Feminina de Mc’s, Luanda Beatriz , estudante de Direito na Pontifícia Universidade Católica – PUC-MG – de 21 anos, ela nos conta como funciona a batalha entre as meninas “é um evento que está acontecendo nos Estados com intuito de reunir as duas melhores “freetyleras” (cantoras de improviso – MC’S) de cada região para representarem em uma final que acontecerá no Rio de Janeiro. A primeira etapa de batalha da Liga ocorreu em abril com oito mc’s, cada Estado escolheu um critério diferente pra destacar suas representantes, por exemplo, tem Estado fará batalhas mensais, acumulando pontos para no final do ano ver qual das meninas obteve maior pontuação, dessa forma poderá ser definido uma representante em âmbito nacional”.

Quando questionada sobre a visibilidade que esse Duelo Nacional trás para as competidoras Luanda mostra que supera expectativas, “quando a mídia ficou sabendo chamaram uma Mc de cada Estado pra ir no Encontro com Fátima Bernardes, falar sobre a Liga e rimar, ainda três meninas de Minas também deram entrevista para o Estado de Minas” finaliza a estudante.

Conflito entre Prefeitura e militantes do Duelo

Atualmente o viaduto Santa Tereza que sempre abrigou os eventos está passando por reparos e os idealizadores se viram sem espaço para realização do evento. O local foi tomado por obras da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) no viaduto e o Coletivo foi informado que seriam necessários pelo o menos R$ 600,00 reais de taxas de inserção, para que os Duelos pudessem prosseguir. O Coletivo Família enviou ofício à Prefeitura reivindicando a liberação das vias públicas para a realização do Duelo de MC’s.

Em protesto, realizado no dia 21 de março, em frente a sede da Prefeitura, na avenida Afonso Pena, os manisfestantes e integrantes do movimento fecharam uma das pistas do local, com o objetivo de pressionar e agilizar a disponibilidade de novo espaço. Este manifesto foi uma ação isolada onde os jovens promoveram uma edição especial do Duelo de MC’s.

Com um parecer positivo, a Prefeitura apresentou uma nota afirmando que um novo local para o evento que seria providenciado sem a cobrança de taxas.

Após algumas intervenções dos realizadores e adeptos do movimento musical, o evento passa a ter um novo local, dia e hora. O Coletivo conseguiu um alvará de funcionamento e o Duelo passa a ter como palco a Praça Sete sendo realizado aos Sábados a partir das 14 horas.

 

 

Rap, um amor antigo

O termo RAP significa “rhythm and poetry” (ritmo e poesia) que teve seu surgimento na Jamaica na década de 60. Este gênero musical foi levado pelos jamaicanos para os Estados Unidos, mais especificamente para os bairros pobres de Nova Iorque, no começo da década de 70. Jovens de origens negra e espanhola, em busca de uma sonoridade nova, deram um significativo impulso ao estilo.

O rap tem uma batida rápida e acelerada e a letra vem em forma de discurso, muita informação e pouca melodia. Geralmente as letras falam das dificuldades da vida dos moradores de bairros pobres das grandes cidades.

O  cenário rap é acrescido de danças com movimentos rápidos e malabarismos corporais. O break, por exemplo, é um tipo de dança relacionada ao rap. O cenário urbano do rap é formado ainda por um visual repleto de grafites nas paredes das grandes cidades.

No Brasil, o rap começou no fim dos anos 80, sem muita credibilidade. Por ser considerado um estilo do gueto, os leigos o julgavam um som hostil e ofensivo.

Nos duelos em especial, os participantes se desafiam e contam com a animação do público para rimar e contagiar com sua criatividade. As pessoas se dividem e torcem por cada MC de sua preferência, formando um duelo com participação evidente de seu público.  As competições se dividem entre estaduais e e nacionais, com artistas que percorrem todo o país.