A copa do gigante

Um sentimento nacionalista aflorado de norte a sul

Por Alexandro Galeno, Ana Laura Comassetto, Alícia Milhorance, Felipe Nogueira, Pedro Guimarães e Tathiana Zacarias     

Com a Copa do Mundo, o nacionalismo da população torna-se ainda mais evidente por todos os cantos do país. A Copa deste ano é especial por um simples motivo: após 64 anos do inesquecível mundial de 1950, novamente o Brasil sedia o maior evento esportivo do mundo.

Alvo de duras críticas desde a escolha do país como sede, a realização do mundial acarretou uma série de questionamentos levantados pela população: estaria o Brasil preparado para receber uma Copa? A mobilização nacional ocorrida em meados de 2013, motivada por aumentos das passagens dos ônibus, levou milhares de brasileiros a protestarem também contra a realização do evento em território nacional. O imediatismo de tomar medidas para a melhoria da infraestrutura do país levou os manifestantes contra a Copa a questionarem se os investimentos feitos para a realização do mundial deveriam ser direcionadas a áreas como saúde e educação.

A popularização da frase “Não vai ter Copa” repercutiu mundialmente nas redes sociais, e os protestos generalizados também marcados pelo gigante que acordou, realizados por diferentes ideais e por impulso de diversas partes colocaram à prova o sentimento do brasileiro em relação ao mundial. Para Édison Gastaldo, sociólogo e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a indignação da população com a postura da polícia militar durante as manifestações as levaram a agir de “sangue quente”, e manifestarem apenas pelas circunstâncias do momento.

Dias antes da Copa, o ano de 2014 ainda estava preenchido pela revolta de uma população inconformada. A intensificação de campanhas publicitárias e virais, focadas principalmente no “orgulho brasileiro”, encorajaram seu público a transparecer sua torcida e fazer o “jogo virar” quando, a poucos minutos do primeiro tempo, o sentimento do brasileiro de torcer e vibrar pelo Brasil novamente apareceu. “Eu acho que inclusive as manifestações do ano passado levaram um sentimento de descrença, de resistência e de uma certa desconfiança. Como se torcer para a seleção brasileira fosse passar atestado de alienado.” opina Gastaldo.

Veja aqui a uma galeria de fotos de torcedores durante a Copa do Mundo.

Chico Garcia, repórter da TV Bandeirantes de Porto Alegre, falou sobre comportamento da sociedade em época de grandes eventos como a Copa do Mundo, especialmente quando relacionado ao momento em que o Brasil está passando. “Há muitos contra a Copa, mas não contra a seleção, contra uma prioridade contestada, pois os brasileiros carecem de tantos serviços básicos, que fica difícil aceitar uma ostentação com tantos investimentos.”.

Em grandes eventos como a Copa do Mundo, os meios de comunicação também têm seu espaço reservado no coração dos brasileiros. São eles também os responsáveis por levar ao torcedor a emoção de dentro do estádio para as residências. “Nos envolvemos e torcemos juntos pela seleção, por um grande evento e especialmente, pelo nosso trabalho. O jornalista quer estar nos lugares onde os maiores fatos acontecem, e somos contagiados pela empolgação do torcedor. É uma linha tênue entre manter a distância profissional, mas se deixar emocionar para poder transmitir emoção”, afirma Garcia.

O público, de acordo com Chico, é diferenciado nessas ocasiões. “São momentos em que o patriotismo ocupa o lugar da razão, e a emoção toma conta de cada rosto brasileiro”. Penélope Bernardi, moradora da capital paulista, acredita que a Copa do Mundo não seja apenas um campeonato futebolístico. Através da vitória brasileira cresce um sentimento de esperança em cada cidadão, não só no futebol, mas em torno de todo o país. “Espero que a Copa aconteça da melhor forma possível, e que todos saiam com a melhor impressão possível de nosso país”.

A Copa do Mundo continua sendo um espetáculo a parte. O sentimento de expressão de identidade nacional se renova de quatro em quatro anos, e mostra para o mundo inteiro que o “jeitinho” brasileiro ainda sabe fazer uma bela festa.

A Copa do Mundo é nossa. Com brasileiro não há quem possa.

Uma nação em busca de uma taça. Imagem: Felipe Nogueira

Unindo Gerações

O #TECER entrevistou Seu Luiz Antonio, 63, dono do popular Bar Mooca em São Paulo. Uma conversa de torcedor para torcedor, sobre como esta Copa do Mundo tem influenciado na paixão pelo futebol brasileiro.

#TECER – Quais os sentimentos que o senhor pôde notar nas pessoas durante o primeiro jogo do Brasil nesta Copa?

Então, é um sentimento muito bom, de amor mesmo que contagia a todos, os funcionários entram no clima também, é algo indescritível. Foi uma emoção muito grande, tinham pessoas de todas as idades aqui, e elas estavam em êxtase todas juntas torcendo para que esses jogadores que foram escolhidos para nos representar honrem a camisa brasileira. Foi muito especial.

#TECER – A concentração de pessoas aqui no bar foi muito grande, tinham pessoas que não estavam de fato animadas com o jogo?

Olhe bem, quando as pessoas começaram a chegar, vieram muitas famílias, aí nesses casos as mulheres pareciam estar ali apenas para acompanhar e comer alguma coisa, mas quando a bola começou a rolar a emoção foi tanta, que ninguém ficou parado ou sem torcer fervorosamente aqui dentro.

#TECER – E em outros jogos, a torcida brasileira vêm ao bar torcer por outra seleções também?

Não em mesma quantidade, mas em todo jogo estamos tendo um público bem bacana e o mais legal é que sempre a torcida fica com o mais fraco, como se tivessem passando boas vibrações para os jogadores, e parece que vem dando certo isso, esta Copa está doida, agora a pouco vimos a Costa Rica “atropelar” o Uruguai, espero que isso continue assim, tudo que essa torcida maravilhosa pedir que aconteça.

Edição geral: Pedro Guimarães

Reportagem: Alexandro Galeno, Alicia Milhorance, Ana Laura Comassetto, Felipe Nogueira

Imagens: Felipe Nogueira, Alicia Milhorance