Vida republicana

Por Brena Queiroz, Janaina Maria Almeida, Jéssica Corona e Elmo de Oliveira

A vida republicana das cidades mineiras de Ouro Preto, Mariana e Ouro Branco são bem distintas. A graduanda em Economia Janaína Santos, 21, natural de Mucuri, Bahia, que logo no início do curso morava em Mariana, nos conta o principal motivo que a fez mudar-se para Ouro Preto.

#tecer – O que te fez morar em Mariana primeiro e depois mudar para Ouro Preto? Qual a principal vantagem de morar em ambos os lugares?

Janaína Santos – Quando eu cheguei em Mariana, já tinha uma amiga que morava lá, assim fui dividir apartamento com ela. Nem cheguei a olhar casa em Ouro Preto. Em Mariana me sentia completamente sozinha, apesar de morar com mais gente. Me sentia inútil, não fazia nada além de ir pra universidade. Ouro Preto acolhe melhor os estudantes, coisa que não sentia em Mariana. Eu “odeio” Mariana. Em Ouro Preto há mais possibilidades de lazer, cultura e moradia com custo baixo. As pessoas aqui também são mais abertas. O único ponto negativo aqui são as ladeiras. O lado bom de morar em Mariana é estar perto da universidade e não precisar pagar passagem, que é muito cara. No início, eu tentava ir e voltar de carona todos os dias. Hoje em dia, como não tenho mais paciência e tempo, tenho que pagar passagem às vezes.

#tecer – Você conhece os pontos turísticos das duas cidades? Qual a importância dos estudantes da UFOP conhecerem esses locais?

Janaína Santos – Conheço quase todos os pontos turísticos de Ouro Preto, só não o Museu do Oratório e o da Escola de Minas. De Mariana só conheço o centro histórico e algumas igrejas. Quando estudante, a gente tá aqui e a cidade tem muito a oferecer, e é legal aproveitar ao máximo e cumprir esse papel como cidadãos.

#tecer – Quais as principais dificuldades da vida republicana?

Janaína Santos – A vida republicana te ensina a crescer como pessoa em todos os sentidos. O ponto negativo é a escassez de tempo devido a socialização e as atividades da casa, porém isso torna-se positivo uma vez que te força a administrar melhor seus horários. Só é difícil quando você extrapola o número de disciplinas na universidade, caso contrário fica tudo normal.

Vinda de Barbacena, Minas Gerais, a estudante de Jornalismo Lara Cúrcio, 19, atualmente morando em Mariana, diz que para uma boa convivência dentro da república “não podemos simplesmente baixar a cabeça e aceitar tudo”.

#tecer – O que te fez morar em Ouro Preto primeiro e depois mudar para Mariana? Qual a principal vantagem de morar em ambos os lugares?

Lara Cúrcio – Morei em Ouro Preto porque o custo de vida é menor. As moradoras das repúblicas federais são receptivas e meus pais se sentiram confortáveis nos ambientes que eles visitaram e me apoiaram a ficar lá, a frequência das festas foi o que fez repensar minha estadia. Por mais que eu estivesse no início do curso, vim pra UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) com o intuito de estudar. Não queria desviar o foco e estava ficando desgastante. Em Ouro Preto tive experiências muito boas, não vi somente pontos negativos na batalha, vi uma união muito forte. A questão da hierarquia nas repúblicas é importante na vida profissional. Mas também não sou muito fã de ficar pegando estrada de forma recorrente. É um risco dispensável e a passagem é cara. A vantagem de Ouro Preto é que as pessoas são mais unidas e isso é essencial pra vida. O ponto positivo de Mariana é a proximidade do campus. Só que em Mariana falta água com frequência. Quando ela não falta, ela vem suja. Pra lavar a roupa é uma tristeza. Além dos imóveis serem mais caros.

#tecer – Você conhece os pontos turísticos das duas cidades? Qual a importância dos estudantes da UFOP conhecerem esses locais?

Lara Cúrcio – Conheço poucos. Você acaba se dedicando a faculdade e o lazer é voltado para outras atividades mais convenientes. Os preços dos guias também não são tão atrativos. Eu acho importante por muitos fatores. Primeiro, é o ambiente em que você se propôs a morar, saber da historicidade do local é substancial. Para mim, como estudante de Jornalismo, é fundamental. Até porque minhas pautas vão se restringir a esse espaço.

#tecer – Quais as principais diferenças entre a vida republicana de Ouro Preto e Mariana? Cite um ponto positivo e outro negativo desse estilo de vida.

Lara Cúrcio – Em Ouro Preto, as festas são mais intensas e o senso de cooperação é mais forte. As pessoas levam mais a sério a questão de construir uma família. Em Mariana é mais voltado para a individualidade. O ponto negativo é a necessidade de lidar com peculiaridades que nem sempre a gente tem pré disposição. Saber lidar com as diferenças é essencial, mas é complicado. É preciso haver diálogo. Não podemos simplesmente baixar a cabeça e aceitar tudo.

E na vida republicana ainda há quem aceite o desafio de criar bichos de estimação. É o caso da república Mocambos, especialmente do morador e futuro jornalista Thiago Barcelos, 22.

#tecer – O que te motivou a ter um animal de estimação mesmo morando em república?

Thiago Barcelos – Ter um animal de estimação é sempre bom, a Findi foi achada nas ruas de Mariana em péssimas condições, assim como muitos cães que perambulam pela cidade todos os dias. O caso da Findi mexeu muito com todos os moradores da república e a vontade de ajudar foi quase que imediata pela parte de todos. Findi Slaidy ou só Findi é uma cachorra super dócil, brincalhona e hiperativa, sendo a responsável pela atividade física dos moradores quando ganha um passeio! Nem tudo são flores, nossa querida Findi adora “pescar” roupas do varal para mastigar e mexer no lixo para conseguir alguns petiscos.

#tecer – Criar um animal de estimação exige muita atenção e zelo. Eles necessitam de veterinário, alimentação, banho e carinho. É viável, mesmo com todas as outras responsabilidades da república?

Thiago Barcelos – A Findi recebeu todo o cuidado necessário quando chegou à nossa república, como um cão de rua, ela chegou abaixo do peso e com muitas pulgas e sarna. Assim, levamos para um veterinário e seguimos todas as recomendações, hoje ela está 100% saudável. A questão da responsabilidade existe, e demanda algum tempo de todos os moradores da casa. Para nós, ter a Findi é mais uma das responsabilidades que se cria quando você sai de casa, é a hora de amadurecer. Aprender a ter proatividade, aprender a cozinhar, aprender a se cuidar e cuidar, seja de alguém ou de algum animal. Acho que ela fez todos nós amadurecermos um pouco.

#tecer – Em sua opinião, o bicho de estimação pode ser considerado uma válvula de escape para o dia a dia dos moradores?

Thiago Barcelos – Para alguns, quem sabe. Para mim, o bicho de estimação é mais do que uma válvula de escape, é um ser que você acaba humanizando, a gente cria afeto e carinho por eles, nós sofremos e choramos por eles, e também sabemos que todos esses sentimentos são recíprocos. A Findi também é uma moradora da república Mocambos!

Quem também aceitou o desafio de cuidar de um pet foi a república Rocinha-Moitas. A estudante de Letras Carolina Peres, 28, nos conta sobre o Colossinho e o amor pelos animais.

#tecer – O que te motivou a ter um animal de estimação mesmo morando em república?

Carolina Peres – O que motiva é a possibilidade de cuidar de ao menos um bicho que poderia estar nas ruas vulnerável à qualquer atrocidade. Gostamos de animais e foi o gato Colossinho que escolheu viver aqui, nós apenas o acolhemos.

#tecer – Criar um animal de estimação exige muita atenção e zelo. Eles necessitam de veterinário, alimentação, banho e carinho. É viável, mesmo com todas as outras responsabilidades da república?

Carolina Peres – Sim, principalmente por ser um gato que é mais independente e higiênico. Antes de adotar é preciso assumir a responsabilidade de cuidar, arcar com as despesas e cumprir uma rotina simples, fundamental pro animal, que precisa do dono. Nosso gato só precisa de ração algumas vezes ao dia, água e carinho. Está saudável e com as vacinas em dia.

#tecer – Em sua opinião, o bicho de estimação pode ser considerado uma válvula de escape para o dia a dia dos moradores?

Carolina Peres – Sem dúvida, acho que todos curtem o gato, a presença dele é ótima e ele parece feliz aqui também!

Além da necessidade de saber lidar com os outros moradores da casa, os estudantes também precisam conviver bem com os vizinhos. Na cidade de Ouro Branco, onde o sistema de repúblicas é recente, os nativos ainda não tiveram grandes problemas com os recém chegados. A especialista em educação Vânia Maria Reis, 57, conta das novas experiências.

#tecer – O que acha de ter como vizinhos uma república estudantil?

Vânia Maria – Acho normal, não vejo nenhuma diferença. Meus vizinhos são muito educados, não atrapalham em nada. Costumam fazer festas, mas tudo acontece dentro do esperado.

#tecer – Quais os aspectos positivos e negativos?

Vânia Maria – Minha relação com eles é boa e só vejo aspectos positivos. Eles não atrapalham em nada e futuramente irão enriquecer a cidade com os conhecimentos adquiridos

#tecer – Como você imagina a situação desses estudantes futuramente?

Vânia Maria – Muitos permanecerão aqui e constituirão família, assim como quase todos os empregados da Gerdau, que chegaram na cidade em 1980, gerando crescimento e renda. Ouro Branco só tem a ganhar com isso.

Repórteres: Brena Queiroz, Janaina Maria Almeida, Jéssica Corona e Elmo de Oliveira

Editora:  Alícia Milhorance