O pesadelo de 1964

Por Ana Laura Comassetto, Anna Carolina Gonçalves, Alicia Milhorance, Clarissa Castro e Camila Magalhães

Há 50 anos o Brasil passava por um pesadelo, o Golpe Militar de 1º de abril de 1964 acabara de surgir, se mantendo vivo por pouco mais de duas décadas. Com o objetivo de estreitar relações entre alunos e professores acerca do assunto, o Instituto de Ciências Humanas Sociais (ICHS) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) promoveu um debate entre docentes dos departamentos de Letras e História, além de estudantes de diferentes cursos da universidade. A atividade nomeada de Conexão História, realizada no dia que marcou cinco décadas do Golpe, fomentou discussões sobre vários temas, destacando principalmente como a política do período interferiu e interfere na sociedade.

 O #tecer entrevistou o professor Sérgio da Mata, que atua na área de Teoria e Metodologia da História na UFOP. Ele explica o propósito do Conexão História e a promoção da interação entre alunos e professores sobre temas que permeiam o universo acadêmico.

#tecer: Como o Conexão História foi pensado e por quê?

Sérgio da Mata: Ele foi fruto na verdade de um insight, quando eu percebi que nós passaríamos por esta data, e não vi nada no site da UFOP a respeito de qualquer tipo de manifestação, no sentido positivo claro, de cerimonia, de reflexão coletiva, a respeito dos 50 anos do Golpe Militar. Então conversei com outros colegas, todos ficaram imediatamente muito empolgados com a ideia de fazer algo caseiro. De forma alguma tínhamos a expectativa de que iria aparecer tanta gente, para nós foi uma surpresa incrível, sinal de que a UFOP está carecendo de espaços de discussão como este, feito para toda a comunidade acadêmica.

#tecer: Qual é o objetivo de realizar o Conexão História em um ambiente universitário?

Sérgio da Mata: Essencialmente reconectar universidade e cidade, dizer que a universidade tem uma importância além de formar profissionais. Ela quer ajudar a discutir os problemas reais que afetam a sociedade.

#tecer: Com a continuação do projeto pretendem também ampliar os temas?

Sérgio da Mata: Concretamente sim. Nos demos conta de que isso é um imperativo, então não apenas problemas do Brasil, relativos à memória, mas também problemas concretos, do mundo em que a gente vive, das cidades onde a gente vive, quais os problemas que estão afetando não só os estudantes, mas as pessoas aí fora.

O evento também trouxe ao ambiente universitário discussões interessantes sobre o impacto dos acontecimentos de 1964. A estudante do segundo período de Jornalismo, Mariana Botão, ressaltou a relevância do evento e como podemos resgatar o assunto dentro da nossa realidade.

#tecer: Qual a importância de projetos como este para os diversos cursos da Universidade?

Mariana Botão: A interação dos cursos e o debate dos assuntos são muito importantes, há alunos que não estão por dentro dos temas. Assim eles têm a oportunidade de conhecê-los melhor. Chamar a atenção dos universitários para debates é importante para o próprio desenvolvimento da universidade.

#tecer: Para você, o que mudou em 50 anos após o Golpe Militar de 1964?

Mariana Botão: O controle da mídia, pois hoje em dia nós temos uma liberdade de informação, discussões mais abertas, debates sobre vários temas. Debater sobre a ditadura é uma das grandes mudanças, em anos passados não era possível falar sobre temas polêmicos e política.

#tecer: O que falta para que o Brasil seja um país democrático?

Mariana Botão: Abertura da mente das pessoas, mas politicamente nós já avançamos bastante, mesmo com muitas falhas que ainda não foram corrigidas. Por exemplo, a Comissão da Verdade que foi citada na palestra. Ela não está agindo. Muitas coisas são um avanço, mas não estão sendo executadas, há promessas que não são cumpridas.

Além de aumentar as possibilidades de interação dos alunos da instituição, o evento favoreceu para que os participantes debatessem os problemas do cotidiano, como aconteceu com Kaique Ruan, estudante do primeiro período de História da UFOP.

#tecer: Para você, o Brasil cresceu economicamente durante o período ditatorial?

Kaíque Ruan: Mesmo considerando o milagre econômico um ponto positivo; esse “milagre” deixou uma dívida externa quase que impagável por muito tempo, permaneceu impagável por toda a primeira década da redemocratização. O fato é que o Brasil cresceu.

#tecer: Como estudante de história, qual sua visão a respeito da ditadura militar?

Kaíque Ruan: Eu sou anti-militarismo, totalmente contra a ditadura militar em todos os seus aspectos, contudo tenho que admitir que o Brasil teve algumas mudanças pra melhor nesse período.

#tecer: Os 50 anos do golpe militar traduzem aspectos negativos?

Kaíque Ruan: Sim, mas apesar de toda a barbárie cometida de torturas, exílios, punições e repressões, tem aspectos positivos, como o milagre econômico.

Repórteres: Ana Laura Comassetto, Anna Carolina Gonçalves, Alicia Milhorance, Camila Magalhães, Clarissa Castro 

Editora: Caroline Hardt