A greve na UFOP e suas implicações na comunidade acadêmica

Por André Nascimento, Guilherme Oliveira, Katiuscia Neves e Stela Diogo

A greve dos Servidores técnicos administrativos em educação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) segue por tempo indeterminado desde 17 de março. Bibliotecas, restaurantes universitários (R.Us) e laboratórios não funcionam. O Diretório Central dos Estudantes (DCE), em diálogo com Comando de Greve, levantou propostas para amenizar os impactos da greve aos estudantes, como o funcionamento parcial de alguns setores e o pagamento das bolsas de assistência estudantil.

O membro do comando de greve do sindicato dos trabalhadores Técnico Administrativos da UFOP (Assufop) e assistente administrativo da UFOP, Sérgio Cabral Neves, fala sobre as reivindicações dos servidores. Aluno, professor e funcionário terceirizado também foram ouvidos pela reportagem.

#tecer – Muitos alunos e professores se sentem prejudicados com a greve. Quais são medidas que o comando de greve pretende adotar para amenizar a situação?

Sérgio Neves – A principal medida é buscar o acordo com o Governo Federal para cumprirem integralmente o acordo de greve assinado em 2012. O Comando de Greve se reúne todos os dias para buscar soluções rápidas, assim como se reúne, frequentemente com a Reitoria, o Corpo Docente e o DCE para sabermos suas reivindicações e para se buscar alternativas em conjunto.

#tecer – Existe a possibilidade dos R.Us voltarem ao seu funcionamento durante a greve?

Sérgio Neves – A liberação dos R.Us envolve muitos setores e isto acabaria enfraquecendo a greve. No entanto, encontramos medidas alternativas para os alunos que recebem da universidade o auxílio alimentação em forma de ticket. A Prace (Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis) irá fazer um levantamento e liberará a bolsa em dinheiro diretamente na conta do beneficiário.

 #tecer – A Assufop já chegou a algum acordo sobre o fim da greve?

Sérgio Neves – Até o momento não obtivemos nenhum vitória em nossas negociações com o Governo e sim uma ameaça do corte de ponto (corte de pagamentos) dos técnicos em greve. No entanto, estamos nos fortalecendo e já contamos com a adesão de mais de 90% dos trabalhadores, para que, mesmo com o corte, a greve continue. Desta forma as negociações se tornarão mais difíceis, mas talvez somente assim consigamos ter nossos direitos reconhecidos e concedidos.

A paralisação dos RU’s interfere, também, no desempenho dos trabalhadores terceirizados. Funcionária de serviços gerais da empresa Adserte, contratada pela UFOP, Mariana Morais (nome fictício), fala como a greve afeta o seu trabalho e dos colegas.

#tecer – Qual seu ponto de vista com relação a greve?

Mariana de Moraes – Acho que ela é um mal necessário, é para melhorar, então tenho que ver por este lado. Sempre vem melhorias a nós, diretamente ou indiretamente. Mesmo eu não sendo uma funcionaria efetiva, apoio a greve sempre, porque eles precisam reivindicar seus direitos.

#tecer – A greve prejudica vocês de alguma forma?

Mariana de Moraes – Sim de varias formas. Ficamos sem o R.U, que faz muita falta, porque dependemos dele para cumprirmos nosso horário, que temos de cumprir de qualquer forma. Cuidamos da limpeza e ficamos com a parte mais difícil. Muitas vezes temos de fazer tarefas que são dos efetivos, como repor material de limpeza.

#tecer – O que você gostaria de registrar com relação à greve? Ou reivindicar?

Mariana de Moraes – Gostaria de reivindicar a redução na carga horária que é de nove horas diárias, também de deixar registrado que por sermos faxineiras, somos obrigadas a cumprir nosso horário. Já outros terceirizados durante a greve não cumprem, cumprem apenas a metade do horário, enquanto nós faxineiras somos “tapa buracos”. Acredito que o sindicato, não sabe disso, e nós também pagamos o sindicato. Estamos fazendo o serviço dos técnicos que deveriam estar presentes, isso sobre carrega muito nosso trabalho, que já é pesado.

Em Mariana um grupo de estudantes convocou uma assembléia no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) para debater sobre a greve e, principalmente, a permanência dos alunos em vulnerabilidade. Nesta reunião foi redigida uma carta, enviada ao Conselho de Entidade de Base (CDEB), solicitando prioridade no pagamento das bolsas de assistência. O estudante de Serviço Social Guilherme Pontes, aluno do primeiro período, participou do debate e conversou sobre os assuntos pautados na reunião e o papel do aluno em relação à greve.

#tecer – Quais as reivindicações pontuadas na assembléia estudantil que aconteceu no ICHS?

Guilherme Pontes – Antes de qualquer debate, a discussão a respeito dos estudantes em situação de vulnerabilidade. São os estudantes que dependem de alguma forma, de assistência estudantil. O que não é a situação de todos os estudantes, mas a de muitos, principalmente daqui de Mariana. Então a primeira proposta de discussão foi essa, para depois discutir a demanda de cada curso e suas especificidades. Dessa assembléia foi redigida uma carta que foi levada para o CDEB (Conselho de Entidade de Base), que é o conselho de representação estudantil soberana da UFOP apresentaram esta carta às demais entidades de base do movimento estudantil da UFOP, tendo o Conselho aprovado que o documento seria também assinado pelo DCE e pelo próprio CDEB. Em razão desta mobilização estudantil e do diálogo promovido pelos estudantes com a Reitoria e o Comando de Greve, houve o pagamento de bolsas de assistência estudantil.

#tecer – Qual o papel do aluno meio à greve dos técnicos administrativos?

Guilherme Pontes – O papel do aluno é central. O papel de todos na universidade é central. Infelizmente a greve não é um debate que surge entre todos os estudantes da UFOP. Este é um debate sobre a nossa realidade. Antes de discutir se somos ou não somos a favor da greve, nós precisamos começar a debater para entender o que essa greve representa. É preciso compreender que a luta dos técnicos administrativos não é uma luta deles, é uma luta nossa. Eles estão lutando por melhores condições de trabalho, melhores condições da educação brasileira, contra o sucateamento do ensino no Brasil. Então a posição dos alunos é fundamental.

#tecer – Como você enxerga as discussões que ocorrem a respeito da greve no ambiente acadêmico?

Guilherme Pontes – Esperava do corpo discente um forte debate e uma posição em relação às pautas e reivindicações daquilo que para nós, é essencial. Estamos diante da paralisação de um dos três setores que compõe o tripé da universidade. A universidade é um organismo de três partes. O corpo discente, o docente e o administrativo. E como um organismo, se um dos três parar, os outros dois não funcionam. E o que eu senti é que os estudantes não estão mobilizados em relação a essa greve. O que eu tenho visto, são muitas pessoas discutindo a greve em seminários, proporcionados pela universidade. Esse espaço é importante, e nós temos que participar e ocupar esses espaços.

Mesmo com a paralisação do setor administrativo as aulas continuam normalmente. O professor de sociologia, Ubiratan Garcia Vieira, docente no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), fala sobre o posicionamento dos professores perante a greve.

#tecer – Qual a sua opinião sobre a greve?

Ubiratan Vieira – Fico decepcionado em ver que não houve repercussão sobre a greve. Em uma greve é necessário ser repercutido pela mídia, causando uma maior pressão ao governo para conseguir as melhorias solicitadas pelos grevistas.

#tecer – Você acredita em uma possível greve por parte dos professores?

Ubiratan Vieira – Os professores não tiveram até o momento uma posição a favor da greve. Temos que ver também que estamos no começo de uma paralisação, onde os alunos estarão se reunindo ainda essa semana para definir apoio a greve, ou não. Tem de ser relevado também o acordo que foi firmado com o governo no ano de 2012, eu não apoiei o fim da greve naquele momento e não vejo um movimento claro em posição aos professores, pois nós ainda continuamos trabalhando nas mesmas condições antes do acordo firmado.

#tecer – Você se sente prejudicado com greve?

Ubiratan Vieira – A principal função de uma greve é ocasionar atrasos no determinado local onde estão os trabalhadores. É claro que nós somos afetados, nós temos uma série de divisões na universidade que estão paralisadas. Outras pessoas que trabalham no setor administrativo tem um sobrecarga em seu trabalho.

Reportagem: André Nascimento, Guilherme Oliveira, Katiuscia Neves e Stela Diogo

Edição final: Laurence Henrique