Mochilão: a vida em transição

Por Ingryd Rodrigues, Luana Barros, Mariana Viana, Matheus Maritan e Thiago Barcelos

A carona é o principal meio de transporte da maioria dos mochileiros. / Imagem: Largando Tudo. www.facebook.com/LargandoTudoOficial

Quem nunca ouviu falar nos ‘’mochileiros’’? Alguns os chamam de ‘’loucos’’ por largarem a vida estável para cair no mundo. Tomar tal decisão exige coragem, maturidade e disposição para conhecer culturas distintas e enfrentar as inúmeras dificuldades que aparecem pelo caminho. Muitas vezes, esta vontade surge de uma enorme curiosidade de explorar a variedade de culturas, povos e hábitos que se diferenciam de um lugar para o outro, às vezes, drasticamente.

A prática mochileira começou com a Geração Beatnik, nos Estados Unidos, composta por escritores das décadas de 50 e 60, que não se interessavam por empregos tradicionais e mudaram a forma de enxergar a “liberdade” na sociedade americana. Um deles é Jack Kerouac, autor do livro ‘’On the road”, best-seller que influenciou gerações seguintes a caírem na estrada. Desde então o movimento vem crescendo e ultrapassando fronteiras, e já existem até meios que auxiliam as pessoas no planejamento da jornada.

Um exemplo é o site couchsurfing.org, lançado em 2003. Trata-se de uma rede social mediadora entre turistas que desejam hospedagem grátis e os interessados em hospedá-los. Os usuários já somam mais de 4 milhões. A finalidade da ferramenta, é que as pessoas conheçam o local de acordo com o cotidiano do seu acolhedor, que age como um guia informal.

A equipe do #tecer encontrou algumas pessoas que se intitulam ”mochileiros” e estão sempre explorando lugares e buscando experiências inusitadas. O estudante de jornalismo da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) Arthur Medrado é um deles. Ele tem 21 anos e nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro.

Se jogando no mundo

Se jogando no mundo

Arthur começou a viajar em 2012, primeiramente por intercâmbio, embora a ideia de fazer um mochilão sempre tenha estado presente em sua vida. Ele já vinha se planejando desde os 15 anos de idade, quando iniciou pesquisas sobre o assunto em sites e fóruns na internet. Segundo ele, apesar da família não entender bem sua necessidade de viajar, ela o apoia desde que receba notícias regularmente. ‘’Acredito que eles tenham medo de que eu largue tudo e nunca mais volte. Coisa que eu não fiz, ainda”, completa.

Os conceitos de ‘’viajante’’ e ‘’turista’’ exprimem ideias diferentes. Como afirma Arthur, o viajante aproveita com maior intensidade a realidade e a cultura do local que visita, enquanto o turista o conhece superficial e comercialmente. Quanto à questão financeira, ele ressalta a diferença de gastos quando se viaja das duas formas, já que algumas agências turísticas abusam nos valores de pacotes nacionais e internacionais.

“Acho que a única certeza que tenho é que quero viajar sempre.” – Arthur Medrado

Além da Argentina, Arthur também conheceu a Bolívia e o Peru e tem interesse especial em Índia, Cuba, Jamaica, Porto Rico, Espanha e Marrocos. Questionado se existe algum lugar que não visitaria, conta que nenhum deixa de despertar seu interesse. Devido à faculdade, ele ainda não pode estar em lugares mais distantes e confessa que antes de viajar escolhe locais onde domine um pouco do idioma.

Na primeira semana de fevereiro, ele foi para a Colômbia rever amigos que fez na Argentina e conhecer uma cidade que sempre desejou (Medellin). Após a Colômbia, seu objetivo é ir até a Venezuela, e depois Guiana Francesa. “Acho que a única certeza que tenho é que quero viajar sempre”, afirma.

Propondo maneiras de se estruturar para uma aventura como esta e aconselhando pessoas que pretendem fazer o mesmo, o aventureiro diz que é sempre melhor pesquisar e estar informado sobre o lugar, para enfrentar menos dificuldades. “Viajar é um parêntese no tempo cotidiano e, por isso, temos que desfrutar cada momento, sem medo, sem regras, sem padrões. É o maior momento de libertação que podemos ter como indivíduo”, completa.

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Com o pé na estrada e o coração na mão

Embora parte dos mochileiros tenha um estilo em comum, com roupas leves e coloridas, que quase se assemelham aos hippies, hoje em dia há uma variedade de personalidades e estilos, que derrubam um molde clichê idealizado pela sociedade. Algumas das dificuldades mais citadas pelos mochileiros são coisas que podem passar despercebidas aos olhos de quem não domina o assunto, como o peso da mochila, a impossibilidade de fazer higiene pessoal em certos lugares, a falta de conforto, a língua e a vulnerabilidade.

“A vivência de viajante possibilita uma série de experiências que quando você não “se joga” no mundo você jamais poderia viver.” Arthur Medrado

Contudo, em meio a tantos obstáculos, existem ótimas razões pelas quais aventureiros buscam estar sempre em movimento. As situações vividas, lições aprendidas, novas amizades, e aprender a valorizar a rotina ao lado das pessoas que amam: tudo isso faz valer o esforço. ”A vivência de viajante possibilita uma série de experiências que quando você não ‘se joga’ no mundo você jamais poderia viver”, ressalta Arthur.

Para ele, uma forma de registrar fatos durante as viagens é fazer diários escritos ou fotográficos. É importante também se organizar financeiramente, tendo sempre uma reserva e procurando gastar com o essencial, evitando despesas supérfluas. Em alguns momentos, os mochileiros se sentem sozinhos, mas o sentimento de auto-suficiência e o auto-conhecimento são bastante positivos. Ambos são capazes de mudar a vida e a história dos que se arriscam mundo afora a fim de provar todos os sabores e conhecer todas as belezas. “Às vezes, sair da zona de conforto é o maior pró de todos.”, ele diz.

O mochileiro Roberto Vasquez e amigos em uma de suas viagens. / Imagem: Arquivo pessoal de Roberto Vasquez.

Próxima parada: Brasil

A equipe do #tecer entrevistou também um casal de estrangeiros, Delia Bacan e Paul Cabanis, ambos com 23 anos. Ela, veio de Santiago, Chile, e cursa Direito na UnB (Universidade de Brasília). Ele, nasceu em Toulouse, França, e faz mestrado em Jornalismo também na UnB. O casal sempre foi encantado pelas paisagens naturais do Brasil e estão aproveitando as férias de janeiro para conhecer alguns estados, primeiro a Bahia, depois Espírito Santo e agora Minas Gerais. Para o casal, a ideia de incluir MG ao trajeto veio da vontade de conhecer as fazendas de café e a culinária de Ouro Preto, cidade sempre presente nos livros que liam.

“No meu país já visitei muitas cidades históricas. A arquitetura das cidades chilenas parece com a daqui em alguns aspectos, como o chão de pedra, as igrejas e o modelo das casas”, lembra Delia. Paul diz que as cidades históricas da Europa são diferentes: “As igrejas e as ruas têm uma construção distinta”. “Também visitamos o centro histórico da cidade de Salvador. O lugar é muito bonito”, completa.

A maioria do percurso foi feito de carona. Saíram de Brasília em direção à Bahia e depois de duas semanas chegaram à Salvador. Ficaram lá alguns dias e logo seguiram para o Espírito Santo. Vieram então até Minas Gerais. A primeira cidade que visitaram aqui foi Santa Barbara, ficando por dois dias. No final de janeiro estiveram em Mariana e Ouro Preto e a seguir, iriam completar o trajeto para Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Conversamos também com Leonardo Maceira, um mochileiro que encontramos pelos arredores de Ouro Preto.Confira a entrevista:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 E caso você tenha ficado instigado a pegar estrada, aqui está uma ideia para você registrar as suas viagens. O italiano Nicolo Banini registrou as dele de uma maneira inovadora e muito criativa. Assista:

E caso você tenha ficado instigado a viajar, o italiano Nicolo Banini, pode te ajudar a se inspirar de forma criativa para registrar suas aventuras:

Edição: Mariana Viana (texto)

Repórter: Matheus Maritan

Infográficos: Luana Barros

Vídeo: Ingryd Rodrigues (entrevista e edição) e Thiago Barcelos (imagem)