De estagiário a homenageado

Luiza Madeira.

 Pernambucano, Carlos Alberto Barbosa nasceu em 9 de Abril de 1946, em Recife, hoje tem 66 anos, morador do bairro Santa Cecília em São Paulo. Casado com Inez, uma corinthiana roxa, eles vivem a aposentadoria da melhor forma possível. Barbosa, como costumava ser chamado por seus colegas de trabalho é formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou na Revista Manchete (PE), no jornal Estado de S. Paulo, Última Hora, Gazeta Mercantil, Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Guaru News e atuou como assessor de imprensa na Prefeitura de Guarulhos.

Carlos Alberto Barbosa e sua esposa Inez

Carlos Alberto Barbosa e sua esposa Inez. Foto: Luiza Madeira

Luiza Madeira: Barbosa, como você pensou em fazer jornalismo?

 Barbosa: Eu nunca pensei, eu estava na época de vestibular, me formaria na escola, e eu não sabia o que fazer, nunca tinha pensado, então um amigo meu me disse “por que não prestamos para jornalismo?”. Era a única coisa que sabíamos fazer, já que escrevíamos no jornal da escola. Prestei vestibular, e passei para a Universidade Católica de Pernambuco, onde me formei.

 LM: Você morava em Recife, como veio parar em São Paulo?

 B: Recife naquela época ainda era uma cidade sem muitas oportunidades de emprego, até cheguei a trabalhar em uma revista chamada “Manchete”, cheguei até a escrever uma coluna, porém, não saia da praia, minha mãe me mandou vir pra São Paulo, para tentar conseguir emprego e dar um jeito na minha vida.

 LM: A adaptação em São Paulo foi muito difícil?

 B: Havia dias que eu lutava para não chorar, ainda mais que eu estava sozinho, em um local em que não conhecia ninguém. Até que eu encontrei alguns amigos de Recife que tinham vindo para São Paulo estudar ou trabalhar, a partir dai minha adaptação se tornou mais fácil.

 LM: Como você entrou no Estadão?

 B: Eu cheguei lá na cara e na coragem, não conhecia ninguém e fui falar com o diretor. Quando eu entrei na sala, logo falei que não queria um emprego, e sim um estágio, então, pedi pra ele uma chance, e ele me deu. Me colocaram na parte policial, já que não tinham ninguém. Trabalhei lá por seis meses, o tempo do estágio, logo depois, me dispensaram. O engraçado foi que me pagaram o equivalente a mil reais hoje em dia. Acredita que eu tive que dividir o dinheiro? Dividi em cinco partes, cada uma para uma semana, para poder sobreviver, quando somos jovens passamos por cada coisa não é mesmo? (risos)

 LM: E o que aconteceu depois que os mil reais acabaram?

 B: Durante o estágio no Estadão, conheci um jornalista do “Diário Popular” que me ofereceu um emprego, aceitei. Fiquei lá por dois anos, gostei muito! Cobria todas as áreas, o que eu gostava bastante. Depois, passei pela Gazeta Mercantil, Última Hora e pelo Diário de São Paulo. Do último, não gostei muito, eles não me pagavam. Acabei ficando lá apenas um mês, fui demitido por conta de uma reportagem sobre “os buracos de rua” de São Paulo, o problema não era a reportagem, e sim, o buraco denunciado que concidentemente, era em frente à casa do diretor do jornal.

 LM: Você acabou indo para Guarulhos por qual motivo?

 B: Depois de trabalhar para a Folha de S. Paulo, fui convidado por um amigo para ir para Guarulhos, trabalhar em jornal de bairro chamado “Guaru News”. Gostava de lá, era tranquilo.

 LM: Por que a mudança para a assessoria ?

 B: Enquanto trabalhava no “Guaru News” ouvi dizer que o prefeito precisava de assessor, então, me candidatei à vaga e entrei.

 LM: O trabalho de assessoria acontecia de qual forma?

 B: Além de cobrirmos o prefeito, cobríamos algumas notícias da cidade, e escrevíamos para a “Folha Metropolitana” um jornal do próprio prefeito. Naquela época a agência de notícias mandava as noticias pelo “Telex” e nós íamos busca-las lá na Folha de S. Paulo, já que em Guarulhos, o “Telex” ainda não existia, era um problema quando a redação fechava à meia noite e pegávamos congestionamento na Dutra. Tudo vinha da Folha de S. Paulo. Naquela época, Guarulhos ainda era uma cidade baixinha, sem prédios, era apenas uma cidade dormitório com mais ou menos uns 400mil habitantes. Depois que redigíamos a noticia e montávamos o jornal, tudo era levado novamente para a Folha para ser impresso, andei muito de Kombi na Via Dutra, isso em 1972. (risos)

 Apesar de tudo, gostava do emprego, sempre dizia que iria sair por ser um jogo de interesses, e muitas pessoas se aproximavam apenas para chegarem até o prefeito, porém, nunca sai, fiquei lá por 24 anos, e não me arrependo.

 LM: Você recebeu o titulo de “Cidadão Guarulhense”, como isso aconteceu?

 B: Com o trabalho da assessoria ampliado para a cidade toda, fui ganhando visibilidade, porém, sempre tem aquelas pessoas que querem te passar a perna. Eu fazia o seguinte, juntava tudo que tinha feito e mandava para a casa do prefeito, porque ai, ele não podia reclamar se falassem pra ele que eu não fazia nada. Dessa forma meu trabalho foi sendo reconhecido. Quando me aposentei o vereador Eraldo Evangelista havia acabado seu mandato, porém, seu filho foi eleito em seu lugar, e no mandato de seu filho acabei sendo homenageado com o título de “Cidadão Guarulhense” em 13 de abril de 2007, por todos os meus serviços prestados a cidade.

 LM: Você sofreu um derrame, e hoje está aqui, bem disposto e praticamente recuperado, gostaria de saber como foi lidar com esse “episodio” de sua vida?

 B: Eu sempre digo que esse meu derrame foi por conta de trabalho. Com 57 anos comecei a sofrer alterações em meus níveis de pressão. Fui ao médico, ele me passou um remédio e eu o tomava conforme havia sido prescrito. Até que um dia ao ir escovar os dentes percebi que ao colocar a escova na minha mão direita ela caia, não conseguia segura-la, achei que fosse por estar um pouco sonolento ainda e deixei passar. Quando eu e minha esposa fomos almoçar percebi que não tinha força para cortar a carne, logo percebi que havia algo de errado e fomos para o Incor (Instituto do Coração). Fui diagnosticado com derrame, meu lado direito estava paralisado, fui medicado, e tratado. Hoje me encontro muito melhor, ainda tomo seis medicamentos, sinceramente, eu não gosto, mas, é necessário. Quando tudo aconteceu, tive que lutar para não cair em depressão. Teve um dia que acordei chorando e fui dormir chorando, depois desse dia decidi que não era isso o certo a se fazer, então eu decidir nunca mais chorar, e estou cumprindo até hoje.

 Mesmo morando em São Paulo Carlos, ou Barbosa como é conhecido pelos colegas de assessoria, ainda se enxerga guarulhense, ama a cidade, fala sobre ela e sobre suas peripécias como jornalista e assessor com brilho nos olhos, é de dar gosto. Um personagem dentro de uma cidade é construído assim, com aquilo que ele representa para a cidade e com o que a cidade representa para ele.