A realidade da Praça Gomes Freire a partir dos marianenses

Pessoas se encontram ao redor do Chafariz. Imagem: João Vitor Marcondes

“Essa praça possui uma história fascinante e que reflete, não só a história da cidade de Mariana, mas também do Brasil, pelo valor cultural das várias manifestações que ali ocorreram.” Patrícia Paiva, autora de “História da Praça Gomes Freire: O Jardim de Mariana”

Por Fábio Júnio, João Vitor Marcondes, Laene Medeiros, Lívia Monteiro, Rafael Peres e Thaís Medeiros

Frequentemente, marianenses e turistas se reúnem na Praça Gomes Freire. É no domingo, porém, que o Jardim atinge seu ápice de visitantes. Conversar, passear, ficar sentado à toa e principalmente beber uma cerveja. Apesar de comuns, as reuniões com os amigos para beber ao ar livre ocasionam reclamações de moradores e frequentadores. “Há 30 anos, quando eu morava em outro local em Mariana, o Jardim era uma delícia. Hoje moro em uma casa que “divide” parede com um bar e eles colocam músicas na maior altura. Você tem que ir, conversar, e aí fica desagradável” afirma Leila Cabral, que mora há três anos em frente ao Jardim. Ainda sobre o barulho, o Guarda Municipal Roberto Silva Júnior se posiciona sobre a questão: “O maior problema são as pessoas que passam nos carros, se exibindo com o som muito ‘pesado’. E no entorno da Praça moram famílias, pessoas de idade e moradores tradicionais, o que acaba gerando um transtorno”.

O artesão José Alberto Ferreira, que mora em frente ao Jardim, relata que para realizar seu trabalho com aquarela, feito desde 1996, não existe lugar mais gostoso. Aponta, contudo, uma irregularidade: a falta de banheiros públicos. Por serem estreitas e mal iluminadas, as ruas são a preferência para substituir os sanitários que não existem ali, resultando mau cheiro e indignação dos moradores do entorno: “É a única coisa que atrapalha essa Praça, a falta de banheiros públicos. Algumas pessoas urinam na rua ao lado, (Rua Silva Jardim) e até na porta de casa. É um problema seríssimo. Fora isso, a Praça é muito boa”.

Na Praça Gomes Freire passeiam pessoas de todas as idades, que desfrutam do local de maneiras diferentes. As irmãs Etelvina e Filomena da Silva comprovam a afirmação. Enquanto o barulho e o número de pessoas aumentavam, as duas senhoras permaneceram sentadas, observando a movimentação e variedade de ritmos e músicas na noite da Gomes Freire: “Nós estamos aqui sempre que possível, mas depois que operei o joelho, não venho com tanta frequência.” “Ela tem filhos, netos e bisnetos”, afirma Filomena. A família vem também quando pode, a minha filha e meus netos também passeiam na praça”, disse Etelvina.

Como os bares são pequenos, os clientes consomem a bebida, servida em copo plástico, fora do estabelecimento. Quando a madrugada chega e as pessoas esvaziam o local, os copos e bitucas de cigarro permanecem espalhados pelo chão e gramado da Praça. Pela manhã, é possível observar as responsáveis pela limpeza no recinto e os comerciantes trabalhando. Rosemeire Maria Veloso, ex-moradora do distrito de Mainart, vive em Mariana há dois anos. Funcionária de uma loja localizada no Jardim, ela vê a localidade contribuindo com o lucro do comércio.

Rosemeire mostra o local preferido dos turistas em sua loja. Imagem: João Vitor Marcondes

Rosemeire mostra o local preferido dos turistas em sua loja. Imagem: João Vitor Marcondes

#tecer – Você frequenta o Jardim?

Rosemeire – Olha, mais ou menos. Eu vejo sempre, passo sempre por ele, porque eu tenho que vir trabalhar. Mas eu vir mesmo aqui é difícil. Sei lá, eu não gosto muito pra te falar a verdade.

O que te desagrada?

Não sei, não me anima. O pessoal me diz: “vamos no Jardim?”. No Jardim? Vamos nada! Mas de vez em quando eu venho aqui com os amigos à noite. A Praça é o ponto de encontro dos marianenses. Eu não gosto, mas minhas amigas adoram, estão sempre por aí. Domingo, por exemplo, fica lotado. Quando o Cruzeiro foi campeão (Brasileiro 2013), o ponto de encontro foi a Praça.

Os moradores de Mainart frequentam o Jardim?

Não. O pessoal de Mainart, por exemplo, se tem um festa em alguma outra roça, em algum lugar, eles saem de lá pra ir nessa outra festa. Eles não saem pra vir pro Jardim não. Geralmente vem só quem tem carro. Só tem dois ônibus, um que vai pra Mainart de manhã e volta a tarde e um que vem do distrito pela manhã e volta à tarde. Os horários são bem ruins.

Quais são os pontos positivos e negativos de ter uma loja na praça?

Geralmente, quem vem visitar a praça acaba visitando a loja. Os melhores restaurantes ficam localizados nessa região, tornando o horário de almoço a hora mais movimentada da loja. O pessoal sobe para almoçar, fica na Praça um tempinho e é isso o que realmente traz os turistas pra cá. Mas a Praça ajuda bastante sim. A gente vende muitos cartões postais da Praça Gomes Freire, até acabou. Tem gente que gosta mais dessa Praça daqui do que a de Ouro Preto. As pessoas chegam para a diversão e acabam vindo aqui porque ficam curiosas, querem conhecer. A gente nunca teve problema com barulho, até porque acho que eles não deixam ficar com muito barulho. Quando alguém liga o som muito alto, mandam parar. No horário do funcionamento ainda está muito cedo para o povo ficar bêbado ou exagerar. 

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Editora: Laene Medeiros

Repórteres: Fábio Júnio, Lívia Monteiro, Rafael Peres e Thais Medeiros

Imagens: João Vitor Marcondes