O mais novo da história de Aracruz

Por Mariana Borba

Erick Cabral Musso, 25 anos, é vereador no seu primeiro mandato. Foi o mais votado na última eleição. O título de ser o mais jovem político do município não vem daí, é, também, o presidente da Câmara dos Vereadores – na cidade de Aracruz, Espírito Santo –. Passando por cima de preconceitos em relação à idade, pretende trabalhar com fôlego e ideias novas. Para isso, conta com o seu esquadrão de elite.

Mariana Borba: O que me chamou atenção foi a sua idade, você é muito novo para o cargo de vereador e principalmente para presidente da Câmara. Acredito que isso não seja somente um fator positivo. Quero saber como foi essa votação (se ela é aberta ou fechada) e se você acha que esse fator iniciante na política mais atrapalha que contribui.

Erick Musso: Vou começar contando um pouco da minha história. Fui candidato em 2008, tive 447 votos, não ganhei a eleição. Fui o candidato mais novo naquela época. De quatro anos pra cá eu vim fazendo esse trabalho e quando chegou em 2012, eu tive a honra de ter sido o vereador mais votado de Aracruz. Tive 1.546 votos.

Foi um trabalho muito eficaz, a população entendeu a nossa mensagem. Colocamos o nosso nome para presidente da Câmara – no primeiro momento eram cinco pré candidatos – em uma Câmara totalmente devastada, vamos dizer assim, por tudo que se passou em Aracruz. É uma votação aberta e nominal. Existe uma cédula onde o vereador precisa assinar. Ele marca em quem ele quer votar e o presidente daquela sessão, que é o vereador mais velho, no caso, lê os votos depois. Foi uma articulação muito bem feita, uma chapa única, nós tivemos várias conversas com os outros vereadores e passamos para eles o momento de renovação, da importância de termos uma mentalidade nova e atitudes novas.

A questão da idade sempre me atrapalhou um pouco. As pessoas achavam: “Ele é muito novo”, mas com atitudes e comportamento, com ações reais e diferenciadas você vai quebrando isso. Da campanha para hoje, eu te digo que já quebrei isso quase que na sua totalidade. Porque você vai mostrando na competência das ações que a idade, talvez, não tenha esse cunho de ser imaturo. A primeira coisa quando se vê a idade, você associa isso à imaturidade.

MB: À inexperiência…

EM: Exatamente. Sou jovem, mas tenho uma bagagem por conta de família. Meu avô teve quatro mandatos de deputado estadual, dois mandatos de prefeito, foi vereador. Já tive tios na política. É uma bagagem, é um berço familiar.

MB: Falando na sua família, o fato dela vir dessa política há muito tempo foi um incentivo ou uma pressão para você?

EM: Eu sempre costumo dizer aos amigos, na roda onde eu estou, que você não se cria político. É igual jogador de futebol, a pessoa nasce gostando, nasce com carisma, falando em público – o que não é uma coisa fácil – o meu avô sempre foi o meu espelho, o meu ídolo. Você vai incentivando, você vai buscando, você vai gostando, cada vez mais. Mas eu não tive pressão nenhuma. Foi uma coisa natural de acontecer por eu estar envolvido no meio, sempre trabalhando dessa forma. É óbvio que toda a história construída ao longo de mais de 50 anos pelo sobrenome, isso ajuda, mas não foi o fator principal de hoje eu ser vereador. Meu avô já é falecido, antes eu era o neto do Heraldo, o Erick. Hoje eu sou o Erick, neto do Heraldo. Essa ordem se inverte. Você cria uma identidade própria.

MB: Por uma conquista sua.

EM: Justamente. E hoje eu tenho o meu grupo político que tem 10% do grupo que era do meu avô, são pessoas novas, um novo momento também.

MB: Você e o Marcelo – prefeito – irão pegar essa prefeitura no meio de um caos – sequência de prisões de políticos envolvidos na Câmara e desvios de verba – Eu queria saber qual é a sua expectativa, se você tem essa ideia de imediato de consertar o que foi feito nesses quatro anos.

EM: A gente sabia do desafio que era. Mas não podemos justificar o “não fazer” no erro dos outros. Então temos que ter o equilíbrio. Nós temos que, ao mesmo tempo, ir consertando alguns erros e criando novos meios, caminhos de ir fazendo também. Não podemos justificar: “não estamos fazendo porque lá atrás não fizeram”. A população vai dar 90 dias para arrumar a casa, depois a cobrança virá e é natural que venha. Tem que vir mesmo.

MB: Eu gostaria que você falasse um pouco mais desse começo, da sua carreira. O que você projetava, se já tinha essa intenção – da presidência da Câmara – e qual a sua expectativa de crescimento político pessoal, que cargo você almeja.

EM: Eu sempre dizia que queria ser político, desde criança. Em 2006, fiz a minha primeira filiação partidária, eu estava com 19 anos. Em 2008, disputei minha primeira eleição. Foi um aprendizado muito grande, foi uma campanha que eu fiz sem nada. Eu tinha um carro de som que era o meu, e quando eu andava a pé, outro estava dirigindo… Santinho só o que o partido dava, não tinha estrutura nenhuma. E mesmo assim naquele momento, dentro de uma realidade de Aracruz, eu tive quase 500 votos, que é muito positivo.

Quando acabou a eleição eu já comecei a trabalhar. Naquela eleição eu tive o meu avô em vida ainda. E confesso que fiquei assustado, se com ele aqui eu não consegui… Eu perdi – com sua morte – a minha força política. Mas fui para a Assembleia, trabalhei com o Marcelo Coelho, que era então deputado, durante três anos, estive com ele durante a campanha de 2010 toda. Ele foi o deputado mais votado da história de Aracruz. Naquele momento, foi o quinto mais votado do estado, ele teve mais de 30.000 votos. Fui pegando conhecimento com ele. O Marcelo me ajudou muito, tenho muita gratidão por isso. Depois sem ele fui repassando isso. Cheguei a esse ponto, nessa honra de ter sido vereador. A minha responsabilidade quando eu fui o mais votado, dobrou. Quando eu fui eleito o presidente da Câmara, triplicou! Eu era de assessor de deputado, foi uma ascensão em seis meses muito brusca. E aí vem a sobrecarga de responsabilidade.

Aonde quer chegar, o político sempre quer disputar tudo, né… Meu finado avô dizia que político que é político tem que estar com o nome à disposição pra disputar o que for. Mas, ter notoriedade, ser conhecido no estado, representar o estado seria ótimo. Lógico que temos um sonho de um dia administrar o município, que já vem de uma longa história do meu bisavô que foi o primeiro prefeito de Aracruz, o meu avô, e hoje estou aí, levando esse legado. É de seguir uma carreira, aonde se chega está primeiro nas mãos de Deus e depois no fruto do nosso trabalho.

MB: O Marcelo Coelho tem você como aliado e vice e versa. Durante esses oito anos o município passou por diversas denúncias e prisões, o que acabou por colocar vereadores renomados politicamente na cadeia. O que você pretende como presidente da Câmara em relação a isso, a essas novas alianças políticas?

EM: Nós somos em 17 vereadores. Desses 17, 16 foram eleitos pela primeira vez.

MB: É um número considerável…

EM: Pois é. Três já são vereadores por suplência. O pensamento está muito positivo, são novas cabeças, novas ideias, novas atitudes. Aracruz sofreu com tudo o que passou, de políticos irresponsáveis, que queriam fazer da política um mecanismo somente para benefício próprio. E nós vimos aonde deu isso na nossa política. Políticos que batiam no bolso, diziam que iam comprar a consciência das pessoas, que eram donos do município, donos da cidade e levaram Aracruz pro buraco, para as páginas dos jornais negativamente. O que eu espero é uma união de esforços em prol de alavancar Aracruz, de mudar essa história, de mudar essa realidade, e construir uma nova Aracruz. Uma transformação no âmbito econômico, mas que possa ter essa transformação no âmbito social, de olhar quem realmente precisa do poder público que são as famílias mais humildes do município.

MB: Conta um pouco sobre o seu avô e bisavô na política de Aracruz.

EM: Meu bisavô é Luis Teodoro Musso, foi delegado do município, na época que delegado era dono da cidade… Em 1947 a sede do município de Aracruz era em Santa Cruz, que era Sauaçu. A data é registrada em livros – naquele: Faça-se Aracruz- tem uma passagem ali que e conhecida como “o roubo da sede”: meu bisavô, na calada da noite, transferiu a sede. Passou pelo rio Piraqueaçu de jangada, e a colocou em Aracruz. Nós sofremos politicamente durante muitos anos com a sede em Santa Cruz por conta desse atraso.

Meu avô, Heraldo Barbosa Musso, foi deputado estadual do Espírito Santo por quatro mandatos, foi prefeito de Aracruz por dois, vereador. Uma figura importantíssima na transição e na construção da fábrica – Aracruz Celulose –, junto com outros prefeitos. E eu, Erick Cabral Musso, levando a frente dessa história.

Com o berço praticamente em um gabinete, viu desde novo o que seus familiares promoveram na cidade em que nasceu. É sua vez de “levar a frente”, apoiado pelo prefeito e colega, e incentivado por outros vereadores jovens e quase todos também no primeiro mandato. Acredita ser possível fazer bom governo com trabalho sério e imediato.