A favor da inclusão

Por Anna Antoun

Gilda Beatriz Dória Mendes é a quarta mulher a ocupar uma das 14 cadeiras na Câmara Municipal de Petrópolis, em 169 anos de história. Psicóloga com especialização em educação inclusiva, Gilda coordena um projeto social que já ajudou centenas de crianças e jovens.

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Anna Antoun: Como surgiu a ideia de criar o ”Projeto Eficientes”?

Gilda Beatriz: Tudo começou quando há 13 anos nossa filha nasceu com síndrome de down e começamos a ver a dificuldade das pessoas com deficiência em relação a inclusão social no grupo escolar, no lazer e em toda a inclusão da pessoa. E principalmente nessa fase escolar nós sentimos uma dificuldade muito grande na aprendizagem por conta da deficiência. Eu via falta de tratamento e falta de preparo dos profissionais pra lidarem com ela. E como a gente tinha condição de fazer pela nossa filha, nós decidimos que íamos começar a ajudar. Eu já era psicóloga, aí eu decidi me especializar em educação inclusiva e começamos numa sala pequenininha que nós alugamos. Sempre contamos com muitos amigos e uma rede de profissionais que ajudaram como voluntários. E com o passar dos anos o projeto foi crescendo e hoje em dia é uma ONG que conta com o apoio da Secretaria de Educação e de alguns parceiros.

AA: Como funciona o projeto?

GB: Nós damos todo o suporte para as crianças, não só com deficiência. Algumas possuem transtornos globais e de desenvolvimento, transtornos de aprendizagem. Porque qualquer criança que sai dos padrões ”normais” é excluída. E a gente lá no projeto abre o coração pra poder ajudar, pra orientar as famílias e pra incluir, porque ser diferente é normal, né.(sic) Hoje nós atendemos cerca de 300 crianças por mês, contamos com mais de 50 funcionários que nos ajudam a levar mais qualidade de vida pra cada um e mostramos sempre que eles tem potencial.

AA: E agora que você está na Câmara, como pretende ampliar essa ”rede” de ajuda?

GB: Você na sociedade civil consegue ir até um ponto. E tinha coisas que me frustravam porque dependiam de eu ter uma caneta na mão, e essa caneta me moveu pra eu estar aqui hoje. Porque quem trabalha nessa área tem uma visão de coisas básicas que a criança tem de ter e que não existem, é tudo muito ”faz de conta”, como tirar foto e fingir. Na realidade a gente tem que cobrar as políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência, voltada pra uma inclusão real, de uma mãe levar o filho no colégio e ele estar lá não só socialmente, mas com aprendizado porque essa criança tem potencial pra isso. Só que depende de toda uma estrutura que não se tem. Então agora, aqui no legislativo, pretendo trabalhar não só nessa área mas na inclusão social. Se a gente for pensar no jovem no primeiro emprego, ele é excluído porque não tem qualificação, ele faz uma universidade ou faz o segundo grau com curso técnico mas quem olha a carteira e vê que nunca foi assinada geralmente não cede a oportunidade. Então nós temos que criar politicas publicas pra ajudar também esses jovens a entrarem no mercado de trabalho. E tem o idoso, que acaba sendo deixado de lado, é abandonado. Esquecem que ele também tem que sobreviver, esquecem que ele tem que participar ativamente na sociedade. Então o que eu falo, não é só do deficiente, é uma inclusão do ser humano. E criança, jovem e idoso eu adoro. Eu acho que tudo que é fácil todo mundo quer fazer, o trabalhoso geralmente é deixado de lado. Só trabalha com idoso e deficiente quem gosta, e tem que ser com muito amor.

E agora eu to adorando poder ter essa caneta na mão, e aliás eu falo isso com muita humildade, porque o poder que eu tenho é pra poder ajudar mais, porque ainda tem muita gente que precisa, e agora eu tenho que cumprir com os compromissos de vereadora. E Petrópolis tá muito carente, você vê, os jovens tem que sair da cidade pra fazer uma boa faculdade e ir atrás de boas oportunidades. Aqui, o mercado de trabalho é muito limitado e isso é prejudicial. O que eu puder tá mostrando e assim sensibilizando o poder executivo pra gente trazer projetos, ajudar a trazer mais parcerias pra cidade pra isso não acontecer mais no futuro, eu farei.

AA: E pra finalizar, você sente uma responsabilidade maior sendo a única mulher ocupando umas das cadeiras aqui na câmara?

GB: Primeiramente eu me sinto privilegiada por estar representando as mulheres e a gente sabe que tem um preconceito muito grande porque senão não estaria só eu ali no meio de 14 homens. Então eu tenho uma responsabilidade ainda maior por estar ali representando a nossa classe e mostrar que a gente tem tanta capacidade quanto os homens. E que numa próxima legislatura a gente possa tá trazendo mais mulheres porque eu acho que esse equilíbrio é muito importante. Eu quero tentar abrir a mente do pessoal aqui dentro pra que possamos trazer mais essa inclusão para a cidade.

 Gilda disse ainda que tem muito trabalho pela frente e que precisamos ir sempre atrás do sim porque o não nós já temos. Por fim, ela afirmou que “A maior deficiência é a falta de consciência”.