Turismo Marianense: uma experiência intercultural

Por Andrezza Lima, Ívina Tomaz, Lara Cúrcio, Lucas Campos e Mariana Araújo

Mariana, a primeira capital mineira, é um grande atrativo turístico pela sua riqueza cultural e histórica. Em entrevistas, comerciantes e guias turísticos expõem a visão marianense sobre os visitantes que recebem. Repórteres em campo mostram como ocorre a troca de experiência entre ambos.

Localizado na Rua Direita, em Mariana, o CAT atende e fornece dados aos visitantes que buscam conhecer um pouco mais sobre a cidade. Imagem: Andrezza Lima

Localizado na Rua Direita, em Mariana, o CAT atende e fornece dados aos visitantes que buscam conhecer um pouco mais sobre a cidade. Imagem: Andrezza Lima

O guia turístico Kênio Maximiliano, 32 anos, é formado em turismo técnico na escola Ética e fala espanhol, francês, além de estudar o inglês e alemão. Ele se interessou pelo ramo turístico logo cedo, com 16 anos, por ser encantado com as riquezas históricas de sua cidade. De acordo com dados fornecidos pelo Centro de Atenção ao Turismo (CAT), Kênio é um dos quatro guias atualmente cadastrados na cidade de Mariana.

#tecer – Como você lida com os turistas estrangeiros que falam um idioma que você não domina? Kênio – Normalmente, quando vêm grupos internacionais à Mariana, um intérprete/coordenador/técnico, formado em vários idiomas, os acompanha. Esse técnico geralmente domina as línguas que falo, então me comunico com ele e, por fim, ele traduz ao grupo. O objetivo dele é orientar os turistas em todos os aspectos.

Dos visitantes que você já recebeu ao longo dos anos, você já manteve algum vínculo de amizade com eles? Com certeza! Passamos vários momentos juntos, nos tornamos uma verdadeira família. Já desenvolvi vínculos de amizade que perduram até hoje. Eu mantenho contato com muitos dos amigos turistas que fiz, inclusive, muitos deles, quando voltam, ficam hospedados em minha casa por se sentirem acolhidos.

Algum turista já morou com você? Sim. Eu namorei uma francesa por dois anos e meio, ela chegou a morar comigo.

Como você a conheceu? Ela veio ao Brasil para estudar a história do país e se interessou por Minas Gerais. A princípio, ela se estabeleceu em Ouro Preto, foi lá que nos conhecemos. E passamos a nos encontrar mais, desenvolvemos uma amizade e criamos um laço amoroso. Posteriormente, ela veio morar comigo em Mariana. Ela me ajudou muito a falar francês. O nosso relacionamento teve fim quando ela concluiu os estudos no Brasil e teve que retornar à França devido ao vencimento de sua autorização para permanecer no Brasil. Mas continuamos mantendo uma relação amistosa e temos uma tradição de trocar presentes no Natal.

Já ocorreu algum acontecimento inusitado durante esses anos de exercício de profissão? Lembro perfeitamente de um roteiro, no qual fui contratado pra apresentar Minas e Rio de Janeiro a um grupo de turistas da região de Cannes, na França. Eles trabalhavam para um hotel e eram bastante divertidos. Havia um Peruano que subiu no chafariz para tirar fotos engraçadas, escorregou e feriu a cabeça. O levamos ao hospital e amarraram uma faixa engraçada na cabeça dele. Depois de recuperado, ele ficou encantado pela enfermeira e tentou “cantá-la”. Então decidimos voltar e continuar o trajeto. No caminho, o pneu do ônibus furou. Chegamos tarde à Parati. Havia um restaurante nos esperando, mas fecharam por causa do atraso. Estávamos famintos. O único local aberto era um trailer. Pedi  45 hambúrgueres, mas não tinham ingredientes suficientes. Voltamos para o hotel, ainda famintos. O recepcionista disse que podíamos comer o que havia na cozinha, porém teríamos que preparar. Haviam três cozinheiros no grupo. Eles prepararam rapidamente os sanduíches. Nunca havia comido algo tão gostoso. Foi uma aventura inesquecível. Ainda mantenho contato com eles. Antes de partir, me presentearam com várias lembranças. A caixinha de lembranças que me deram foi uma das maiores gorjetas que ganhei durante a minha vida. Gorjeta que superou o valor do contrato da agência que solicitou o meu serviço.

Além do retorno econômico, o que o turista representa pra você? O fato de eu estar nessa área, justamente por algo que existe de maneira natural e com muito amor, é tão bom quando você adquire uma profissão que você faz realmente com amor. O fato de ter vindo significa muito, pois ele vem em busca de um novo ambiente, uma visão diferente e de uma outra cultura. O turista não precisa de um livro, de uma leitura e nem de uma escritura, o que irá marcá-lo é a conversa. Isso dará a ele o que precisa. Percebo que o turista está, geralmente, tranquilo, sorridente e quer aproveitar ao máximo a visita. Isso contribui bastante para que eu possa transmitir tudo o que tenho de bom. Ao decorrer da visita trocamos experiências. Os visitantes acabam me contando o que tem na região deles. Isso amplia nosso discurso, gerando uma conversa muito legal e, sobretudo, momentos inesquecíveis.

Girlei Ferreira mora em Mariana e há quatro anos possui uma loja de artesanato no centro da cidade. Ela acredita que o turismo proporciona trocas culturais que enriquecem a sua vida.

#tecer – Você se sente gratificada com o exercício da sua profissão? Girlei – Com certeza! Me sinto muito gratificada. Gosto muito do artesanato, é o que sei fazer, o que eu já tinha em mãos, por isso montei a loja.

O que os turistas representam pra você? A gente depende deles. Acho muito legal vir uma pessoa de longe na cidade da gente. Se interessam por ver, conhecer os casarões, acham muito bacana. Gosto de conversar com eles também. Às vezes acontece de voltarem e dizer que estiveram aqui no ano passado. Perguntam se me lembro e acabo lembrando. Pegam o número de telefone e algumas vezes ligam.

Possui algum curso de idiomas? Não. Não falo nenhum outro idioma.

Então, como se comunica com os turistas estrangeiros? O turista já chega falando alguma coisa do português. Ele já conhece o dinheiro, já sabe olhar preços. Quando não sabe nada, aí é complicado! Porque aí é mímica mesmo, vai com o dedo.

Tatiana, recepcionista de uma pousada no centro de Mariana, conta que gosta de trabalhar com o turista pois tem a oportunidade de fazer novas amizades e conhecer pessoas diferentes.

#tecer – O que te motivou a exercer essa profissão? Tatiana – Aconteceu por acaso, minha mãe trabalhava na mesma pousada e eu vim trabalhar aqui também. Estou aí até hoje.

O que o turista representa pra você? É bom trabalhar com algumas pessoas, mas tem algumas que não são legais, que nos tratam mal e, por isso, não representam nada.

Você possui algum curso de idiomas? Não, todos os empregados do hotel vão começar um curso agora.

Você aprende algo com o turista no dia-a-dia? Às vezes. Certa vez, uma mulher ficou hospedada aqui por uma semana. Ela ensinou para todos os funcionários como receber bem o turista e arrumar a pousada. Ao longo dos dias ela foi dando umas dicas para melhorar o atendimento daqui. Ela é dona de um hotel. Foi uma ótima troca de experiências para nós.

Edição geral: Lucas Campos Edição de abertura: Ívina Tomaz Reportagem: Andrezza Lima, Lara Cúrcio e Mariana Araújo Imagem: Andrezza Lima