Invisiveis para a população de Mariana

Por Aleone Rodrigues, Cleonice Silva, Èrica Rangel, Francielle Oliveira, Luana Barros e Matheus Maritan

As largas avenidas e sombrios viadutos – lugares marcados e temidos pela constante presença de moradores de rua – não são as únicas construções que abrigam pessoas nessa condição. Pequenas cidades históricas como Mariana, em Minas Gerais, também acomodam esses “invisíveis”, que segundo um dos entrevistados, que não quis se identificar, são tratados com descaso e indiferença, desde que não incomodem turistas, comerciantes e moradores.

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A reportagem no Terminal Turistico, em Mariana, com Alzira. Imagem: Francielle Oliveira

Em  entrevista, Alzira Anunciação da Costa, 26 anos, moradora de rua desde criança, conta entre momentos intercalados de lucidez, embriaguez e dificuldade de concentração, um pouco da realidade de um morador de rua.

Por Matheus Maritan

#tecer – Que motivos te levaram a morar na rua?

Alzira: Moro na rua porque chego dentro de casa e meus irmãos ficam me espancando. Sou mais morar na rua.

Há quanto tempo você usa drogas?

Comecei a fumar desde os 9 anos, quando vi o meu irmão fumando.

Você já foi internada em alguma clínica de reabilitação?

Sim, já fui internada por causa da bebida alcoólica e das drogas, mas quis sair.

Cláudia é assistente social e trabalha no Centro de referência especializada da assistência social (CREAS) na cidade de Mariana. O principal trabalho realizado pela instituição é o encaminhamento e a inserção de pessoas mais carentes ao mercado de trabalho e em suas respectivas famílias.

Por Aleone Rodrigues e Cleonice Silva

#tecer – Qual é a função do CREAS na cidade de Mariana?

Cláudia – O CREAS junto com a prefeitura desenvolve um trabalho para melhorar a qualidade de vida das pessoas mais carentes, incluindo moradores de rua. Nosso trabalho consiste em inserir essas pessoas no mercado de trabalho e principalmente em suas famílias, além disso, o CREAS oferece atendimento psicológico, encaminhamento médico pelo SUS (Sistema único de saúde) e condições para essas pessoas realizarem suas higienes pessoais como lavar roupa, tomar banho e entre outras.

Todos os moradores de rua que vivem em Mariana são da própria cidade ou vem de outras regiões?

A maioria deles é da cidade de Mariana, mas existem aqueles que vieram de cidades próximas. Muitos vêm para Mariana com a ilusão de conseguir um emprego ou até mesmo de melhorar de vida. Ao chegar à cidade poucos conseguem ter um emprego e acabam se deparando com o desamparo.

Por que eles não pedem ajuda para seus familiares?

Muitos deles pedem ajuda para seus familiares, porém algumas famílias negam a oferecer. Geralmente, essas famílias que negão a oferecer ajuda para o membro que saiu de casa, certamente houve algum desentendimento no passado ou ele dava algum tipo de trabalho para seus familiares e quando uma família apresenta resistência em receber novamente o membro que saiu de casa, o CREAS entra com o programa de inserção familiar. Existem casos que ocorre o inverso, as famílias tentam ajudar o membro que está morando na rua, mas eles não aceitam a ajuda por achar que aquele caminho é melhor para ele, quando isso acontece encaminhamos eles para um psicólogo, com o intuito de reverte essa situação.

Fundada por volta de 1965 à casa de sopa tia Lica, é uma instituição que oferece refeições gratuitas a pessoas carentes. No principio a casa atendia apenas crianças e gestantes, com o passar dos anos o publico foi se modificando e atualmente ela atende pessoas carentes, andarilhos e moradores de rua. Beth é uma das funcionarias da instituição onde contou de forma mais detalhada sua história e o comportamento dos moradores de rua durante as refeições.

Por Francielle Oliveira

#tecer – Como foi fundada a casa de sopa Tia Lica?

Beth – Foi fundada por volta de 1965, por tia Lica. No principio a instituição oferecia apenas sopa para crianças e gestantes, não existindo outro publico especifico. No ano de 1978, tia lica começou a ter problemas de saúde, impossibilitada,  a casa passou ser administrada pela obra social Monsenhor Horta. Após sua administração sofrer  modificações, os moradores da zona rural começaram a serem atendidos e mais tarde os moradores de rua.

Atualmente, qual público frequenta a Casa da Sopa?

São geralmente pessoas mais carentes, moradores de rua e andarilhos. Nos últimos meses a rotatividade de pessoas está sendo bem pequena. Está sempre sendo as mesmas pessoas que frequenta a instituição, dificilmente aparece um novo membro.

Em média, quantas pessoas passam pela Casa da Sopa?

São em média de 50 pessoas por dia. Dessas 50 pessoas, 20 são moradores de rua. As outras são pessoas carentes e andarilhos.

.Em quais dias e horários são oferecidos os almoços?

A casa de sopa tia Lica oferece almoço de segunda à sexta feira, das onze as onze e meia da manhã. Nos finais de semana não seria viável oferecer almoço, pois esse público fica muito disperso, apenas um ou outro poderia vir fazer as suas refeições, além disso, a instituição teria que receber uma ajuda de custo maior para manter essas refeições nos finais de semana.

Como a Casa da Sopa se mantém nos dias de hoje?

A casa de sopa recebe ajuda da fundação Monsenhor Horta, além disso, a partir de 2010 ela começou a receber subsídios da prefeitura de Mariana e doações feitas pela população.

Como os moradores de rua se comportam no momento das refeições?

Eles são educados, todas as vezes que chegam fazem uma fila para pegar seu almoço, sentam em seus devidos lugares, conversam com os outros moradores, eles sempre respeitaram os funcionários da instituição, raramente se mostram agressivos e quando estão neste estado à guarda municipal é acionada.

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Edição Geral: Luana Barros

Edição de Abertura: Érica Rangel

Reportagem: Aleone Rodrigues,Cleonice Silva,Francielle Oliveira e Matheus Maritan

Imagem: Francielle Oliveira