Fabrício e o mundo lá fora

Por: Gustavo Kirchner

Desde criança Fabrício demonstrou um interesse tanto quanto característico pela prática do desenho, esse vício pela arte fez com que ele conquistasse muito do que sempre sonhou. Proporcionou também, que ele passasse por lugares nunca antes imaginados na cabeça de uma criança que só pensava em rabiscar e colorir folhas de papel. Mais que isso, o desenho o levou a dar vida a um mundo que antes era como uma folha branca, pronta pra ser desenhada conforme as necessidades, mandos e desmandos do artista. Essa é a história de Fabrício Borborema Campos, nascido em São Sebastião do Paraíso, interior de Minas Gerais. Um homem que fez da ilustração um meio de colorir a vida.

Gustavo Kirchner: Como foi o seu início de carreira?

Fabrício Borborema: Eu trabalhava com ilustração, acompanhava uma revista especializada nisso e um dia comecei a reparar nos anúncios de cursos voltados para a área de computação gráfica. Fui fazer esses cursos, no começo não pensava que ia me identificar tanto, fui mais pra encher currículo.

G: Onde você foi fazer esses cursos?

F: Em São Paulo capital, morava em Campinas na época, mas fiz em São Paulo.

G: De onde surgiu a decisão de sair de São Sebastião do Paraíso e ir morar em Campinas?

F: Aqui (São Sebastião do Paraíso), para o que eu fazia na época, não tinha muito mercado, eu dava aulas de desenho. Eu tinha o intuito de ser ilustrador. Assim que consegui um trabalho em Campinas, me mudei

G: Qual foi seu primeiro emprego lá?

F: Eu comecei em uma empresa de vitrais, lá eu fazia desenho artístico, como imagens sacras… Trabalhei lá por uns três anos e aos poucos fui direcionando meu trabalho para o que eu gostava, que era ilustração infantil e ilustração publicitária, entre outras coisas.

G: E como era a vida lá?

F: Eu acho que por sempre ter morado em cidade pequena você acaba estranhando um pouco, o ritmo lá é outro, parece que lá tudo passa mais rápido, você não tem tempo pra muita coisa. Ir trabalhar por exemplo, eu gastava uma hora pra ir e uma hora pra voltar , perdia muito tempo nisso, coisa que aqui não acontece.

A saudade de casa também é complicado, quando me mudei tinha mais ou menos uns 22 anos e ter que acostumar com uma outra cultura de pessoas é difícil. Lá eu morava com uma tia, mas mesmo estando com familiares não era a mesma sensação de estar em casa.

G: E por que você saiu de Campinas?

F: Em Campinas mesmo comecei a procurar trabalho na área de computação gráfica, e tinha uma empresa onde eu queria muito trabalhar no Rio de Janeiro. Então comecei a montar um portfólio para trabalhar lá.

Demorou um tempo até conseguir esse trabalho, mas consegui, e no Rio foi diferente de Campinas, porque em Campinas eu tinha um pouco de família e amigos, no Rio eu não conhecia ninguém. Foi um desafio eu ter que ficar na casa de uma pessoa que eu nunca vi. Por um lado foi bom, ter que confiar mais nas pessoas foi interessante.

G: Como foi o processo de mudança pro Rio, como foi ir morar lá?

F: Bom, a minha casa era o que eu tinha na mala! Na época eu conversava com uma menina que morava lá e trabalhava com a mesma coisa que eu. Quando cheguei no Rio mandei um e-mail pra ela perguntando sobre lugares pra ficar, ela me respondeu passando um contato de uma pessoa que conhecia outra pessoa que poderia me ajudar, foi meio que um tiro no escuro, essa pessoa disse que eu podia ficar lá por uma semana, mas que arrumasse um lugar pra ficar.

Depois dessa semana, consegui um lugar pra ficar em definitivo, fui pra uma pensão perto do lugar onde eu trabalhava, e pra mim foi um choque, porque eu ia ter que dividir quarto com mais duas ou três pessoas. No primeiro dia só fui chegar do trabalho às duas horas da manhã… Imagino que pra eles também tenha sido difícil.

Mas no geral o pessoal foi bem receptivo, acho que tanto em Campinas quanto no Rio a relação de confiança das pessoas seja melhor, talvez por se tratar de grandes centros, as pessoas são mais abertas a receber melhor os que vem de fora.

Uma coisa que me surpreendeu foi mudar minha opinião a respeito de como era a vida lá, sempre via na televisão cenas de assaltos, roubos e muita violência, mas chegando lá vi que não é assim, faz parte da rotina lá ter que passar em frente uma favela ou por ruas mal iluminadas, bairros vazios, mas nada é igual o que a televisão mostra.

G: O que te marcou nessas grandes cidades por que você passou?

F: Quando eu ia pra São Paulo, fazer os cursos, acho que na primeira vez que eu fui, chegar na rodoviária e ver aquele tanto de gente me impressionou um pouco, no Rio eu acho que conhecer a cidade que antes eu só assistia na televisão foi bem marcante, o fato de estar concretizando um sonho também foi muito especial pra mim.

Quando comecei a trabalhar na empresa que eu queria, olhar pro chão e ver o nome da empresa estampado no tapete e pensar: “poxa, eu consegui!” foi bem legal também.

Outra coisa que vale ressaltar é que no meu tempo de formação também existiam pessoas que eu admirava e que trabalhavam lá, e ter a oportunidade de estar trabalhando ao lado de uma pessoa dessas foi muito gratificante, uma pessoa em que você se espelhava de repente estar no computador ao lado conversando com você é incrível!

G: O que você planeja para o futuro?

F: Continuar trabalhando com isso, sempre desenhei, não é agora que vou parar! (risos)

Atualmente Fabrício está em sua terra natal, trabalhando em casa e esperando por mais oportunidades de viagem e trabalho em diferentes pontos do país. O garoto que costumava desenhar em folhas de papel em branco agora modela personagens para animação em 3D, nunca imaginaria ter tantas conquistas, mas fez questão de traçar linhas bem retas pra chegar onde chegou.