Turismo por trás dos benefícios

Por Caio Aniceto, Igor Capanema, Joyce Fonseca, Silvia Cristina Silvado e Thatyanna Mota

Rua Direita, Ouro Preto. Foto: Joyce Fonseca

Rua Direita, Ouro Preto. Foto: Joyce Fonseca

A cidade de Ouro Preto é visitada anualmente por cerca de 500 mil pessoas. Patrimônio Cultural da Humanidade, recebe turistas de todos os pontos do planeta. E apesar da grande visibilidade, a população não parece totalmente satisfeita. Para entender melhor o funcionamento do turismo na cidade, foram entrevistados um morador, um comerciante e uma turista. Os preços de produtos e serviços em geral foi um dos temas.  A permanência dos estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), os festivais culturais que ocorrem anualmente e a postura dos governantes com relação ao turismo também foram discutidos com alguns dos entrevistados.

O turismo, tanto na opinião dos moradores como dos turistas, é benéfico para Ouro Preto. Entretanto, apesar de ser um local atrativo cujo fluxo turístico traz renda à região, ainda apresenta problemas de infraestrutura. O capital que circula em Ouro Preto proporciona grande aumento dos preços de aluguéis residenciais, fazendo com que o município enfrente dificuldades.

Por Caio Aniceto

Catherine Beuvre é canadense e conhece grande parte dos países sul americanos. Aproveitou suas férias para visitar o Brasil. De todos os destinos possíveis, escolheu o Rio de Janeiro e a cidade histórica de Ouro Preto.

#tecer – O que você acha dos preços de lojas e restaurantes aqui?

Catherine Beuvre - Acho que há uma grande variedade nos preços. Não são baratos e às vezes podem ser bastante caros, então não é um lugar barato para se visitar como a maioria das cidades turísticas na Argentina e até mesmo no Chile.

E quanto aos hotéis e pousadas? Eles cobram um preço razoável?

Na verdade, estou hospedada em um albergue, justamente por ser mais barato. Mesmo assim, não estou pagando pouco.

Você acredita que a população nativa pode pagar pelo entretenimento em Ouro Preto?

Pensei bastante nisso porque os preços são bastante altos, ou talvez os mesmos do Canadá. Vejo que há muitas pessoas que vivem aqui e não possuem todo esse dinheiro, então suponho que para muitos brasileiros seja difícil viajar a Ouro Preto. Mas conheci muitos brasileiros viajando, então acho que algumas pessoas podem pagar por isso e outras não.

Ouro Preto é também uma cidade universitária e muitos estudantes e nativos reclamam disto. Por exemplo, não se pode simplesmente ir a uma igreja ou museu sem pagar uma taxa. Você acredita que, nesse sentido, essas pessoas tenham uma visão do turismo como algo negativo?

Não, não acho que seja algo negativo. Claro que há alguns desafios econômicos, mas o turismo é uma coisa boa, principalmente no que se refere à expansão da própria cidade. Talvez pudessem ser criados preços diferentes para habitantes locais e turistas. Quanto a cobrarem taxas para museus e igrejas, a mesma coisa acontece no Canadá. Quando minha mãe vai a essas igrejas ela costuma dizer: “não vou pagar, estou aqui para rezar!” (risos). E então a deixam entrar.

Você acredita que os donos de estabelecimentos comerciais locais aumentem o preço de suas mercadorias por causa dos turistas?

Talvez. Eu não fiquei ciente disso aqui, mas é tão óbvio quando uma pessoa é turista que eu não tenho dúvidas de que algumas pessoas queiram tirar vantagem disso. (risos).

Por Joyce Fonseca

Evaldo de Freitas é nativo e morador de Ouro Preto. Atualmente motorista de ônibus, trabalhou também como taxista na cidade.

#tecer – Você acredita que o turismo seja benéfico para a cidade?

Evaldo de Freitas – Sim. Mas acho que deveriam abaixar os valores dos imóveis. O aluguel aqui é muito caro, pousadas são caras. O táxi aqui em Ouro Preto é muito caro, às vezes você pega um táxi na praça Tiradentes para a Rodoviária, coisa de um minuto e você paga R$10,00 ou R$15,00 é um absurdo.

E aqui eles não usam taxímetro, não é?

Taxímetro aqui em Ouro Preto não funciona porque os locais são muito próximos. Eles até tem uma tabela, só que aumentam os preços principalmente em feriados. Uma corrida que hoje, no caso, deve ser em torno de R$20,00 chega em época de Carnaval a custar R$30,00 ou R$40,00. Ouro Preto para Mariana, não tenho certeza, mas se uma corrida custa R$50,00, nessa época cobram R$70,00 ou R$80,00. Eles aumentam por causa do turismo.

Com relação ao dinheiro que circula na cidade devido ao turismo, o que você tem a dizer?

Na verdade, por causa da UFOP os alunos de fora trazem mais dinheiro do que os próprios moradores. Por exemplo, o aluguel de uma república particular gira em torno de de R$1.000,00 ou R$2.000,00, daí para cima. O comércio lucra mais de 100% em cima de cada um de seus produtos.

Como natural de Ouro Preto e tendo sempre vivido aqui, o que você diz sobre o gastos pessoais na cidade?

Sempre gastei muito. Não pago mais aluguel, mas costumava ser caríssimo. Hoje não se encontra em Ouro Preto uma casa pequena por menos de R$500,00 mensais. Uma pessoa que recebe um salário mínimo não pode pagar este preço e sobreviver.

Com todo este capital de giro, você acredita que os serviços públicos tem qualidade?

Nem todos. Principalmente o transporte público em Ouro Preto, fornecido pela mesma empresa com nomes diferentes, administradas por pai e filho.

Você tem alguma sugestão do que poderia ser mudado no que diz respeito ao turismo na cidade? Algo que poderia talvez balancear o fato de os preços serem tão altos?

Como eu disse, os produtos precisam ter seus valores diminuídos. Há épocas movimentadas em que as pessoas não gastam nada em Ouro Preto pois sabem que os valores são altos. Acredito que se os preços abaixassem, mesmo que fosse uma passagem de ônibus, a vida ficaria mais aconchegante para eles e para nós.

Por Thatyanna Mota

Sidney Marcolino é gerente do Café Chopp Real, localizado no centro turístico da cidade de Ouro Preto. Gerente a seis anos, Marcolino trabalha com diversos públicos, como nativos, estudantes e turistas. O Café funciona como choperia e também serve refeições, com preços que variam de R$17,90 a R$45,00. O gerente diz que a cidade, apesar de mal explorada, pode gerar grandes lucros por ser próspera e constantemente visitada.

#tecer – Por que Ouro Preto é uma cidade com pouco aproveitamento turístico?

Sidney Marcolino – Os governantes não sabem explorar o turismo, que possui um potencial muito grande nessa cidade. Não há estacionamento direito, nem uma estrutura boa para os comerciantes. Ouro Preto é uma cidade muito cara, com os preços que se assemelham aos europeus. E isso acontece tanto para o turista, quanto para os moradores. Por ser uma cidade histórica e turística, a população paga o preço absurdo causado pelo turismo.

E os festivais que movimentam a cidade?

Os festivais são bons, mas mal divulgados. Eu participo sempre, e deixam a organização sempre para a última hora. Quando chega, não conseguem fazer direito.

Você já teve algum problema nesse sentido com o estabelecimento em que trabalha?

Não. O único problema que tenho, como já disse, é a falta de planejamento. Já ouvi muitas reclamações por causa da falta de estacionamento, apesar do prefeito estar tentando resolver. Além da falta de água, causada pelo alto contingente de pessoas na cidade.

E a competição na sua área, você acha grande o suficiente para dar um equilíbrio nos preços?

Não. Ouro Preto tem espaço pra todo mundo. Sabendo trabalhar com qualidade, tem espaço para todos. É uma das cidades mais visitadas do mundo, só que as autoridades não sabem aproveitar isso.

Atualmente,  qual o maior problema de Ouro Preto em relação ao turismo?

São as autoridades que não conseguem administrar o público visitante. O público vem, mas quase não fica na cidade, pelos problemas que já disse, como o estacionamento e os preços altos de moradia e alimentação. Então eles preferem ir para outro lugar, como Tiradentes e São João Del Rey. O Festival Gastronômico, por exemplo, era muito conhecido, mas as pessoas estão preferindo ir para cidades que compensem mais. A sinalização nas estradas também é outra dificuldade. São estradas mal conservadas, com ausência de placas ou com pouca visibilidade, que impedem o acesso à cidade e geram muitas reclamações. Por ser um lugar histórico, deveria ser mais cuidado. Ouro Preto recebe muito investimento, além de ser um patrimônio histórico mundial. Entra muito dinheiro aqui, como os royalties das mineradoras, mas o custo de vida fica caro. Pra termos um preço melhor, tenho que fazer as compras no Ceasa, porque o preço dobra se eles entregarem. Tudo isso reflete no cardápio, pois tenho que pagar funcionário, mandar fazer os uniformes e materiais, entende? Além disso, a prefeitura não qualifica a mão de obra, como garçom, cozinheira e até mesmo os guias. A cidade precisa de mão de obra qualificada, que não existe.

Você acha que isso pode ser um problema na Copa?

É um problema. Só ouvi falar do curso de inglês do governo, mas a prefeitura poderia estar investindo nisso. Não precisa ser gratuito, pois seria um investimento bom para ambos. A cidade será mais receptiva, com um melhor atendimento. São fatos que deixam a gente chateado, porque potencial e pessoas dispostas a trabalhar existem, mas a prefeitura não auxilia na capacitação. Nós precisamos dos governantes. Isso acontece no país inteiro, mas Ouro Preto está ficando pra trás em tudo, até Mariana está ganhando de nós. Possuímos espaço e estamos fazendo tudo na legalidade. Trazemos funcionários pra trabalhar, só que sem a ajuda dos governantes fica difícil, já que para conseguir qualquer alvará aqui é uma dificuldade. Os turistas que vem não conhecem direito e acham as taxas dos museus e igrejas muito caros. Se houvesse uma taxa única para visitação, já seria uma grande mudança.

Edição Geral: Igor Capanema

Edição de Abertura: Silvia Cristina Silvado

Reportagem: Caio Aniceto, Joyce Fonseca e Thatyanna Mota

Imagem: Joyce Fonseca