Ouro Preto e Mariana pelo olhar vegetariano

Por Alissa Durkes, Anna Flavia Monteiro, Daniela Felix, Natane Generoso e Pedro Menegheti

 A falta de opções vegetarianas em cidades universitárias, como Mariana e Ouro Preto, levanta discussões entre os adeptos a esse estilo de vida. Conversamos com três pessoas que nos contaram um pouco sobre esse hábito alimentar  e a dificuldade em manter-se fiel à ele nessas duas cidades históricas.

Eduardo Mognon Ferreira, estudante vegano que compara a qualidade de vida entre os adeptos de Santa Catarina e Minas Gerais, Arnaldo de Almeida, também vegano e professor de Yoga em Ouro Preto, que faz uma crítica aos consumidores de carne e Leandro Tropia Pinheiro, dono do restaurante ouropretano  O Passo, que conta sua experiência nesse ramo.

Eduardo Mognon Ferreira, 20 anos, de Florianópolis, cursava história na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), veio estudar no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), através da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Por Alissa Durkes e Daniela Felix

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Eduardo Mognon Ferreira. Foto: Daniela Felix

#tecer – O que te levou a vir estudar na Universidade Federal de Ouro Preto?

Eduardo – Pelo fato que a História aqui é mais viva, para ter um acompanhamento a mais e também uma nova experiência como estudante.

Por que você optou pelo veganismo?

Eu acredito em três alicerces que coabitam o pensamento de ser vegano: primeiro, os animais, segundo, minha saúde e terceiro, o planeta. E a partir do momento em que eu vejo esses três alicerces, eu busco minhas necessidades. Tenho um amor aos animais, que acredito serem seres dignos como quaisquer outros, que merecem o mesmo respeito. A minha saúde, porque eu não consumo carnes, nas quais há um grande número de agrotóxicos, vacinação e esteróides. E o terceiro ponto é o planeta, porque a gente sabe que um dos grandes causadores do efeito estufa é a criação de gado.

Em Florianópolis você tinha maiores opções para uma alimentação vegana  adequada?

Sim, muito mais opções, por causa do tradicionalismo que Minas Gerais carrega, pelo próprio comportamento do uso da carne como algo natural, que é diferente de onde eu vivia, já que Florianópolis tinha uma visão totalmente cosmopolita, ampliada das consequências do uso dos animais. Lá a gente tem quase metade da população já adotando o vegetarianismo não integralmente, mas parcialmente com a carne vermelha, muitas vezes com a carne de frango, dando mais opção para o peixe, que é muito recorrente em Santa Catarina.

Quais as dificuldades que você encontra aqui?

Primeiramente, a falta de opções de verduras e frutas, opções de queijos e outros laticínios em versão vegana nos supermercados,  e também uma certa imparcialidade das pessoas em entender tanto os conceitos de vegetariano quanto de vegano. Muitas vezes, claro que isso não compete a mim, como eu tenho um discernimento maior, existem pessoas que também tem essa opção,  porém não tem a motivação para se tornar tanto vegetarianas quanto veganas, e as que tem um emocional um pouco mais acobertado, que não conseguem entender completamente esses conceitos, se sentem menosprezados com piadas envolvendo os animais e você. E também vão desanimando em aderir o movimento.

Você costuma comer no Restaurante Universitário da UFOP?

Não, eu não consumo comida no Restaurante Universitário pela falta de opção vegetariana, que não atende à demanda de proteínas do corpo .

Se você pudesse falar algo ao prefeito, em prol de todos os veganos da cidade, o que você diria?

Acho que a princípio ele  deve pensar em um projeto,  tentar buscar alguma política pública  que atenda a racionalização da alimentação. A partir disso, pedir um levantamento de quantos vegetarianos habitam Mariana e dessa porcentagem, atribuir alguns eventos para compor uma nova ideia do vegetarianismo dentro de uma cidade tradicional como Mariana.

Arnaldo de Almeida, 61 anos, yogi, instrutor de Shivam yoga, massoterapeuta e vegetariano há 39 anos.

Por Anna F. Monteiro

Arnaldo de Almeida

Arnaldo de Almeida. Foto: Daniela Felix

#tecer – Quais os motivos que o levaram à adotar a dieta?

Arnaldo – Difícil responder…Eu já tinha dificuldade em comer carnes, apesar de crescer na roça. Eu não gostava da carne, passava mal e só conseguia comer peito de frango às vezes. Quando eu li um livro sobre a alimentação vegetariana, no mesmo dia, decidi não comer mais carnes. Creio que foi em 1974,  1975. Então, 38, 39 anos que não como carne de espécie alguma.

Qual a sua conduta em relação àqueles que não são adeptos da doutrina?

Eu trabalho com isso anualmente, dou curso de informação em Shivam Yoga e massoterapia indiana. Nesses cursos, temos uma apostila com cerca de 30 páginas com o porquê de se tornar vegetariano ou lactovegetariano. Nessa apostila, tem vários argumentos que sustentam tal escolha. Ao longo desses 39 anos, eu venho desenvolvendo às vezes mais tolerância, às vezes menos para com os “carniceiros”. Atualmente, estou numa fase com menos tolerância de ver as pessoas com uma ignorância tão grande, falta de informação… É ignorância mesmo, no sentido lato do termo. As pessoas têm muita dificuldade em refletir sobre qualquer coisa – religião, comportamento, alimentação, hábitos. Isso não se desenvolve no Ocidente, esse caminho de meditação, de reflexão. A vida é sempre muito corrida. Quando comem carne, nem pensam que aquilo é um bicho. A relação é muito difícil, eu acho. Ao longo de todo esse tempo, somos rotulados de variados estereótipos: louco, fresco, dogmático, radical e vários outros termos, sempre no sentido depreciativo. Tem que ter paciência com isso. E chega num ponto em que a gente vai se afastando do mundo dos carnívoros e se integrando cada vez mais na comunidade dos vegetarianos, tanto que nem saio mais com quem come carne há muitos anos. Decidi não ir a churrascos e festas com muita carne; não tolero o cheiro, o papo ou a bebida. Esse mundo não é meu , até por influência do yoga. Criei uma comunidade do Shivam Yoga muito forte e grande, com membros até do exterior, e isso facilita essa minha decisão em conviver mais na comunidade à qual eu pertenço. Eu tento, nos meus cursos, incentivar os que perguntam com real interesse. Se eu vejo que é só pergunta pra perturbar, eu deixo pra lá. Acho que o mundo está cada vez mais inclinado à comer carne, pois a indústria é muito poderosa. A mídia, a indústria, há um movimento econômico por trás que devora tudo, e dá muito dinheiro.

O escritor russo Tolstoy disse certa vez que “enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra”. Nikola Tesla, Albert Einstein, Leonardo Da Vinci e, ironicamente, até Adolf Hitler são alguns dos grandes nomes que optaram pela dieta. A promoção do vegetarianismo por nomes mundialmente conhecidos pode formar opiniões positivas à respeito ao ponto de convencer e transformar. No entanto, o efeito não acontece na escala e proporções almejadas. O que acha dessa falta de interesse, mesmo com tantos exemplos influentes?

Alienação mesmo, né? No Brasil, por exemplo, nós somos filhos de saqueadores, bandidos, bandoleiros. O nosso passado é de gente que matava até gente.  Animal, então, nem se fala… A nossa relação com a natureza é muito negativa. Pode-se pensar até na questão do especismo. O ser humano é o animal mais egoísta de todos. Então, não adianta ter exemplos de pessoas importantes, famosas, que as pessoas permanecem com o mesmo pensamento. Na época do Iluminismo, até o próprio Voltaire, em um de seus textos, fala que o africano não tem alma. Um filósofo! Aqui, com a Sheila do Campo, um bispo autorizou a matança dos índios porque eles não tinham alma. Imagina os animais… Diferente do hinduísmo, no qual a ideia de que todos os seres têm o mesmo direito e a mesma importância de aqui estarem, por isso são respeitados, reverenciados. Aqui, o animal é um objeto de lucro. Até as lojas pet shops, que são nojentas. Os animais que não foram concebidos naturalmente, criações artificiais, as pessoas compram, ignoram a opção da adoção. Não é amor pelo animal, é moda. A sociedade é extremamente consumista e vive de aparências. Sou pessimista nesse ponto; por mais que eu lute e faça palestras, acho muito difícil transformar as pessoas e conscientizar. Já está sedimentado que você deve usar as coisas para o lucro. Não há piedade – só existe a piedade cristã imbecil e egoísta.

No que diz respeito à acessibilidade, como funciona a busca por comida no seu cotidiano? Como é se alimentar fora de casa?

Quando eu viajo para dar cursos, eu nem saio do ônibus, porque eu sei que, nessas paradas, eu não vou encontrar nada para comer. Cada vez mais, os produtos naturais vão sendo extirpados. Suco de fruta de caixa é mais consumido que o natural.  A indústria precisa produzir coisas e vai pegar toda essa parte. A preguiça das pessoas alimenta isso. Conheço vegetarianos que tomam suco industrializado no conforto de casa, biscoitos e pães integrais, tudo industrializado. Eu procuro comer em casa o máximo que eu posso. Só em situações extremas que como fora de casa. Me irrita entrar em restaurantes não-vegetarianos por causa do cheiro. Padaria agora virou açougue – tem presunto até no pão de queijo! Aqui no Brasil é horroroso. Dos estados que já visitei, o estado de Minas é o pior.  O vegetariano não tem lugar, são pouquíssimos lugares especializados. Eu tenho o pensamento pessimista porque eu lido com muitos instrutores de yoga e são raras as pessoas que realmente não comem carne. Se você apertar o indivíduo, ele fala que come um peixinho. Por isso, quando alguém diz que é vegetariano, eu fico com um pé atrás. Vegetariano mesmo, sem essa de “ah, se numa festinha não tem nada, eu como um franguinho, um peixinho”. O tal do peixinho, se você colocar vegetariano mesmo, você tem que reduzir a porcentagem imensamente. Desconfio de vegetariano que não pergunta, quando chega numa cidade nova, sobre onde comer, como aconteceu com um brasileiro que está morando na Índia que encontrei ontem (29/10) aqui em Ouro Preto. A primeira coisa que eu faço ao viajar é perguntar sobre restaurantes vegetarianos, corro atrás, tento encontrar outros vegetarianos.

Entende-se por aí que a comida vegetariana é mais cara, e muitos até apontam tal fato como uma barreira para mudarem suas respectivas dietas. O que acha disso?

Acho que carne é que é caro e que uma alimentação vegetariana, se não for nos pacotes industrializados, se foca em grãos, legumes, frutas, sai bem mais barato. Em alguns casos, como a comida orgânica, é invertido, né? E não deveria ser, pois a produção é mais em conta. Dá status comer carne. As pessoas mais pobres comem carne relacionando isso ao poder, como fumar. Eu observo que os mais pobres fumam muito, por exemplo. É questão de status. A carne tem um fator social, de aparência.  Eu li um artigo que na Inglaterra é o contrário: chique é ser vegetariano.

Houve a confecção de um projeto de lei em 2009, a Lei Expedito, que, se aprovado, exigiria informação no rótulo dos produtos quanto à composição de origem animal. A consideração do governo atrairia a atenção de mais pessoas para a doutrina, inclusive de donos de comércios e restaurantes? Poucos incentivos como esse seriam um passo importante para a conscientização?  

Eu acho que sim. A mídia é o mais importante, na minha opinião. Se a novela da Globo passa algo sobre o assunto, a pessoa se interessa. Pelo menos, por um tempo. Manter-se vegetariano é difícil. Eu vejo alguns, inclusive da família, que adotaram a dieta comigo e não perduraram. Passaram pelo vegetarianismo, apenas. É mais fácil, né? Conhecimento é uma coisa. Se o governo tornasse esse conhecimento mais acessível é uma história, mas ter consciência é outra. Pessoalmente, a pessoa só se firma nessa educação alimentar se ela se tornar um yogi, uma pessoa com um pensamento diferente. Se mantiver esse pensamento ocidental cristão, ela não dura. Ela precisa de um embasamento interno, de crença, ver a natureza como irmã, tornar-se um indivíduo tântrico. Deve haver um fundamento, e não é só praticar yoga. A minha experiência diz isso, e tenho observado esse cenário por quase quatro décadas. Conheço muitas pessoas que foram vegetarianas, mas não duraram, como as que viveram o movimento hippie da década de 1970. Hoje, muitas estão no caminho de uma doutrina espiritualista, mas foram, não são mais vegetarianas.

Considerando a situação de pais vegetarianos ou veganos. Na sua opinião, o que seria melhor: trazer o filho para o vegetarianismo nos primeiros anos de vida ou deixá-lo optar pela dieta por conta própria?

Eu não deixaria experimentar carne. Eu tenho uma neta que, por causa dos pais, não consome. Não sei como vai ser quando chegar na escolinha. Eu acho que tem que ser radical, não deixar o filho comer enquanto puder mandar nele. Depois, é com ele, mas penso que devemos segurar a barra, conscientizar e estabelecer a visão de mundo da criança. Não só falar que a carne faz mal, mas fazer surgir a piedade para com o animal, vê-lo como irmão. Dentro do pensamento do tantra de encarnação, nascemos com tendências que são frutos de outras vidas. Eu, por exemplo, tenho certeza que fui vegetariano em muitas vidas.

As particularidades da convivência do vegetariano com quem come carne pode ser um tanto quanto cansativa quando discutem à respeito da dieta. Como lida com aqueles que usam o argumento de que os vegetarianos matam as plantas para se alimentar?

A minha resposta usual é de que, primeiramente, você não mata uma planta para comer suas folhas, frutos ou grãos. Não há dor. Com o animal, há derramamento de sangue, gritos, dor, que é uma violência muito evidente. Não se compara. As pessoas que querem matar animais para se alimentarem, que matem, mas nem isso elas fazem, não querem nem ver.

O que você tem a dizer para os curiosos e entusiastas do vegetarianismo?

Pratiquem yoga, tornem-se yogi, construam outra consciência que não a mais corriqueira na sociedade. Busquem um alicerce, mudem internamente, mudem a forma de verem o mundo e a si mesmo. É uma mudança intensa, radical, ou não persevera. Ter força de vontade, disciplina, princípios. Veganismo que começa por modismo não permanece.

Leandro Tropia Pinheiro, empresário e dono do restaurante “O Passo”, em Ouro Preto.

Por Anna F. Monteiro

Restaurante O Passo. Foto: Daniela Felix

Restaurante O Passo. Foto: Daniela Felix

#tecer – Há quanto tempo estão abertos e de onde vem o nome do restaurante?

Leandro – Dia 22 de Janeiro o restaurante completa dez anos. A família do meu sócio é católica e era semana santa na época que fechamos o contrato para alugar a casa. Na semana santa, as capelas ficam abertas para visitação, eu não sabia porque não sou tão católico. Depois soube que essas capelas representam os passos da paixão de Cristo, que é quando o Cristo caía, machucado, e alguém limpava as feridas, dava água. E aqui em frente tem uma capela dessas, um “passo”. O nome veio daí. As pessoas não sabem e às vezes pensam que é porque foi um passo na minha vida, mas não tem nada disso. (Risos)

Como funciona a escolha do cardápio?

Eu me aventuro. Meu sócio foca na parte administrativa e eu fico mais com a cozinha , o atendimento e eventos em geral. No início, contratamos um cara que era referência em pizza no estado de Minas e em Belo Horizonte, e começamos essa história com ele. É claro, dando “pitacos”, acrescentando alguma coisa que a gente já gostava. Também aconteceram pesquisas, viajei à São Paulo e fui em várias pizzarias. Hoje, trabalhamos dessa maneira; ele cresceu, não é só mais pizzaiolo – é o chefe-geral da minha cozinha e a gente estuda mercado, né… As pessoas brincam que ninguém inventa nada, todo mundo copia. Por isso eu viajo muito, procuro experimentar de tudo pra poder colocar aqui.

Qual a importância da carne na hora de montar o prato na cozinha de vocês?

É engraçado… Não nos preocupamos com a montagem do prato assim, “vou montar um prato que tenha carne…”. Acontece que a cultura, principalmente a brasileira, a carne é muito fácil, né… É fácil pela cultura que a gente cresceu e pelo preço. Acho que se olhasse em outros países do mundo, até em países mais ricos, não é tão acessível quanto é aqui. O costume de se comer carne aqui é muito forte. Então, a gente procura fazer pratos pra angariar todo esse povo pra vir cá e acaba usando carne, mas não necessariamente pensamos “vamos fazer um prato com carne”. Acontece também da gente falar “pô, vamos fazer um prato para aquele cara que não come carne”. Ultimamente, temos usado muito peixe e carne branca…  A demanda tem crescido e pensamos nisso na hora do preparo.

Como vê a situação do vegetariano quando ele sai de casa? No quesito de variedade para os clientes vegetarianos, como está o restaurante?

Temos vários pratos que não são feitos com carne no cardápio. Agora, existem vários casos, por exemplo, de pessoas que não comem nem ovo. É difícil. Aí o que eu posso oferecer aqui é, sei lá, legumes grelhados. A gente tenta contornar, e não só por ser vegetariano. Brinco com os garçons que o cliente é o reizinho da casa. Então, tem que fazer… Mas, claro, ele vai ter uma opção. A gente monta nem só porque é vegano, não. Às vezes aparece uma pessoa aqui e fala que quer comer, por exemplo, um prato com picanha, bife de chorizo e filé, e eu monto. A ideia é satisfazê-lo. Quando o cara não quer comer carne, a gente sugere uma massa. Tem massa com berinjela, e algumas pizzas que não levam carne. Agora, se o cara não quiser comer nem ovo, já não pode comer a massa da pizza, porque ela leva ovo, entendeu? Aí a gente joga pra, sei lá, legumes grelhados com castanhas, algo assim.

Apesar de um pouco mais trabalhosa e cara, a dieta vegetariana possui o fator saudável, que é indiscutível. Ainda assim, o número de adeptos não é tão relevante como poderia ser. Se fosse mais barato, você acha que popularizaria? Na hora de comer, o fator econômico é mais relevante que a questão de ser mais saudável?

Olha, não sei. Quando eu digo que a carne é acessível, eu falo do Brasil. Comprar carne lá fora é caro. Acho que deveríamos olhar um pouco mais pra isso… Apesar de eu achar que o vegetarianismo está crescendo, não sinto uma demanda tão grande ainda. Nunca me deparei com um cliente que não achou nada para comer no Passo, ele sempre conseguiu. Eu acho que é o fato da pizza ser um negócio muito democrático, muito fácil. Tem queijo, tem isso e tem aquilo… Então é tranquilo. Agora… conversando com você, de repente a gente que dar uma pesquisada em algumas coisas pra poder atender melhor.

Se o governo desse incentivos para produtos da base da dieta vegetariana, os restaurantes dariam mais atenção? Teríamos mais opções vegetarianas nas ruas do que churrascarias?

Talvez sim, mas acho que esse não é o problema. As verduras e legumes estão aí, compramos direto do CEASA, não é um negócio caro. Tecnicamente falando, é mais barato que qualquer carne. Então, o problema não é esse, não. Acho que o problema é mais cultural mesmo, e talvez tenha infectado os donos de restaurante. Uma coisa que eu fico impressionado… você fala de vegetarianismo, e eu tenho a maior vontade de ser vegetariano. Vontade por ideal, não por não gostar, porque eu adoro comer carne. Por ideal mesmo, porque eu não acho que seja uma coisa legal. Pelos animais, sacou? Então, eu coloquei assim na minha cabeça, pode ser ridículo, mas é assim: eu como carne de boi, frango e peixe. E frutos do mar. Só! Eu não como carnes exóticas. Não como foie gras, rã, coelho, avestruz, javali, vitela, não como nada disso. Se eu preciso comer alguma coisa, será o tradicional. Tento comer cada vez menos, mas não abro a cabeça pra coisas exóticas assim. Eu acho que se você já está querendo parar, vai comer os exóticos pra quê? Depois vai gostar e vai ter que comer mais, né… Então, eu penso um pouco nisso, entendeu…

Montar um restaurante que atende a um regime alimentar em específico é um risco? O segredo seria, então, se adequar à situação caso um cliente apareça com o pedido?

É claro! A gente tem isso até nos grandes centros. É difícil pensar nisso em Ouro Preto. Por exemplo, se você abre um restaurante vegetariano aqui, eu acho que não vai ter mercado pra ele. Acho que não, sabe, porque a gente vive do público. Eu não tenho um público tão grande que só coma aqui. Às vezes o cara é vegetariano, mas ele come uma salada em tal lugar… Se o restaurante fosse só vegetariano, eu teria que trabalhar com coisas um pouco mais caras e não conseguiria manter o lugar. É legal dar opção, eu acho importante. Não porque eu sou bonzinho, é porque o público tem que vir aqui, entendeu? (Risos)

O que acha do ser humano estar comendo mais carne do que é considerado saudável?

Loucura, né?! Eu acho que as pessoas estão atinando pra essa questão de não comer tanta carne. Eu acho, não sei… Talvez seja porque estou ficando mais velho e vou vendo o que está acontecendo, mas não vejo mais assim. Eu hoje como muito pouca carne. Como carne vermelha duas vezes por semana. Três, no máximo. Procuro comer mais carne branca, me alimentar às vezes sem carne, mas aí eu tenho vontade e não consigo parar.

Paul McCartney, dentre tantos outros, é um influente adepto do estilo de vida vegetariano e sempre apoia movimentos da causa. Um dos seus pensamentos sobre a doutrina em si é que “se os abatedouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos”. Você concorda? O baixista mais famoso do mundo seria capaz de convencê-lo a se tornar adepto da dieta?

Sem dúvida! É isso mesmo. Essas coisas eu procuro não ver, nem na televisão. Eu acho que é assim mesmo, o negócio é feio, é meio cruel, é tudo. A gente não pode ver. Se gente ver, não vai comer, com certeza. Colocamos agora uma criação de galinha atrás do restaurante, porque estava tendo muito escorpião no jardim ali de cima, aí arrumamos vinte galinhas. Quem deu a ideia do galinheiro foi o nosso “faz-tudo”, que fica nos serviços gerais. E o cara que cuida da nossa horta tem criação de porco, faz abate, e sei que ele também faz com galinha. Daí, eu brinquei com ele que poderíamos colocar umas galinhas por aqui, mas não existe possibilidade nenhuma de alguém matar uma galinha pra comer aqui dentro. Aí me prometeram e deixei colocar. Não dá pra gente melhorar o mundo, mas dá pra fazer alguma coisinha.