Patrimônio Esquecido

 Moradores de Mariana desconhecem a existência da biblioteca pública

Por Ingridy Silva, Camila Gonçalves, Eduardo Rodrigues, Giselle Carvalho e Letícia Cristiele

Foto: Letícia Cristielle

Entrada invisível – Fachada da biblioteca de Mariana       Foto: Letícia Cristielle

A Biblioteca Pública Municipal Benjamim Lemos é um ponto da cidade de Mariana que infelizmente é pouco conhecido. Mesmo com 43 anos de histórias, poucas pessoas a frequentam atualmente.Entrevistamos funcionários, usuários e não usuários a fim de saber o que pensam sobre o lugar e hábitos de leitura, além da perspectiva para o futuro dos livros, frente a uma era de desenvolvimento tecnológico.

Fernando Antônio Maricato, funcionário da biblioteca pública de Mariana Por Giselle Carvalho e Letícia Cristiele

Fernando Antônio Maricato é funcionário da biblioteca há dois anos. Segundo ele seu gosto pela leitura desde criança o levou a trabalhar na biblioteca.

#tecer – A prefeitura fornece subsídio suficiente para a manutenção da biblioteca? Fernando Antônio Maricato - A prefeitura contribui pouco para a compra de novos livros. A maioria de nosso acervo é proveniente da doação de usuários outra parte veio da biblioteca do antigo colégio Padre Avelar, onde hoje funciona o “ICSA”, alguns inclusive eram do próprio diretor da escola. Temos uma boa quantidade de livros de qualidade nas áreas de educação e pedagogia – que foi herdada do curso de magistério superior por um convênio entre a prefeitura e a universidade. Entretanto, não há uma política de compra para aumento do acervo, apenas para a manutenção dele.

Quais os principais problemas enfrentados na biblioteca? No meu ponto de vista, acredito que falta aquisição periódica de livros, inclusive os lançamentos, jornais e revistas. Hoje não dispomos deste material seria interessante.

A procura pela biblioteca é grande? Não muito. Poderia ser mais procurada, já que dispomos de espaço para atender a um público maior.

Ao que você relaciona essa baixa procura? Acho que deveríamos buscar mais leitores por meio de propagandas e mais projetos que envolvam as escolas. Porque livros nós temos, mesmo que não seja um grande acervo.  Temos, por exemplo, muito material de estudo para pré-vestibular. Recebemos muitas doações de apostilas de alunos que entraram na universidade e que repassam esse material. Além disso, esses pré-vestibulandos poderiam utilizar nossa plataforma de internet que fica no segundo andar. Hoje contamos com um número reduzido de computadores pois muitos dos que tínhamos foram se deteriorando, inclusive porque recebíamos um público maior. Essa associação da plataforma virtual ao material  didático que nós possuímos mostra que temos recursos para receber um número maior de visitantes. Seria muito interessante esse aumento no número de frequentadores.

Se o usuário perder o livro, o que acontece? Ainda não temos um regulamento interno da biblioteca, então não há essa definição. Por isso há uma perda considerável, há pessoas que infelizmente não retornam com os livros emprestados. Essa é uma realidade que deve ser repensada.

Outras instituições além da secretaria de educação podem apresentar algum projeto para a biblioteca? Sim, claro. Nós já tivemos diversos eventos assim. Nós já realizamos eventos para atrair o público com participação da comunidade acadêmica,  coordenação de extensão da faculdade e ano passado contamos com a presença da banda de uma escola. Inclusive os alunos dessa escola estiveram na biblioteca por um projeto desenvolvido pela professora Hebe Holan. Também fizemos eventos para a Semana do Livro Infantil nesse ano e no ano passado. Nessa gestão nós estamos desenvolvendo.

Com o advento da internet o interesse pela biblioteca diminuiu? Creio que sim. Há essa questão da disponibilidade da plataforma cibernética e da parte material, que é o livro. Na realidade eu não acredito que elas se excluam. Apesar de não ter muitas informações para usar como base, sob meu ponto de vista é possível unir as duas partes. Eu, por exemplo, prefiro digitalizar o livro porque é mais fácil acessar determinadas informações, como a procura de uma palavra específica no arquivo.  Isso é algo que não é possível quando você está manuseando o livro. Mas por outro lado, eu acho que há a questão da organização da informação na biblioteca, enquanto na internet o aluno se depara com muitas informações soltas e excesso de informação que não é interessante a ele.

Simere Cota de Figueredo, usuária da biblioteca pública de Mariana Por Eduardo Rodrigues

Simere Cota de Figueredo é estudante da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) no curso de letras, frequenta a biblioteca pública de Mariana há dois anos para fazer pesquisas.

#tecer – Qual é o motivo que te levou a frequentar a biblioteca pública da cidade? Simere de Figueiredo – Busco aqui exemplares indisponíveis na biblioteca do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Universidade Federal de Ouro Preto. Também uso a biblioteca para pegar livros de alfabetização, pois preciso desse tipo de material para usar na preparação de atividades de um projeto do qual eu participo.

Como você descobriu a biblioteca de Mariana? Eu a encontrei porque ela está localizada em uma rua que eu sempre passo.

Quando vem a biblioteca você costuma  encontrar outros usuários? Não, eu raramente encontro outros usuários.

O que você acha da infraestrutura da biblioteca? Antes eu era usuária da biblioteca de Ouro Preto e, comparando com a de Mariana, percebo que a de Mariana está muito desatualizada. Acredito que o motivo seja porque a maior parte do acervo é proveniente de doações.

Qual é a importância da leitura? Nunca tive o hábito de ler quando criança, mas acho que a leitura é fundamental na vida das pessoas. Hoje, por causa do estudo, estou correndo atrás do tempo perdido. Além disso, na minha concepção, os pais não incentivam tanto os filhos nessa questão. Eles preferem deixar essa responsabilidade para a escola.

A internet influência na diminuição da procura das bibliotecas? Sim, porque muitas vezes elas preferem o comodismo do acesso a internet a uma busca manual.

O que deveria ser feito para o aumento no número de usuários da biblioteca? Acho que a prefeitura deveria fazer uma maior divulgação. Também acho que seria interesante se as escolas da região trouxessem seus alunos para conhecer o espaço.

Valdirene Silva, não usuária da Biblioteca Por Eduardo Rodrigues, Giselle Carvalho e Letícia Cristiele

Moradora de Mariana Valdirene Silva que passa o dia cuidado da limpeza das vias públicas da cidade desconhece a existência da Biblioteca Pública de Mariana, sem  muitas oportunidades na vida vê em sua filha a esperança de ter o que nunca lhe foi possível.

#tecer – Você conhece a biblioteca pública de Mariana? Mariana Silva – Não, na verdade nem sei onde ela fica. (Os repórteres mostraram para Valdirene a localização da biblioteca)

Agora que a senhora sabe onde está situada a biblioteca, passará a frequentá-la? Não, porque eu não tenho o hábito de ler, mas acho importante a existência de uma biblioteca pública na cidade. Até  porque tenho uma filha pequena e no futuro ela precisará de livros.

Você tem o costume de ler para sua filha? Não, porque eu passo o dia todo trabalhando na rua e quem fica responsável pela educação dela é o pai.

A Biblioteca atualmente conta com cinco funcionários, e a secretaria de educação é a responsável pela compra de livros novos. Para ser usuário da biblioteca é necessário a realização de um cadastro sem custo com a emissão de uma carteirinha. O prazo de empréstimo é de uma semana, com a possibilidade de renovação. Não há multa para atrasos e nem sistema de renovação online. Doações de livros são aceitas, sem restrições ou procedimentos.

A biblioteca carece de um público maior e uma medida pensada para atrair mais leitores é a iniciativa Leave a Book (Esqueça um Livro), que consiste em deixar propositalmente um livro em local público para que alguém o encontre, leia e o deixe novamente. Para a realização desse projeto em Mariana, a ideia é reunir livros provenientes de doações dos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto e quem mais se dispuser a ceder da comunidade. Nos livros recebidos, deverá ser colado na contra capa um folheto contendo dados da biblioteca e do projeto. Assim, quem o encontrar terá a oportunidade de iniciar uma leitura e conhecerá onde a biblioteca está localizada em Mariana para futuras visitas.

Biblioteca Pública Municipal Benjamim Lemos Atendimento: Segunda a Sexta Feira das 8h às 17h Rua Barão de Camargos, 59, Centro, próximo a Praça Gomes Freire (Jardim). Telefone: 3558-3255.

Editora Geral: Ingridy Silva Editora de Abertura: Camila Gonçalves Repórteres: Eduardo Rodrigues, Giselle Carvalho, Letícia Cristiele