Pela longevidade da “arte da longa vida”

por Marília Mesquita

Uma motivação, um projeto, muita determinação e a concretização através da arte milenar Tai Chi Chuan de um trabalho social maravilhoso, voluntário e independente, que mescla a atividade física e intelectual, proposta pela própria arte marcial, com ofícios de culinária, artesanato e jardinagem, num processo de formação de crianças e adolescentes.

Ricardo Silva Teixeira e Diana Antônia dos Santos são os idealizadores desse projeto e os fundadores do que está dando certo há seis anos no distrito de Passagem, em Mariana.  A associação Ham Tai – Humanos Amantes do Tai Chi Chuan – grupo que os denominam, reuniu inicialmente crianças de 6 a 8 anos, e em forma de brincadeira, os instrutores, transmitiram a filosofia da atividade, sempre destacando a importância do comprometimento e cultivando a tranqüilidade e o equilíbrio de ações e escolhas. Durante a caminhada, veio à renovação das crianças, as antigas tornaram adolescentes e adultos começaram a se envolver. Hoje com frequência de 60 alunos, afirmam a formação dessa grande família como fortalecimento a todo o processo desenvolvido.

Na trajetória alguns obstáculos. Além do local de treinamento improvisado e da dificuldade na aquisição de trajes específicos para a competição, o Efu, obter recursos financeiros e apoio institucional para a realização de atividades soa frustrante. Após o bom desempenho no Campeonato Nacional da categoria, e o acesso para a participação no mundial da Cingapura, não foi possível, em 2012, a efetivação na competição, resultado consequente de tal deficiência. Em junho desse ano, aconteceu em São Paulo, o Seminário de capacitação e qualificação para profissionais da área com o Grão Mestre Chan Knouk Wah, porém, a indisposição da Secretária de Desportos de Marina em ceder transporte privou o comparecimento de atletas da Associação.

Em contra partida, muitas gratificações. No último dia 3 foi realizado a II edição do Campeonato Interno de Tai Chi Chuan em Passagem com o objetivo de avaliar e selecionar alunos para o Torneio Nacional de Kung Fu e Tai Chi Chuan. Foram 15 classificados, entre crianças e adultos, de 9 a 70 anos, distribuídos em cinco categorias. A Associação Ham Tai competiu em outras duas edições do Torneio, em 2011 e 2012. Levaram 13 atletas e todos subiram ao pódio. Fizeram-se campeões a Fernanda de Mello Moreira, a Emanuela A. Silvestre, a Michelle Maia Santos, o Vitor A. Silvestre e o Ricardo Silva Teixeira; e vice-campeões a Marina de Fátima Anacleto, a Franciele de Paula Pinto, a Letícia Perucci e a Yanne Duelly Ferreira. Marca da competência, do empenho e da seriedade com que esses alunos absorvem a luta marcial.

Em declaração, Diana compartilha que para arrecadar fundos, a Associação Ham Tai, conta com a colaboração de pais e amigos dos alunos. Este ano foi realizado dois eventos, uma feijoada beneficente e a participação efetiva no Festival de Inverno de Passagem de Mariana e Jubileu de Nossa Senhora da Glória, no qual venderam artesanatos, doces, bolos, salgados, pipoca, tropeiro e pão de queijo, tudo confeccionado em oficinas promovidas também pela Associação. Ações, que para Diana, mostram que nunca estiveram sozinhos, que a comunidade unida em busca de um objetivo é forte.

No próximo dia 25 inicia um novo campeonato nacional. Há muita expectativa e uma nova realidade se apresentando. As inscrições de participação e confecção do Efu, traje que obedece a um rigoroso padrão, por isso caro, e que é também critério de avaliação nas lutas, foram fornecidas pelo vereador Pedro do Eldorado, que junto com a Câmara Municipal de Mariana têm colaborado com algumas atividades da Associação. E se antes não foi possível, agora a Secretária de Desportos disponibilizou transporte aos atletas. O início desse vínculo só tem a acrescentar para o esporte e para a própria comunidade marianense. É essa cidade que comporta campeões que ainda lutam pelo reconhecimento fora dos ginásios de competições, que possuem potencial na sua arte, mas que são limitados em recursos.

O projeto organizado por Ricardo e Diana está vivo e em perfeita harmonia entre os integrantes e a comunidade. Seu valor é ditado pela inserção social, pelo compromisso com fazer o bem, pelo contato direto com a natureza, pela renovação das emoções, pela propagação de boas relações e pela confiança de um futuro cada vez melhor.

A Associação Ham Tai que nasceu de uma iniciativa pessoal, hoje busca a regularização junto aos órgãos competentes para que possa atingir outros objetivos, fazer ser vista por novas entidades e deixar com que novas oportunidades apareçam e façam valer o compromisso social e espiritual proposto com e pela arte milenar da longa vida.