O espírito e irmandade também é tradição nas repúblicas de Ouro Preto

Por Isabela Porto

Cerca de 5 mil estudantes da UFOP residem em Ouro Preto. Muitos moram nas mais de 200 repúblicas, federais (casas doadas pela universidade) e particulares (casas alugadas e administradas pelos próprios estudantes).

Junto com essas repúblicas, vem a tradição de décadas de vida republicana na cidade, tradição e estilo de vida que não se vê em nenhum outro lugar.

Residente na República Paraíso, uma república particular com 27 anos de tradição, a estudante de serviço social do oitavo período, Mariana Horta, contou de que forma a república fez diferença na sua vida. “De todas as formas possíveis, desde aprender  como cozinhar, lavar roupa, trocar chuveiro, dentre muitas outras tarefas de casa, coisas que eu nunca imaginei fazer, aqui eu aprendi. Sem falar no crescimento pessoal. Tenho certeza que a república me transformou em uma pessoa muito melhor do que quando eu cheguei. Paciência, partilha, irmandade, amizade e cumplicidade são uma parte dos valores e sentimentos que aprendi aqui”.

Na República Paraíso, moram mais doze meninas e ao serem questionadas de como funciona morar com muita gente, as respostas foram bem parecidas. “No começo  eu achava que não daria certo, mas fui surpreendida pelo quanto funciona bem as coisas entre nós” contou a estudante de Economia, Gabriela Dornelas. “Com algumas regras e bom senso, nos entendemos muito bem e claro que a hierarquia é um ponto que ajuda na organização das tarefas e da casa em si” disse Lívia Garcia, estudante do segundo período de nutrição e moradora da casa há 1 ano. A hierarquia a qual a estudante menciona, é dada pelo tempo que a pessoa está na casa, quando alguém se forma, outra pessoa “sobe” na hierarquia.

A chamada “batalha” é um período de adaptação o qual o “bixo” passa a conhecer como a casa funciona e aprende como cuidar dela. E a partir do momento que ele desenvolve pela casa um sentimento de respeito, amor e começa a ter referência na casa como o seu lar é a hora que está pronto(a) para ser morador, relata Mariana.

Um dossiê conta a história da casa que foi fundada em 1986 por duas estudantes de Farmácia  teve seu primeiro endereço no número 35 do bairro da Barra. Como a casa era alugada a república passou por mais três endereços até chegar no atual, que é no número 145 do bairro Lajes. Com 27 anos de história, 4 endereços diferentes, as paredes da atual casa carrega 32 quadrinhos, com fotos das ex moradoras e com certeza não são apenas fotos enquadradas mas sim,  histórias, vidas e com toda certeza o registro de uma fase de incríveis aprendizados e momentos de felicidade.

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Para Ieda Garcia, mãe da estudante de nutrição a opinião sobre a filha morar em república é das melhores. “Sempre apoiei que ela morasse com mais pessoas, afinal moramos em Rondonópolis, MT e ela não poderia ir sempre para casa, então estaria sempre com alguém e não se sentiria sozinha. E com certeza isso fez muito bem a ela, minha filha saiu de casa sem saber fazer nada, fazíamos tudo, ela não sabia fazer um depósito no banco, não sabia cozinhar, entre muitas outras coisas. Hoje vejo nela uma menina responsável, preocupada com a casa onde mora e certamente uma pessoa melhor”.

A estudante de Serviço Social, Mariana Horta revelou como ela vê a casa e as moradoras após 4 anos em Ouro Preto e já terminando sua graduação.“Vejo que a casa esta sempre evoluindo, por mais que respeitemos as tradições e modelos republicanos. A  gente evolui com o tempo e com o passar dele a casa tem novas necessidades e sempre novas gerações. Cada geração trouxe um diferencial para casa, acho importante agregar coisas positivas e hoje sei que a Paraíso só cresce em todos os sentidos, tanto estrutural quanto em relação a nossa união, hoje vejo as moradoras como uma segunda família, verdadeiras irmãs que eu pude escolher.”

A cidade, como muitos dizem, é um lugar à parte. Morar fora, fazer a própria comida, resolver os próprios problemas, entre muitas outras coisas, é um bom treinamento para vida pós universidade. Sobre isso, Mariana conta como é o sentimento de ir embora e mergulhar na “vida real”. Para ela, não é fácil se “desprender” de uma vida de quatro anos e de amigos que não verá com tanta frequência, mas se diz preparada para o mercado de trabalho e para seguir sua carreira, graças também ao que aprendeu na república.