Torcedores fora de casa

Por Monique Torquetti

Trazido por Charles Miller no ano de 1984, em solo paulista, o futebol era considerado um esporte altamente elitista, com o avanço das ferrovias para o interior, o esporte foi agregado pelos trabalhadores como uma forma de hobby; era um esporte fácil de jogar, que não necessitava de muitas coisas. O futebol assim virou o esporte do povo. O esporte bretão caminhava para certa evolução (junto com as ferrovias) no interior do Estado de São Paulo.

É uma paixão nacional, disto não se tem duvidas, então para alguns, ficar longe de seu time pode ser até pior do que ficar longe de sua família; e é o que parece que acontece com os estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que ao se mudarem para uma nova cidade (Ouro Preto/Mariana), tendem a abandonar a sua maior paixão: seu time.

No dicionário Aurélio, herança é escrita como “condição, sorte, situação que se recebe dos pais” e torcer por um clube é quase isso, algo que passa de geração por geração, que se aprende a amar, ter um sentimento maior que si mesmo e se dedicar a isso, podemos verificar que isso ocorre através do que Murilo Ferrarzi Chiari diz. Estudante de Ciência da Computação e torcedor do Oeste, da cidade de Itápolis, Murilo começou a acompanhar o time devido ao seu avô, que foi jogador do mesmo e considera rubrão desde que nasceu. Quanto a ver os jogos, acha que é realmente difícil achar torcedores por aqui, mas que, quando está na cidade, vai a todos os jogos. Sobre o sentimento, ele comenta: “A universidade faz com que nos afastemos de algumas coisas, nós sentimentos saudades, mas é um mal necessário”.

Foto do avô de Murilo - Arquivo Pessoal

Foto do avô de Murilo – Arquivo Pessoal

Nessa mesma onda, encontramos Rodolfo Dias da Silva, estudante de jornalismo e torcedor do São José Esporte Clube há oito anos. Devido ao fato dos jogos do São José não passar em TV, atualmente, Rodolfo acompanha os jogos pelo rádio e pela internet, em Mariana não se reúne com ninguém, porém quando está em sua cidade, vai com amigos ao Martins Pereira (estádio). Após perguntando se o sentimento mudou, Rodolfo responde: “Sim, o amor aumentou!” e diz não sofrer nenhuma “zuação” quando comenta seu time na roda de pessoas. “Elas acham curioso, um time que acaba não sendo conhecido por aqui em Minas Gerais, os times da Capital acabam tendo mais visibilidade e são mais conhecidos.”

Rodolfo com a camiseta de seu time - Foto: Arquivo Pessoal

Rodolfo com a camiseta de seu time – Foto: Arquivo Pessoal

E tirando o preconceito de lado, não é só homem que faz tudo por futebol, e quem nos mostra isso é Danielle Diehl, torcedora do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba. Ela acompanha o “XVzão” (como ela mesma faz referência) desde os 10 anos, mesmo contra a vontade do pai. “Quando eu era pequena ouvia no rádio e às vezes acompanhava pela TV quando havia transmissão, quando tinha 15 anos fui ao estádio escondida do meu pai. Mas ele descobriu, é claro, mas ele percebeu que não adiantava mais me proibir e acabou se acostumando”, revela Danielle. A estudante diz que o sentimento é o mesmo, mas que tudo é mais sofrido agora, acompanhar os jogos de longe. Quando perguntada sobre a reação das pessoas ao saberem que torce para o XV, Danielle comenta: “A primeira reação da pessoa é na maioria das vezes lembrar do hino caipira do XVzão, conhecido nacionalmente. E brincar com o gesto famoso entre a torcida, o movimento “XV” com os braços”.

Torcer para um time realmente não é fácil, e ficar longe dele é pior ainda. Os jogos dos times do interior do estado, normalmente não passam na televisão, o que dificulta mais ainda o acompanhar. Em seguida, uma entrevista com Henrique Afonso, torcedor do Botafogo Futebol Clube, da cidade de Ribeirão Preto: