Campanha “Fique Sabendo” realiza testes na UFOP

O aumento do número de casos de HIV na cidade de Ouro Preto nos últimos anos foi uma das razões principais para que a campanha “Fique Sabendo” fosse realizada na UFOP. O “Fique Sabendo” é um projeto do governo que incentiva a realização de testes de AIDS, e através de campanhas e propagandas, procura conscientizar a população sobre a importância do sexo seguro.

A professora da Escola de Medicina e coordenadora da campanha, Carolina Coimbra, revelou que não se sabe um número exato do aumento de casos de pessoas com HIV na cidade de Ouro Preto, pois é um levantamento que ainda está sendo realizado. Esse aumento coincide com o início da implantação do Projeto de Extensão Ambulatório de Doenças Infecciosas e Parasitárias também coordenado por ela. Havia um número restrito de casos descobertos no município até o início de seu trabalho em 2010, a partir de então, observou-se um aumento da notificação. A campanha “Fique Sabendo” ajudará nos resultados desse projeto, juntamente com a avaliação do aumento da incidência.

A campanha estará presente em todas as quartas-feiras do mês de agosto no Centro de Saúde da UFOP. As testagens contam com o apoio da equipe de multiplicadores do treinamento em testagem, acolhimento e aconselhamento do Ministério da Saúde e de profissionais da Secretaria Estadual de Saúde que atuam em Conselheiro Lafaiete. Eles vieram fazer o treinamento da equipe e orientaram todos a darem continuidade à campanha. O apoio veio também da diretoria da Escola de Medicina, do setor de Transporte da UFOP e a coordenação do Centro de Saúde, que disponibilizou o espaço e ajudou na organização do fluxo.

Os testes começam logo cedo, às 8 da manhã, com a distribuição de senhas, e, em seguida, cada paciente recebe um termo de consentimento onde assina uma autorização do uso de seu sangue para a realização dos exames. O próximo passo é uma conversa com um psicólogo em uma sala reservada, onde são feitas várias perguntas sobre as relações sexuais e o consumo de bebidas e drogas. Logo depois, com apenas uma picada no dedo, a testagem é feita e em 30 minutos o resultado é apurado. Com a resposta dos testes em mãos, o psicólogo volta a conversar com o paciente. Caso o resultado seja negativo, o paciente escuta mais alguns conselhos e leva preservativos como incentivo para evitar o contágio das DSTs. No caso da testagem dar positiva, é feito o encaminhamento do paciente para o tratamento adequado.

O projeto conta com a participação dos alunos de graduação dos cursos de medicina, farmácia, nutrição e jornalismo. Nas duas primeiras semanas do “Fique Sabendo”, houve em média 140 pessoas testadas, e a previsão do total de pacientes que farão os exames até o fim da campanha está entre 300 e 400. Os resultados são absolutamente sigilosos e pessoais.

O principal foco da campanha é a conscientização:  “Espero que a grande maioria dos testes sejam negativos, mas que a campanha, o assunto, fique reverberando na comunidade universitária, que foi nosso primeiro alvo”, afirmou Carolina.

Alguns dos pacientes que realizaram a testagem nas duas primeiras semanas da campanha, disseram que o mais impressionante foi a rapidez e agilidade do teste e do resultado. B. S., 22 anos, estudante da UFOP, falou que acredita na importância do sexo seguro para se viver bem, mas confessou que já deslizou algumas vezes. B. S. contou também que o sexo e doenças sexualmente transmissíveis são assuntos difíceis de lidar e sempre serão uma espécie de “tabu”.

Apesar da dimuinição da mortalidade por HIV, casos novos são encontrados todos os dias

Valéria Cristina Carvalho Neri, coordenadora do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), trabalha na campanha Fique Sabendo em nível nacional desde 2000, só que naquela época ainda não eram feitos os testes rápidos. Valéria está ajudando na campanha em Ouro Preto e explicou que a epidemia da AIDS não está controlada, pois todos os dias há dados de casos novos sendo encontrados. Valéria informou que houve uma diminuição da mortalidade e da melhora na qualidade de vida das pessoas vivendo e convivendo com HIV/AIDS. Há mais informação hoje em dia, mais insumos de prevenção e serviços especializados, como o Serviço de Assistência Especializado em DST/HIV-AIDS (SAE), e também uma política de saúde pioneira. Mas a prevenção em si está no âmbito do indivíduo e neste espaço, o estado democrático não pode intervir e por isso, há pessoas se infectando pelo HIV e se expondo a diversas situações de riscos a todo momento. Valéria afirmou que o problema é mais complexo do que se pensa: “Acharmos que com a gente nunca vai acontecer é primordial para a infecção, pois pensamos que nós não nos expusemos a risco e a vulnerabilidades.”

O site do Fique Sabendo aconselha a quem esteve em situação de risco deve, sem hesitar, fazer o exame. Sexo desprotegido, compartilhamento de agulhas e seringas contaminadas, mães portadoras do vírus que podem transmiti-lo para o filho durante a gestação e transfusão de sangue são as principais situações de contaminação do HIV. Mas os testes só devem ser realizados um mês após a situação de risco, pois o sistema imunológico demora em torno desse tempo para produzir anticorpos em quantidade suficiente para serem detectados no teste. É importante ressaltar que o HIV não é transmitido pelo beijo, toque, abraço, aperto de mão, divisão de toalhas, talheres, pratos, suor ou lágrimas. A forma mais comum de transmissão do HIV é a relação sexual com alguém infectado, sendo que o vírus só pode entrar no organismo via vagina, pênis, ânus ou boca durante a relação sexual, além do contato do organismo com sangue contaminado.