Teatro de marionetes: Arte e poesia.

     Por Fernanda Silva.

      A Companhia Cia dos Navegantes é um espaço destinado à confecção, produção e apresentações de bonecos, principalmente para a arte de marionetes. O respectivo espaço foi fundado pelo marionetista argentino Catin Nardi, residente no Brasil desde 1990. Possui sede na cidade de Mariana – Minas Gerais, em que se encontram disponíveis exposições de seus bonecos; oficina de construção dos mesmos e um local destinado a apresentações. O público alvo da companhia é a família, e mais especificamente, os adultos.

      Recentemente, a Companhia Navegantes participou do Festival de Inverno Ouro Preto/Mariana entre os dias 22 de julho a 01 de agosto de 2013 com a exposição da peça “Que bicho será”, realizado no Centro de Atenção ao Turismo em Mariana. A exposição foi destinada aos turistas que passavam pelo Centro de Atenção e se deparavam com os bichos da fazenda; se interessavam pelo trabalho e fotografavam a mostra.

Peça "Que bicho será" Foto: Cia Navegantes

Peça “Que bicho será”                  Foto: Cia Navegantes

Antes de se dedicar exclusivamente para a arte de criar bonecos, Catin Nardi trabalhou durante quase 10 anos, em sua cidade natal – Santa Fé na Argentina- como cenógrafo, ator e iluminador no universo do teatro. Ao se fixar em uma praia no Espírito Santo no Brasil, começou a desenvolver elencos de bonecos. Em 1994, Catin percebeu que a área que mais tinha interesse em trabalhar era com a criação e apresentação de marionetes. Dali surgiu à motivação para criar a Companhia. “Minha formação é empírica, através da prática. Com minhas experiências na universidade Nacional do Litoral na Argentina, e pelo trabalho com grupos amadores e profissionais, serviu como título de profissionalização. Durante alguns anos, inseri bonecos dentro de alguns espetáculos no ramo do teatro e isso se tornou motivo de pesquisa no Brasil. Desde então, busco introduzir esse conceitos no universo da companhia”.

Sala de Teatro                   Foto: Cia Navegantes

Atualmente, a Companhia Cia dos Navegantes possui três montagens, que são os cavalinhos de batalha. Entre eles, estão presentes o “Cortejo Bloconeco”, que é um espetáculo que movimenta 20 pessoas, com um elenco de músicos, marionetistas, atores, manipuladores e porta-estandartes. O Bloconeco circulou em mais de 30 cidades e, no dia 30 de agosto participará do Encontro de Motociclistas e do espetáculo “Para gostar de teatro” em Ouro Preto. A peça “Que bicho será”, que mistura marionetes, poesia, arte e cabaças, faz parte de um espetáculo composto por uma montagem de 7 pessoas, entre produtores, atores, manipuladores; exclusivos de marionetes. A última encenação da peça “Que bicho será” ocorreu em 2011 no SESC de Pinheiros e de Santo Amaro, em São Paulo. E o espetáculo “Musicircus”, que é produzido e encenado por Catin e mais 2 técnicos. Destinado ao público adulto, o “Musicircus” tem uma proposta aberta; montagens para toda família. Recentemente, encenou no Festival de Inverno de Ponte Nova – MG e no Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Bauru – SP. As apresentações acontecem dentro do espaço da companhia, na sala de teatro com capacidade para 60 pessoas e além de espetáculos realizados nas ruas ao redor dos festivais e circuitos culturais (ver vídeo abaixo).

Anualmente, a Companhia participa de circuitos de festivais de teatro de bonecos, que acontecem no Brasil, na Argentina, principalmente em Santa Fé e na província de Misiones e na Itália, percorrendo todo o leste, norte e sul. No Brasil a Cia promove espetáculos na região Sudeste, um pouco no Centro-oeste e Nordeste. O mercado mais forte de trabalho tem sido em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. De acordo com Catin, a Cia navegantes, procura direcionar seu trabalho para os festivais de teatro ao ser selecionado para participar deles. “Ao longo dos anos, a generosidade do público que assiste aos teatros de bonecos tem aumentado demais. As pessoas que assistem teatro feito com bonecos têm um olhar mais profundo do ponto de vista da interpretação e obviamente todas as consequências técnicas do nosso trabalho vem à tona. Frequentemente, recebemos elogios em relação à preocupação com a montagem, interpretação, direção e com o conceito estético”, relata Catin.

“Musicircus” – Rosa de Hiroshima

A companhia Cia dos Navegantes obteve o trabalho reconhecido nacionalmente ao ter alguns de seus bonecos expostos na Rede Globo de Televisão, com a abertura da novela “As Filhas da Mãe”, exibida em 2001, e com os patinhos e bichos utilizados pela personagem principal da minissérie “Hoje é Dia de Maria” em 2005. “É muito interessante o sentimento de reconhecimento do público e dos meios de comunicação. É um tipo de produção que acontece esporadicamente, a cada 1 ou 2 anos. Não temos um trabalho de propaganda, uma divulgação do nosso trabalho. Somente quem participa dos circuitos de teatro e de festivais de teatro de bonecos, que fica sabendo da gente. Quando é transmitido na mídia, provoca um impacto de visibilidade, uma permanência que é fundamental para manter-se vivo diante da sociedade e do nosso mercado”, disse.

Captação de recursos

A Companhia dos Navegantes vive exclusivamente da venda de espetáculos. Recebe apoio, financiamento, e viabilização junto à Petrobrás e à Prefeitura Municipal de Mariana. Nos Festivais de Inverno Ouro Preto/Mariana, o patrocínio é realizado pela Universidade Federal de Ouro Preto. Segundo Catin, a viabilização do projeto na cidade ainda não é viável. “Os espetáculos realizados ocorrem mais fora da cidade sede do ateliê, porém levamos o nome da cidade. Há uma tendência a haver um equilíbrio nesse sentido, pois a Mostra de teatro de bonecos tem um formato bem respeitado dentro de Mariana, mas é necessária uma projeção maior do que já se tenha”, opinou.

Processos criativos

      A Composição dos bonecos é basicamente feita com madeiras, metais, fibras, resina acrílica, isopor, poliuretano, policarbonato, massa plástica, massa acrílica, papeis, tintas, tecidos, e cabelos artificiais. A estrutura, principalmente dos bonecos pequenos, é esculpida em madeira. A companhia possui uma oficina de 40 horas de duração, em que os participantes aprendem a criação, construção, manipulação, e interpretação teatral com bonecos. Funcionam 1 vez por ano, ou dentro do Festival de Inverno Ouro Preto/Mariana ou na Mostra de Teatro de Bonecos, que ocorre em Mariana. “Busco manter ativa a oficina, pois não existe nas escolas de teatro, exceto em raras exceções, pessoas que se dediquem a trabalhar especificamente nessa área. É importante transmitir conhecimento e proporcionar aprendizado as pessoas que se interessam na área da emoção e do desempenho”.

Segundo Catin Nardi é muito importante à relação que o artista estabelece com seu público. “Na hora da apresentação, tem tudo para dar errado. A chance de dar certo é 1 em 100, porém sempre dá certo. O que acontece é que quando se começa um espetáculo, o artista tem uma série de elementos em jogo. Teatro não é cinema. No cinema já esta gravado; no teatro é ao vivo, cada grupo que vai assistir é um grupo diferente ao que esteve e ao que virá. Tem dias que as coisas acontecem muito tecnicamente e tem dias que acontecem muito emocionalmente. Dentro das montagens, sempre tem um momento no qual você passa da insegurança para um estado mais seguro. E é nesse momento que  começo a desfrutar do que estou fazendo. No primeiro instante de uma interpretação é sempre uma dúvida; um estado de instabilidade, que é natural enquanto teatro. Mas depois me acomodo e fico à vontade; sinto a demanda que o público transmite e percebo o que posso compartilhar com ele”, relatou.

Marionetes Foto: Cia Navegantes

Marionetes               Foto: Cia Navegantes

Para quem deseja ser marionetista, Catin ressalta a importância do conhecimento das artes cênicas, devido à experiência com a interpretação, vivência dentro de um palco, e convívio com os tempos que acontece dentro do teatro e sua estrutura, como luz, trilha sonora, músicos; executando ao vivo e interagindo com a disciplina artística do ponto de vista da cena.  “Acho que é fundamental que haja uma formação artística primeiro, depois é necessário ser um bom artista plástico para desenvolver a criação e construção dos bonecos de maneira bem estruturada. Depois, junta a construção com a técnica de performance.” Catin explicou que é preciso tomar cuidado ao não se esconder através dos bonecos, se proteger neles. “Se um marionetista se esconde em seus bonecos, produz pessoas ruins no mercado; quanto mais pessoas ruins, menos qualidade o público tem para ser observado. A companhia, visando a uma preocupação no sentido de conhecimento artístico, procura trabalhar com pessoas que tenham formação ou estão em formação enquanto atores para desenvolver bonecos e fazer um bom papel de interpretação com eles”.

O horário de funcionamento do teatro de bonecos é de segunda à sexta, de 09h às 18h. Nos finais de semana, dependendo da temporada, há apresentações nas ruas e no próprio espaço da companhia.

Endereço da Cia. Navegante: Rua do Seminário, 290, Centro – Mariana – MG.