Os caçadores de Assombração

Por: Breno Cota Neves e Felipe Augusto Passos Macedo Entre cemitérios e lagoas, há muito mais coisas do que uma simples história pode contar. Até onde aquilo não imaginado pode passar a se misturar aos fatos? Parece ficção, onde monstros e fantasmas estão mais próximos do que se imagina. Mas não se apavore, existe uma ajuda: a Associação dos Caçadores de Assombração de Mariana (ACAM), foi fundada com o objetivo de capturar essas criaturas como nos conta Leandro Henrique dos Santos, um dos integrantes e fundadores da ACAM.

Presidente da ACAM - foto: Folha Marianense

Presidente da ACAM – foto: Folha Marianense

Porque a necessidade de criar a ACAM? Se basearam em algum outro grupo?

Leandro – A ACAM surgiu naturalmente, meio sem querer, quando vimos já estávamos em grupo, discutindo questões relacionadas a assombrações e acontecimentos reais, que deram em B.O. ou atendimento hospitalar. Não baseamos em nenhum grupo porque em momento algum planejamos criar esse grupo. Foi força da ocasião, precisamos unir forças para desvendar acontecimentos reais, e ainda desafiar o senso comum, o preconceito, sobre a existência do sobrenatural, que é tão real quanto um copo d’água de cristal transparente: de longe você não sabe se está cheio ou vazio, se tem água ou não, só chegando perto e mergulhando o dedo que temos certeza do que vamos encontrar.

Durante as caçadas, alguma em especial causou problemas? L – Muitos, mas todos contornados, quando o ferômonio do Prof. Milton para atrair o caboclo dágua atraiu todos cachorros de Barra Longa e num raio de 100 km! Nunca vi tanto cachorro, que foram atraídos pelo cheiro do caldo que ele inventou. (Os 100 Km é exagero! Tinha cachorro demais e muitos fugiram e seus donos vieram atrás!) Quando inventamos de colocar uma pessoa para ser isca numa jaula, junto com o cabrito, pois o caboclo d’água já matou diversos cabritos, a Polícia Ambiental de Mariana rodou atrás de nós para parar com a caçada pois a Sociedade Protetora dos Animais de São Paulo tinha feito uma denúncia de maus tratos ao cabrito! A da Noiva em Furquim, o negócio tava tão bravo, que o padre fez uma missa para acalmar a assombração que estava perturbando muita gente e para o hospital foram três! O Forró das Almas em Ribeirão do Carmo deu confusão, porque a bagunça do batuque dos escravos, sei lá de quem mais, atormentava várias casas que chamaram a policia para as assombrações! Pensaram que eramos nós que estávamos batucando, mas sem tambor não tem jeito! A Policia esteve no Hospital e o rapaz que tomou uma cacetada da Maria Sabão, o Celin, nosso membro, deu queixa sem querer contra a Maria Sabão, e claro, no outro dia a camburão estava percorrendo as ruas de Passagem para entregar uma intimação à Maria Sabão e perguntava as pessoas : Onde mora Maria Sabão? Naquela mina abandonada na rua do Boqueirão! Era a resposta. Pois Maria Sabão era a única que tem endereço fixo! Um camburão procurando assombração ! No ICHS também o “pau quebrou”! Quando os professores ateus proibiram missas e retiram todas as imagens da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, dizendo que a universidade é laica e tal, um padre, chamado Cornaglioto, que foi professor lá não deu sossego! Até voltarem com as imagens e o arcebispo de Mariana realizou uma missa para a alma desse padre. Oito vigias pediram demissão do ICHS alegando problemas com assombrações e três deles fazem parte de nossa associação. Uma das mais dramáticas foi o sumiço de Milton dois dias em Barra Longa.

Existe algum “disk-help” pra quem der de cara com algum monstro? L – O telefone do Presidente Milton Brigoline e do Vice Presidente Vicente Bispo são públicos e eles atendem 24 horas.

Como funciona a catalogação de monstros, existe procedimento específico? L – Sim, para considerar um caso digno de estudo, tem que haver uma linha do tempo, não é uma vez só, chamamos de avistamento, tem que ser vários, e em várias épocas, com várias pessoas, de diferentes idades, então começamos a rastrear e criar um mapa de ocorrências, depois um planejamento de ação específico para cada caso.

E sobre a caça ao Caboclo D´água, como está sendo preparada? L – No momento estamos na época do inverno, e nunca nos últimos 60 anos foi registrado um ataque nessa época, parece que o bicho hiberna para voltar com força em novembro, dezembro e janeiro, onde estão concentrados os ataques, sobretudo contra pessoas.

Como você interpreta o papel da mídia e suas ações dentro desse contexto, sabendo que principalmente no caso do Caboclo D`água já se tem uma grande repercussão? L – A mídia se divide em grupos, tem aqueles que não tem interesse em desvendar o caso, em tentar entender, em por o dedo dentro do copo, não tem interesse em vivenciar, querem um produto de audiência, superficial, chamativo, pitoresco. Tem outros que procuram o cerne da questão, que respeitam as pessoas que viram o sobrenatural e tratam a história como um caso misterioso, digno de atenção. Outro grupo da mídia quer passar a imagem que é folclore que é bonito que tem que preservar que tem isso que tem aquilo, como se fosse um jogo de marketing que nos inventamos para divulgar as cidades envolvidas. Ainda tem uma parte da mídia que acha que é tudo avacalhação, invenção vem para transformar os fatos em produtos, inclusive sugerem o cenário e tal, logo percebem que a história, ou as histórias são frutos da realidade, que eles não podem manipular, pois ninguém inventa nada ou combina nada com ninguém. A história é o que é. Simples assim.

Um folclore que se estende aos fatos, uma lenda que ataca humanos. Até onde vão os limites entre a estória e as ocorrências? Que importância tudo isso traz para uma região? L – Nunca preocupamos com a importância que isso tem para a região, mas sim para as pessoas que largam emprego, tem familiares mortos, tem prejuízos com animais atacados, e até vendem imóveis! Pessoas mudam hábitos para fugir desses enfrentamentos com o sobrenatural. Isso tem que ser analisado e essas pessoas assistidas. Falar sobre o que aconteceu é a melhor coisa, pois conheço pessoas que já estavam em estado de psicose nervosa, equiparável com o soldado que volta da guerra, segundo um psicólogo que participa de nossa associação. Imagine se você acredita ter visto algo sobrenatural, morre de medo, e as algumas pessoas que estão fora do contexto querem te convencer de que você não viu nada! Mesmo coisa aconteceu ao gerente da Mina de Passagem ao dar de cara com a Capitão Jackes, inglês de branco, montado a cavalo que atravessa paredes! O gerente pirou e abandonou o excelente emprego, e não vem nem aqui na região! São pessoas como este rapaz que nos preocupamos, tentamos fazer ele entender que ele não está sozinho, e nem está doido! Quando um grupo que foi em Ouro Preto no Parque do Itacolomi procurar uma mina, acharam mas todos foram chicoteados e pararam no Hospital, o que eles iriam dizer ! Há um limite que separa a realidade do cotidiano, com a realidade do sobrenatural, quando estes se cruzam, as pessoas perdem a referência porque não aceitam os fatos, ai está o nosso papel de categorizar, qualificar, tentar documentar e assim entender os fatos, digamos que é uma alternativa paliativa, de efeito moral. Quando as pessoas alegam estarem em casas assombradas, aconselhamos a elas atacarem, fazer barulho, enfrentar e assustar aquilo que elas acreditam querer assusta-las! Muitas vezes sentimos medo, e para enfrentar esse medo todos novos associados fazem a primeira caçada na pista do Capitão Jackes, entramos em Mariana e vamos parar em Passagem por baixo da terra, mais de três horas em minas, escuro. Então a pessoa descobre que tem uma força muito maior, que pode muito mais do que pensa! Enfrentar e vencer o medo. O medo não é mais que um preconceito. Tenho mais medo dos vivos do que dos mortos! Para ser membro da Associação de Caçadores de Assombração todos são convidados a relacionar-se com a natureza, respeita-la e não desafia-la. Respeitar as pessoas assim como os animais. È uma posição filosófica que trabalha nas pessoas duas coisas: a visão que temos do outro e a aceitação do mundo, das possibilidades, sem preconceitos. Então conversamos com nossos membros em nossas reuniões sobre esses dois temas, a aceitação e o outro. Para depois então agir. O Arcebispo de Mariana, saudoso Dom Luciano, tem como tese de doutorado “O outro.” Nosso lema é ter um coração de criança! Assim teremos um visão mais clara dos acontecimentos, sem preconceitos, enxergando as possibilidades em cada caso, por mais absurdos que possam aparecer. Não há campanha para chamar novos membros, as coisas por si só encaixam. È como o ouro que no rio rola e se junta. Assim são as pessoas que são atraídas por esse fascínio do desconhecido e acabam se juntando. Sem qualquer intenção, a não ser é claro, da curiosidade de entender os mistérios da vida, que movem a humanidade e excedem tanto fascínio do que nos primórdios da era humana, como o caso do caboclo d’água mostra.

Imagem ilustrativa do famoso Caboclo D'água - Imagem: Camaleão

Imagem ilustrativa do famoso Caboclo D’água – Imagem: Camaleão