“A gente acaba tocando mais o repertório dos Beatles que o próprio Paul McCartney”

Por Carol Antunes e Danielly Kethyn

A banda Hocus Pocus voltou à cidade de Ouro Preto para tocar no Oitavo Festival de Cinema. Na estrada há quase 30 anos, a banda mineira revelou que nunca se cansa de tocar as músicas dos Beatles. Eles já se apresentaram na Inglaterra e em diversos festivais. Em 2012, voltaram a Liverpool em turnê especial em comemoração aos 50 anos do quarteto britânico. Atualmente, o público pode acompanhar o Hocus Pocus semanalmente no Lord Pub, em Belo Horizonte, onde a banda realiza um projeto especial aos domingos, além de eventos em todo o Brasil.

Vocês tocam semanalmente no Lord Pub, em Belo Horizonte, um projeto especial aos domingos. Há quanto tempo existe esse projeto?

Jô: A “Domingueira” surgiu há aproximadamente 5 anos, no Jack Rock Bar. Com a reinauguração do Lord Pub e reforma do Jack, o projeto foi transferido para o Lord há 2 anos. Em setembro deste ano, a reforma do Jack estará concluída e poderemos voltar para lá. Mas a Domingueira continuará, com certeza, no Jack ou no Lord.

Antes desse projeto, vocês costumavam tocar em bares semanalmente também, ou faziam mais shows por aí?

Jô: Já tocamos em outros projetos semelhantes, fixos, em bares de BH, mas também fazemos muitos shows fora e em eventos fechados (casamentos, festas particulares, festas de empresa, etc).

Durante os anos que vocês trabalharam juntos, o quanto mudou a formação da banda? E como isso interferiu na vida de vocês?

Jô: Mudou um bocado, eu e o Waltinho somos da formação original de 84, o Beto é de 99, Vlad 2004 e o Sylvinho 2008, acertei? (todos balançam a cabeça dizendo sim). Passei no teste (risos). E já tem um tempo que não muda, desde 2008.

Walter: Todo mundo começou na faixa de 60 anos (risos). Mas assim, agora todo mundo pode sair e sempre vai deixar alguém mais novo, e isso traz o encontro de gerações.

Jô: Essa é a formação mais longa da banda. E o que interferiu na vida… tipo, eu mexo com música desde a época da faculdade, então sempre mexi com música, sou engenheiro civil, trabalhei como engenheiro, aposentei como engenheiro e hoje estou na música.

Vocês continuam com o mesmo entusiasmo ao cantarem as músicas dos ingleses? O sentimento do ínicio da banda permanece?

Jô: Com certeza, e isso que a gente está fazendo aqui hoje, “tá” cheio pra caramba, tudo isso vem da retribuição do que a gente está tocando. Já tivemos 3 vezes na Inglaterra, tocamos em Liverpool, então é muito legal, vale à pena.

Vocês tocam as músicas dos Beatles há quase trinta anos. Houve algum momento que enjoaram das músicas, ou ainda continuam tendo a mesma motivação ao tocá-las?

Jô: Jamais enjoamos, a gente tenta variar, acabamos tocando mais o repertório dos Beatles que o próprio Paul McCartney.

Como é a escolha da setlist, como vocês fazem para mudar o repertório sempre? Tem alguma música que é a fixa de todo show, não pode faltar?

Jô: Não tem. O repertório da banda é muito democrático. Hoje a banda toca 196 músicas mais ou menos. Por exemplo, o repertório daqui de hoje, cada um sugeriu 6 músicas dessas 196. A gente troca e-mails, fala “acho que vai ser essa, essa, essa”. Se repetir, a gente troca, então é bem democrático.

Walter: A gente toca assim, como o Jô falou, mais de 90% do repertório dos Beatles e como a gente toca toda semana, estamos sempre fazendo um rodízio pra ficar com as músicas a ponto de bala.

Vocês pensam muito no tipo de público para quem vão tocar para escolher a playlist, por exemplo, se é num bar, se é num show maior, se é numa cidade menor?

Vladimir: A gente pensa sim, mas o repertório dos Beatles é muito vasto, do rock ‘n roll dançante à balada. A galera que vai assistir uma banda que toca The Beatles quer ouvir tudo, não quer ouvir só uma fase deles.

Sylvio: Sempre vai ter gente satisfeita e gente insatisfeita, tipo “Não, faltou aquela música!”. Sempre vai acontecer, não dá pra agradar todo mundo.

Jô: É assim mesmo, e hoje são 30, 32 músicas que nós vamos tocar, vai ser um show grande. E dia 11, a gente está de volta.

Nos shows, quais são as músicas que vocês acham que o público mais gosta?

Jô: Depende do lugar, da hora. Quando a gente toca no Caem, é tipo Yer Blues, I Am The Walrus, um estilo mais rock ‘n roll, a galera gosta mais. E hoje a gente vai fazer uma coisa até interessante. Fizemos questão de colocar músicas de filmes dos Beatles, trilhas sonoras. Vai ter uma coisa do Paul McCartney também, surpresinha.

E vocês foram no show dele?

Jô: Todos! Nós fomos em São Paulo em 2010, daí teve no Rio e eu não fui, mas o Vlad foi. E lá em BH, óbvio, tínhamos que estar lá.

Para vocês, que músicas tocam no coração, que realmente vocês sentem aquela emoção ao tocar?

Jô: Eu já tive algumas, mas acho que agora vale tudo. Pode ser uma música pra hoje?

Sim, uma música pra hoje.

Walter: Savile Row.

Jô: Para hoje, eu gosto de uma que a gente vai tocar aí, uma do Paul, Live And Let Die.

Beto: Primeira música que nós vamos tocar, A Day In The Life.

Por serem covers, vocês sempre tocam músicas de outras pessoas. Como músicos, vocês sentem falta de compor e mostrar seus trabalhos autorais para as pessoas?

Vladimir: Tudo o que eu queria fazer, o Paul McCartney e o John Lennon fizeram (risos).

Jô: Mas o Beto já teve um trabalho autoral…

Beto: Já tem uns 10 anos, já lancei disco, tive uma banda que tocava rock próprio. Sentir falta a gente sente sim, mas…

Vocês têm algum projeto paralelo além da banda?

Vladimir: Não, mas universo paralelo sim (risos).

Sabemos que vocês tocam fora do Brasil, e já tocaram até mesmo em Liverpool, a cidade natal da banda. Há um sentimento diferente quando vocês tocam no exterior?

Sylvio: Sim, é maravilhoso, porque lá em Liverpool é considerado um lugar sagrado, como se fosse a meca dos Beatles.

Vladimir: Um berço.

Sylvio: Você vai lá e circula aonde eles foram, então é muito bom.

Vladimir: Eu sempre fico achando que vou encontrar o John Lennon por lá, mas não encontro, não sei por quê (risos)!

The Beatles é uma banda que teve sua dissolução em 1970. Porque vocês acham que mesmo após tantos anos que a banda teve seu fim, suas músicas fazem tanto sucesso, inclusive alcançando um público considerado jovem?

Beto: A qualidade da música e uma quantidade de boas músicas. As músicas são boas de tocar, no mundo todo tem muita banda se dedicando a tocar The Beatles, não é à toa não.

Walter: São músicas atemporais, e a gente na nossa época de adolescência, gostávamos de uma parte mais simples, o básico dos Beatles. Só viemos a entender a segunda fase depois de velhos. E hoje os jovens gostam mais dessa fase.

Para terminar, vocês já se apresentaram em Ouro Preto algumas vezes. Vocês sentem alguma diferença do público daqui em comparação aos de outros lugares?

Walter: A diferença é o fuso horário, em um show que começa as 3 e meia da manhã, uma diferença grande (risos).

Jô: O Caem é uma loucura, é muito interessante que a gente chega, passa o som, vai para o hotel, toma banho, daí chega lá 2 horas da manhã e não tem ninguém. A primeira vez que a gente veio, a gente assustou “Pô, 2 horas e ninguém?”, dai 3 horas não anda ninguém no salão, tá entupido. O pessoal aqui é muito legal, a gente gosta muito daqui, e dia 11, a gente volta pra tocar no Caem novamente pro festival de inverno, muito bom.