“É difícil se perder quando seu destino é todo lugar.”

Por Caroline Fernandes e Mariana Ferraz

As viagens estão, mundialmente, entre os maiores e mais importantes negócios. Impulsionadas por inúmeros propósitos, elas movimentam pessoas para todos os lugares. Para ilustrar essa pluralidade que o ato de viajar assume, tomamos como base três pessoas com perfis totalmente diferentes. Pessoas com pontos de vistas distintos: alguém que já lida com o universo do turismo comercial, com os lugares mais visitados e populares do mundo; alguém que vai conhecer um lugar, cultura e povo completamente novos através de um intercâmbio cultural; e alguém que, por conta própria, conheceu o mundo com apenas uma mochila nas costas. As entrevistas foram feitas respectivamente por telefone, skype e email.

 

Estudante de turismo na UniverCidade, agente de viagens pela CVC, Nathália Ferreira, 20, é guia turística no Rio de Janeiro.

Nathália Ferreira em Buenos Aires, Argentina

Você escolheu Turismo como curso de graduação. Como você enxerga o futuro? O que um turismólogo pode explorar em sua carreira?

N - No início, me via gerente de um agencia de viagens. Mas com o passar do tempo, trabalhando no ramo, comecei a conhecer melhor os prós e contras da profissão e, atualmente, tenho o objetivo de fazer uma pós-graduação voltada para licenciatura, com o objetivo de melhorar e ampliar a área educacional do turismo; que é pouco reconhecida, mas que com a copa do mundo e as olimpíadas sendo sediadas aqui, acredita-se que seja levada mais a sério.

Como surgiu a oportunidade do emprego na CVC?

N - Em uma palestra no primeiro período da faculdade, um representante da CVC pediu que os interessados em estágio enviassem currículo via e-mail. Fui às entrevistas, passei por todo o processo de seleção e fui chamada.

Quais foram os destinos mais procurados na agência no último ano?

N - Os destinos sofrem variação de acordo com as épocas do ano, são influenciados quanto ao câmbio também. Na temporada de verão destinos de praia (em sua maioria no nordeste) são mais procurados. Natal e Fortaleza, Resorts na Costa do Sauípe, Salinas Maragogi, cruzeiros pela costa brasileira e Fernando de Noronha. Os destinos internacionais mais procurados são Cancun, Punta Cana e Aruba. Já nos meses de inverno, os principais roteiros são Orlando, Nova Iorque, Las Vegas, Turquia, cruzeiros pelo Caribe e pela Europa. Também Bariloche, Buenos Aires, Chile, Lagos Andinos, Santiago, Deserto do Atacama, Machu Picchu…

Quais são as recomendações/precauções necessárias para quem viaja para estes lugares?

N - Cuidar muito bem dos horários programados pela agência, ter sempre os documentos corretos em mãos. Não questionar as leis locais e seguir o guia e as orientações dele. Se tudo isso for seguido corretamente, a viagem dificilmente terá problemas.

Qual a prioridade dos clientes ao procurar um roteiro (preço, popularidade, distância)?

N - Na maioria das vezes, o preço é a principal consideração dos clientes.

Qual o perfil principal das pessoas que procuram esses destinos?

N - Em geral, as pessoas procuram um bom preço e boas formas de pagamento. Além disso, procuram uma estrutura adequada à idade das pessoas que irão na viagem, bom atendimento, indicação de passeios, de hotéis e restaurantes.

Alguma reclamação frequente sobre o que encontram por lá?

N - Normalmente reclamam sobre a pontualidade dos passeios, pois para a cultura do brasileiro, é comum atrasar excursões. A maioria não compreende que se um passageiro se atrasar, ocasiona o atraso cerca de 40 pessoas dentro dos ônibus na realização de passeio nas cidades.

Há um roteiro que você não recomendaria (como guia)?

N - Não recomendaria Fernando de Noronha e Bonito para idosos, pois é necessário muito esforço físico, caminhadas, esportes de aventura. Sem contar a dificuldade de acesso aos locais. Mas tudo vale à pena conhecer.

Eveline Alvarez, 19, estudante de Física no Instituto Federal da Bahia – IFBA, foi escolhida pelo programa Ciência sem Fronteiras para graduação na Università di Pisa, na Itália. O programa Ciência sem Fronteiras do governo federal prevê bolsas de estudo e outros incentivos para 101 mil estudantes brasileiros para graduação, doutorado e pós-doutorado no exterior.

Eveline Alvarez na Chapada Diamantina, Bahia

Por que a escolha desse destino? Algum motivo específico?

E - Eu tinha poucas opções, era Itália ou Alemanha… Acho que eu teria mais dificuldade em aprender alemão ou inglês do que italiano… E me disseram que lá é menos frio também. Não estou acostumada com essa temperatura que eu vou encontrar por lá!

Quanto tempo você vai ficar na Itália?

E - Vou ficar seis meses inicialmente, para aprender a língua. E se tudo der certo, continuo por mais 1 ano estudando na universidade em Pisa.

Você considera que todo esse tempo fora do país seja um desafio pra você? Em que sentido?

E - Sim, muito grande. Mais dois amigos vão viajar comigo, por isso eu não fico tão preocupada… Mas acho que 1 ano e 6 meses é muito tempo longe da família e dos amigos. Nunca morei longe de casa, vai ser difícil demais me adaptar.

Qual a sua expectativa sobre a viagem?

E - Ando muito ansiosa e nem fui informada sobre a data da viagem ainda. Acho que devo viajar em agosto. Não sei direito o que fazer até lá, meus pais já estão super preocupados e me dando mil recomendações.

Quais os seus medos em relação a essa mudança?

E - Medo da adaptação. Me disseram que vai ser rápido, pois eu vou estar sozinha (sem pai e mãe) e vou ter que me virar para tudo, mas isso me deixa um pouco insegura. Nunca passei por nada parecido.

Você tem alguma dificuldade com a língua falada lá?

E - Comecei um curso de italiano intensivo no mês passado, quando eu ainda eu nem sabia se iria conseguir mesmo a bolsa de estudos na Itália. Até agora tudo está indo bem.

Fazer um intercâmbio sempre esteve nos seus planos?

E - Não, nunca. Muitos amigos meus fizeram intercâmbio e sempre recomendavam, mas quando surgiu essa oportunidade eu não estava preparada. Enviei minha inscrição para o Ciência sem Fronteiras 1 dia antes do prazo acabar. Quando fui escolhida, nem acreditei.

De que modo você acha que a experiência do intercâmbio pode ajudar em sua carreira?

E - Acho que, antes de tudo, é um diferencial. Pela experiência de morar no exterior, aprender uma língua nova, ter estudado em uma instituição reconhecida no mundo inteiro conta bastante atualmente, já que não são todos que têm essa oportunidade.

Aos olhares de um mochileiro, qualquer viagem pode se tornar uma aventura muito diferente do que se pensa. Vinícius Ariel Ferreira de Souza, 25, estudante de administração, mora em Ribeirão Preto atualmente, e viaja de mochilão desde 2008. Já visitou cerca de 15 lugares.

Vinicius Souza em Interlaken, Suiça“Acho que a maior dica que eu não ouvi foi, leve sempre metade das roupas e o dobro do dinheiro que acha que precisará.”

Como você escolhe os destinos?

V - Sempre escolho meus destinos pelo que eu conheço dos lugares, através de TV, internet, revista, mas principalmente pela opinião de outras pessoas. Se o lugar tem algo que me interessa, vai para a lista de lugares que quero visitar.

Em relação aos roteiros, eles são feitos previamente ou vão sendo criados durante a viagem?

V - Sempre faço um roteiro prévio, que na verdade é somente um guia do que planejo fazer, mas ele é quase sempre alterado durante a viagem e como nunca vai completamente fechado, sempre é complementado durante o percurso.

Qual foi o maior período que você passou viajando?

V - 20 dias.

Como é o feito o planejamento de tempo/dinheiro?

V - Quanto ao tempo, penso sobre o que quero ver na cidade, e quantas dessas coisas consigo ver em um dia, partindo disso já tenho uma ideia de dias. Sobre o dinheiro, normalmente são de 20 a 30 reais de alimentação/dia, mais hospedagem, roteiros pagos e um pouco pra emergências. O cálculo nunca é preciso.

Já aconteceu algum problema por falta de planejamento?

V - Acontece sempre, mas o imprevisto é parte da diversão de se fazer mochilão. Quando subi o Pico da Bandeira, meu primeiro mochilão, um amigo e eu levamos coisas demais para pouco tempo que ficaríamos. Acho que levamos coisas demais até pra quem ficaria um mês lá. Principalmente roupas, foram muitas e desnecessárias. Nossas mochilas eram daquelas baratas, que não protegem das nuvens que nós tivemos de atravessar e acabaram molhando tudo que estava lá dentro, com exceção de uma muda de roupa que estava no meio (foi o que usamos daquela mochila). Foram 10km de subida, dos quais uns 6km com ela totalmente encharcada.

Você prefere viajar sozinho ou em grupo? Por que?

V - Eu prefiro viajar sozinho, assim posso fazer as coisas que quero, do modo que achar melhor e na hora mais conveniente, além de ficar menos preso a roteiros. Nunca fui muito apegado a planos e itinerários, sempre mudo tudo no meio do caminho. Se encontro algo interessante, em grupo isso fica mais difícil, além do tempo gasto discutindo possíveis mudanças.

Há algum roteiro que você gostaria de repetir?

V - Gostaria de repetir todos os meus mochilões, poder ver tudo novamente, mas com outra visão e outras sensações. Se fosse pra escolher um seria Paris. Aquela cidade é grandiosa demais em atrações para se ver em uma visita só. Ficou muita coisa sem ser aproveitada por lá.

Qual foi o lugar mais atípico que você já visitou?

V - O Pico da Bandeira. Os outros lugares onde fui foram todos cidades, ou com alteração pela civilização. Já no Pico, a única interferência são as marcações da rota e os acampamentos. O resto é muito bem preservado, além de a natureza castigar com o frio e a chuva que nunca param. É um lugar diferente, onde a gente se sente melhor (papo de energia e coisa e tal, mas dá pra sentir lá).

Tem alguma viagem em específico que você sempre faz questão de citar? Por que?

V - A viagem para o Pico da Bandeira, pois foi meu primeiro mochilão. Tivemos muitas dificuldades e mesmo assim foi incrível, além de o lugar ser lindo.

Já sabe qual o próximo destino?

V - O meu próximo destino ainda não está totalmente definido, mas deve ser o Monte Roraima, em outubro. Uma amiga está indo e me convidou.