O Palhaço – mestre e inspiração

Por: Priscilla Santos e Stênio Henrique Lima

Nariz vermelho, cabelo engraçado, maquiagem extravagante e um enorme poder de fazer rir. Estamos falando do palhaço. Eles estão em muitos lugares. Nas ruas, no telão, na telinha, em hospitais e é claro, nos picadeiros de circos. De artistas de rua a astros do cinema, eles ocuparam as mais diversas posições. Na cidade de Mariana, Minas Gerais, o palhaço uma tradição de décadas que, ao que parece, não está nem perto de chegar ao fim.

Xisto Siman (nome, artístico de Xisto José Pinto Costa), às vésperas de completar 43 anos, mineiro, de Governador Valadares, palhaço desde os 19. Ao terminar o colegial, ao invés de ingressar na vida acadêmica, optou por levar uma vida com mais liberdade e repleta de novas experiências. Surgiu a oportunidade de uma oficina de teatro e outra de circo, iniciou as duas, que posteriormente se juntaram para um espetáculo e a partir daí, o garoto foi demonstrando cada vez mais identificação com a escolha que havia feito, e viu que era aquilo que queria para sua vida.

A princípio, não sabia que iria durar tanto… já dura 23 anos. A família não se opôs, sempre o apoiou, mas no começo demonstrou receio pela incerteza da realização financeira e do sucesso.

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Foto: Stênio Henrique Lima

Xisto se apresentava em sua cidade natal e em cidades da região, tinha visibilidade por meio da TV Leste, que transmitia propagandas de seus espetáculos. Em meados de 1990 veio à região dos Inconfidentes exibir seu espetáculo e logo depois recebeu o convite para coordenar um evento cultural em parceria com o SESI na cidade de Mariana e se fixou, então, na primeira capital mineira.

A primeira casa da companhia de Xisto ficava em Passagem de Mariana. A venda de 600 kits patrocinados por uma empresa de planos de saúde para a reforma da sede o grupo, mostrou como Xisto e sua companhia conquistaram a simpatia da cidade logo nos primeiros meses.

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Foto: Reprodução

Desde então, Xisto e João Pinheiro, com quem trabalha desde que começou, buscaram aprofundar seus estudos no palhaço. Um divisor de águas foi o Teatro de Anônimo. Antes, os palhaços já tinham a ideia do que era o personagem e sua forma. A partir daí, lapidaram seu trabalho, desenvolvendo técnicas que os fizeram chegar ao modelo de palhaço atual. Xisto e João Pinheiro, desde 2000, o Circovolante.

Partindo de uma antiga amizade com o grupo Teatro Andante e um incentivo vindo de um prêmio recebido pelos amigos, veio a ideia do Circovolantereproduzir o encontro em Mariana, uma vez que é uma cidade fácil de acessar, buscar e mover, segundo o próprio Xisto. Além dos patrocínios e parcerias, o Encontro de Palhaços se manteve, desde 2008, pelos prêmios que recebeu. Xisto não atribui os prêmios à sorte, mas a um trabalho contínuo e árduo. Para o palhaço, nenhum outro evento dialoga e se relaciona tanto com a cidade de Mariana, além de atrair milhares de pessoas e fazer a economia girar, no ultimo ano, aproximadamente 960 mil reais foram movimentados durante o evento. Apesar de atrair um número grande de turistas, Xisto acredita que o encontro não é para eles, mas para os palhaços amigos do Circovolante e a comunidade de Mariana.

Em setembro acontecerá o Circovolante - 5º Encontro de Palhaços. Com uma viagem para um evento circense na Argentina, Xisto aumentou seus contatos (mais de 40 grupos argentinos e de outros lugares do mundo) e buscou uma relação maior entre o Encontro de Palhaços e o mundo. E diz que já planeja um evento muito maior para 2014, pretendendo aumentar ainda mais a descentralização do evento, que já atinge outros bairros e distritos.

O aprendiz

Xisto se diz muito grato aos mestres que passaram por sua vida, por todo os ensinamentos e generosidade, mas vê muitas pessoas, que mesmo compartilhando seus conhecimentos, guardam um pouco daquilo que sabem exclusivamente pra si, talvez para garantirem seu poder, seu status, seu mercado.

Hoje Xisto está no papel de mestre, em meio a muitos que se inspiram nele, conhecemos Raed Hilário D”angelo, de 9 anos.

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Foto: Stênio Henrique Lima

O garoto começou a se interessar pela arte em suas visitas ao Circovolante em Mariana e ao Osquindô, clube do distrito de Passagem. Ele achou divertida a ideia de começar a se caracterizar como seus personagens preferidos. Apesar de não se lembrar exatamente quando foi sua primeira visita a espetáculos circenses, Raed guarda com carinho uma de suas primeiras fotos caracterizado, com apenas três anos.

Mesmo tímido, o garoto mostra contentamento ao falar de Xinxim, personagem de Xisto, segurando o riso ao lembrar dele. Raed menciona ainda a palhaça Jojoba, do Osquindo. Busca também no cinema suas inspirações, como os atemporais clássicos de Charles Chaplin, além de outras obras e vídeos na internet.

Mesmo com a pouca idade, o garoto tem consciência da importância dos estudos e diz que não abriria mão deles por motivo nenhum. Na escola tem preferência pelas aulas de artes, mesmo gostando de todas as outras.

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Foto: Ademilson D’ângelo

Além das apresentações, em sua maioria para a família, Raed se apresenta no Salão Paroquial, em Passagem de Mariana, ao lado da prima Luiza. Nos espetáculos, os dois se tornam Vinagre e Azeite e fazem a alegria de quem os assiste. Os pais o apóiam integralmente em todos os momentos. A mãe cuida do figurino, o pai fica por conta da compra dos acessórios, como sapato de palhaço, cartolas, fantoches e sanfona, além de acompanharem de perto todas as apresentações, dando dicas e incentivos.

Um dos truques para que ele fique à vontade é a maquiagem, que ele mesmo faz, desde que começou a se caracterizar. Com a cara pintada, Raed, ou o Palhaço Vinagre, conta que em suas apresentações, usa instrumentos musicais como piano, violino e sanfona – o último aprendeu sozinho -. Além de músicas, o garoto sabe alguns truques de mágica, apresentações com fantoches e sobre pernas de pau e já treina para andar na corda-bamba, reunindo tudo com muito humor. Uma de suas gafes em suas apresentações, foi uma queda da perna de pau no meio de um de seus shows, “eu nem me machuquei, é bom pra dar mais graça ao espetáculo”.

Meu-Filme

No mundo do nariz vermelho, Raed não tem dúvidas ao ser perguntado o que quer fazer da vida profissionalmente, “fazer as pessoas sorrirem.”