Forasteiros em Mariana, um novo mercado

A posição de alguns comerciantes da cidade sobre os novos consumidores

Por Gustavo Kirchner, Mariana Borba e Pedro Ewers

Os estudantes universitários na cidade de Mariana fazem parte da chamada “população flutuante”. Recebem esse nome por não se fixarem na cidade e ficam, em média, quatro anos. São, entretanto, fatia importante do público diário no comércio da cidade e muitos reclamam do tratamento dispensado por alguns donos de estabelecimentos. E são eles nosso foco aqui.

Desde a implantação do ICSA (Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas), em 2008, chegam a Mariana, em média, 400 novos estudantes somente desse instituto a cada ano. Como os cursos ainda são novos, a quantidade de estudantes que sai é bem menor que esse número. O ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais) já existe na cidade desde a década de 1980. Mesmo com o tempo de existência maior, a partir de 2008 o número de estudantes triplicou na cidade. Mais consumidores e, consequentemente, mais mercado. A maioria dos donos de comércio enxergam os estudantes como público que movimenta a economia da cidade, aumentam o fluxo de pessoas e o pedido de mercadorias, sendo motivo para novos investimentos.

O comerciante Marcio Alberto, 43, afirma que o movimento na cidade se modifica bastante em períodos em que os estudantes voltam para suas cidades de origem: “Vejo uma diferença muito grande, no período de férias entre  dezembro e janeiro, meu movimento chega a cair em até 40%”. Rúbia  Andressa de Abreu Santos, 34 anos, gerente da Padaria Trigal, diz que os estudantes têm um jeito especial de abordar os comerciantes, lembrando que em sua padaria muitos chegam pedindo um desconto, ou procurando por promoções: “A grande maioria dos estudantes sabe como pechinchar”. Para ela, esse público aumenta as formas de consumo dentro da cidade: “acredito que fazem a diferença sim. O Jardim (Praça Gomes Freire) está sempre cheio, há festivais da cidade, tudo isso aumenta o consumo”.

Padaria Trigal

Padaria Trigal

Maria da Conceição Costa, proprietária da padaria Marianense, a mais antiga da cidade, não esconde seu afeto e apreço pelos estudantes: “A cidade encheu, eu não tenho muito o que reclamar. Eu até elogio, têm poucos marianenses na universidade, os que estão realmente querem estudar. Vejo gente de Juiz de Fora, Belo Horizonte, Congonhas. Eu adoro estudante, gosto muito de quem estuda. Sempre falo para os meus sobrinhos estudarem porque aqui em Mariana só não estuda quem não quer”.

O gestor da ACIAM – Associação Comercial, Industrial de Agropecuária de Mariana, Helielcio Jesus Vieira, é um dos profissionais do ramo do comércio que enxerga benefícios com a vinda dos estudantes e propõe um trabalho conjunto com eles: “A cada dia necessitamos de pessoas mais capacitadas e qualificadas e a educação, como a saúde, são setores que sempre terão demanda e com certeza colaborarão para aquecer outros segmentos como o comércio e prestação de serviços”.

Helielcio Vieira acredita que os comerciantes devem utilizar do conhecimento adquiridos pelos alunos na universidade. E é adepto de parcerias entre os meios. A Empresa Júnior de Jornalismo da UFOP, Verbalize, já trabalha em parceria com a Associação de Mariana desde o começo desse ano. Ela foi contratada para montar o jornal da Associação, que está em fase de fechamento.

Helielcio Jesus Vieira, gestor da ACIAM

Helielcio Jesus Vieira, gestor da ACIAM

Há quem diga que o estudante é mal visto pelo setor comercial da cidade. Muitos estabelecimentos comerciais, todavia, tratam bem e fazem gosto de receber esses “intrusos”. O que não se pode negar é que a cidade está passando por um momento de intensa modificação, ainda mais no ramo de comércio, por isso grande parte das lojas de Mariana está revendo suas maneiras de estabelecer relações com os clientes.