15 minutos de fama ou a imortalidade?

O que são as subcelebridades e o que as diferencia tanto das grandes estrelas

Por Edmar Borges, Luiza Madeira, Marina Geiger e Pedro Ewers

 

Celebridade – expressão que nomeia pessoas amplamente reconhecidas pela sociedade por meio de seus trabalhos artísticos ou por determinações de parentesco, cujo talento ou nome cria autoridade o suficiente para se tornar alguém interessante, alguém para quem vale a pena olhar. A exposição dessas pessoas na mídia gera a tão desejada fama; porém, mais do que ela, gera o estrelato, que não é adquirido do dia para a noite. Podemos acompanhar diariamente muitos anônimos na tentativa de garantir o sucesso instantâneo, as chamadas subcelebridades.

A expressão “subcelebridade” é um neologismo muito comum utilizado nos meios de comunicação e atribuído a pessoas que, sem exageros, fazem de tudo para aparecer na mídia. São anônimos que sonham com seus 15 minutos de fama, geralmente tão amaldiçoados pelas verdadeiras estrelas, e sendo por vezes taxados de aproveitadores e oportunistas. Eles pipocam de programas de TV, de escândalos de grande dimensão, de fenômenos da internet e por aí vai. Exemplos que se destacam são ex-namoradas de jogadores de futebol, ex-integrantes de reality shows e mulheres que utilizam de seus dotes físicos para se autopromover.

(Mulher Melancia ficou conhecida pelo tamanho dos quadris).

Mulher Melancia ficou conhecida pelo tamanho dos quadris

 

O grande aval para a celebridade ser chamada assim é a prolongação da fama, e as subcelebridades buscam isso a todo custo. Segundo Ravel Brasileiro, ex-colaborador e co-criador do site Morri de Sunga Branca, não é difícil uma subcelebridade se tornar celebridade ou vice-versa. “Eu acho que as duas vias acontecem muito. Uns dão muita sorte de conseguir algo maior mais pra frente. No showbiz é muito difícil dizer isso, porque você vai ficar velho, e a não ser que você seja um ator muito bom e continue trabalhando, você vai sumir. A cada dia vão aparecendo uns e vão surgindo outros”.

O site Desciclopédia, que parodia o conhecido portal de pesquisas Wikipédia, faz uma definição bem humorada das subcelebridades, classificando-as como “pessoas que não são celebridades, mas acham que são. De uma maneira geral, subcelebridades aparecem de repente na mídia, depois ninguém ouve mais falar delas. E é claro, elas se consideram ‘as estrelas’, e acham que merecem privilégios porque (acham que) são famosos”. Apesar do cunho humorístico do site, ele retrata com clareza a realidade desses anônimos.

Para Lele Siedschlag, co-criadora da página do portal R7 Te Dou um Dado?, “a celebridade tem essa capacidade de continuar para sempre. Ela tem o talento dela, o trabalho dela, e não depende de outro tipo de exposição para continuar na mídia”. A blogueira concorda, ainda, que o prefixo “sub” é ligado especificamente à vida pessoal. Ela lembra que não se questiona a existência ou não de talento da pessoa, e sim de esforços prestados para a sua aparição na mídia. “Esforços que ela não mede, nesse caso”, observa.

Protagonistas da figuração

As subcelebridades e suas escadas para o sucesso instantâneo

 

Outubro de 2009. Uma estudante de Turismo da Universidade Bandeirantes de São Paulo (Uniban) é hostilizada ao usar um vestido curto durante a aula. Em pouco tempo a polícia foi chamada e o caso da jovem repercutiu nacionalmente. Em questão de horas, Geisy Arruda, 24, era um dos nomes mais repetidos nos sites de notícias e em vários telejornais do país. Dentre todos os frutos que a jovem colheu de seu pequeno escândalo, está sua presença em programas de TV, entrevistas, ensaio sensual para a revista masculina Sexy e sua participação no reality show “A Fazenda”.

Para Thiago Pasqualotto, também co-criador e colaborador do site Morri de sunga Branca, Geisy se aproveitou da situação para se tornar famosa. “Quanta gente não é motivo de chacota na universidade todo dia e nem por isso virou uma celebridade?”. A despeito do eterno anonimato, outrora desinteressante para a mídia, a jovem agora consegue edificar sua “carreira” e, principalmente, seu patrimônio com a venda de sua imagem.

(Thiago Pasqualotto em entrevista durante a IV Secom da UFOP).

Thiago Pasqualotto em entrevista durante a IV Secom da UFOP

Mas nem toda subcelebridade surge por acidente. Existem programas de TV que ajudam justamente na “fabricação” desses famosos instantâneos. O maior exemplo atualmente no país é o reality show “Big Brother Brasil” (BBB). Com edições anuais, o BBB teve seu início em 2002, e em 2013 o programa exibe sua 13° edição. Por três meses, cerca de 15 a 20 participantes ficam confinados em uma casa e disputam a preferência do público. Segundo Pasqualotto, “ex-BBB tem a época dele, sua carreira dura cerca de seis meses”. O blogueiro ainda afirma que o programa é, sim, o maior produtor de subcelebridades no país, embora não produza as melhores.

Por outro lado, uma subcelebridade, ainda advinda de um reality show, mesmo não sendo a vencedora do programa, pode se tornar celebridade. É o caso de Grazi Massafera, que ficou em segundo lugar na 5ª edição do reality e hoje é atriz da Rede Globo. O vencedor dessa mesma edição, Jean Wyllys, é outro exemplo – ele foi eleito em 2010 deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro. Além deles, outros dois nomes se destacam: Juliana Alves, que também se tornou atriz da Rede Globo, e Sabrina Sato, uma das apresentadoras mais conhecidas da TV brasileira, atualmente na Rede Bandeirantes, ambas participantes da 3ª edição do programa. À exceção de poucos casos, portanto, grande parte dos ex-integrantes do BBB caem no esquecimento mesmo após vencerem o reality ou convivem com o eterno estigma de “ex-BBB”, informação prévia com a qual são tachados como se ela definisse uma profissão (o que se revelou mais um artifício das subcelebridades para permanecerem em cena).

Enquanto isso, durante o processo de seleção para o BBB desse ano, uma inscrita chamou muito a atenção. Inês Brasil, 44, tentou participar do reality pela quinta vez consecutiva. Sem sucesso, teve um de seus vídeos de inscrição exibidos na internet, que acumula atualmente quase 2 milhões de acessos no Youtube. Inês tem investido na sua carreira de cantora desde que se tornou viral na web, se apresentando por todo o país em casas de shows e boates e cogitando, inclusive, a possibilidade de se tornar atriz pornô. De acordo com Thiago Pasqualotto, mesmo não sendo selecionada para participar do programa, Inês se destacou mais do que os participantes. E ele acrescenta: “Ela é uma pessoa jogada, ela se joga! Ela sabe que ela é só uma subcelebridade. O ruim é quando a pessoa tenta fingir ser o que não é”.

 

(Inês Brasil no seu vídeo que acumula quase 2 milhões de acessos na internet).

Inês Brasil no seu vídeo que acumula quase 2 milhões de acessos na internet

É incontestável que os programas de TV exercem influência na notoriedade de muitas subcelebridades, assim como as histórias de vida dessas pessoas, anteriores à fama, ajudam a delinear o caráter de suas participações nesses programas. A Rede Bandeirantes, por exemplo, lançou em 2012 o reality “Mulheres Ricas”. Nele, Valdirene Aparecida Marchiori, mais conhecida como Val Marchiori, se tornou uma das figuras de maior destaque. Devido ao seu jeito extrovertido e debochado, a socialite, que já havia ganhado certo espaço na mídia ainda antes do programa, nega a necessidade da sua participação com o objetivo de ficar famosa. Ela se tornou em pouco tempo uma das subcelebridade mais comentadas do país. Em entrevista ao portal iG, Val conta que seu sonho nunca foi ser famosa. “Sempre quis ter tudo o que eu não tive. Não queria ficar onde eu nasci, queria mais. Sou de um distrito que se chama São Pedro, no Paraná, muito pequenininho. Sempre almejei ser independente, sempre ganhei meu dinheiro, tive transportadora, concessionária, vendia Avon. Nunca quis ser famosa, ser atriz, nunca. Sempre quis ter tudo o que eu gosto. Queria comprar um sapato quando era criança e não tinha dinheiro. Então, pensava em arrumar maneiras para comprar aquele sapato. Não ficava chorando ou pedindo para o meu pai, eu vendia Avon para comprar.”

Até onde?

“O que define uma subcelebridade é a falta de limite”

 

Foto de Andressa Urach, vice-miss Bumbum, publicada em seu perfil na rede social Instagram

Foto de Andressa Urach, vice-miss Bumbum, publicada em seu perfil na rede social Instagram

Pessoas que querem ser a bola da vez a qualquer custo. Não importa o limite, o importante é chegar lá. Fama repentina que não costuma durar muito. Toda oportunidade de aparecer deve ser aproveitada, mesmo que a resposta seja mínima. Eis a premissa das subcelebridades, que “ganham a vida” chamando a atenção alheia. Uma notinha no EGO, página do portal da Rede Globo na internet, e elas alcançam a visibilidade que tanto precisam. Os assessores fazem de uma queda na orla carioca um fato que merece ser noticiado. Mas qual o limite para toda essa exposição?

Segundo Ravel Brasileiro, não há limites para a subcelebridade. Quem delineia esse limite é a própria pessoa – e os limites têm sido quase nulos ultimamente. As notas publicadas noticiam desde carros caídos na piscina até fotos de um bumbum com uma mosca pousada.

 

(Foto de Ana Carolina Madeira, ex-BBB, publicada no EGO).

Foto de Ana Carolina Madeira, ex-BBB, publicada no EGO

Já na opinião de Thiago Pasqualotto, esses limites são pensados pelos veículos, que escolhem o que publicar. Há muitos casos, inclusive, em que a publicação de uma nota ou de uma piada pode soar ofensiva. O blogueiro dá o exemplo da filha de Roberto Justus, Rafaella Justus, de 3 anos. Rafaella, que tem uma rara deformação no crânio e é constantemente submetida à exposição pelos pais, é alvo de chacota de muitos humoristas. Mas Pasqualotto diz que é possível (e necessário) se abster de certas declarações. De acordo com ele, isso parte do bom senso de cada jornalista.

O limite, portanto, é relativo, e cada caso concorda com determinado nível de exposição. A divulgação de cada movimento dos pseudo-famosos e sua repercussão nos meios de comunicação do país fazem com que eles acreditem na visibilidade infinita e os motiva a querer sempre mais. Isso alarga seus limites e, especialmente, os limites dos anônimos que estão por aí, esperando sua vez, ou apenas vivendo suas vidas comuns antes que possam nos “surpreender”.