Segredos do quarto maior carnaval do país

Prefeitura explica como é organizado o Carnaval ouropretano

 por: Di Anna Lourenço, Elis Gonçalves, Paloma Ávila e Luiza Madeira

O Diretor de Eventos da Secretaria Municipal de Cultura de Outro Preto, Carlos Roberto Pedro, 53 anos, falou a nossa equipe. “Para organizar o carnaval de Ouro Preto a prefeitura mobilizou todas as secretarias”. Além das secretarias, a Guarda Municipal, a Polícia Militar e os Bombeiros estão envolvidos no planejamento e ajudaram na organização do fluxo do trânsito, garantindo a segurança dos foliões e a preservação dos monumentos e o evento acontecesse de maneira tranquila.

De acordo com Pedro, no carnaval deste ano, houve uma atenção maior quanto a escolha das atrações musicais, pois buscou-se beneficiar as bandas da cidade de acordo com a opinião do público, preferindo as mais elogiadas. Não houve muita dificuldade em escolher, pois, ao todo, na cidade, são 32 bandas. No próximo ano, as que não entraram nesse carnaval serão as prioridades.

O carnaval de rua conta com 19 blocos na sede e 9 dos distritos que totalizam 28 blocos, todos em atividade, começando pelo Zé Pereira com 146 anos. Esse número é constante, sem muita variação de um ano para o outro. A prefeitura dá uma ajuda de custo que varia de 1 mil a 10 mil de acordo com a idade do bloco e com o número de componentes que ficou determinado quatrocentos participantes para esse ano. Todos os cadastrados são feitos na Secretaria de Turismo, inclusive as escolas de samba, em contrapartida se sempre comprometem a fazer a alegria dos foliões e a cumprir um horário de show. O dinheiro investido nos blocos vem da Secretaria de Turismo que esse ano contou também com o patrocínio da Skol. “Este ano este patrocínio vem por intermédio de um projeto do governo estadual, que investiu R$ 600 (seiscentos mil reais). Mas esse dinheiro foi todo investido em infraestrutura para shows, contratação dos artistas, bloco Cadongueiro, banheiros químicos, Casa da Skol e os músicos que eles trouxeram. A prefeitura não colocou a mão em nenhum centavo” afirmou Pedro. O que, na opinião do diretor de eventos Pedro, não está correto, pois se a secretaria tivesse esse patrocínio saberia aplicar melhor o dinheiro.

Sobre as escolas de samba não desfilarem esse ano, o diretor argumentou que em função da posse da nova administração pública, o tempo foi insuficiente para as escolas se organizarem. A decisão de não desfilar partiu da própria liga das escolas em comum acordo com as escolas.

Sobre a importância do carnaval de rua para a população ouropretana, o diretor disse que esse carnaval é legítimo da população, é o que faz a alegria do povo, inclusive durante o ano inteiro. Os blocos republicanos fazem um carnaval fechado, para turistas e estudantes. Não existe qualquer tipo de investimento da prefeitura para estes blocos, como não há, também, nenhum ganho da prefeitura encima deles. Pedro afirma que os blocos republicanos não atrapalham o espaço dos blocos tradicionais.

A grande diversidade nos estilos, ritmos e shows apresentado nesta edição por sugestão da administração tem o único intuito de descentralizar o carnaval e distribuir o público. Este objetivo é uma medida preventiva, pois Pedro nos informa sobre a existência de um estudo da Fundação Gorceix que diz que a quantidade de pessoas (blocos e foliões) que se dirigem para o centro da cidade tem gerado um grande peso sobre a área da Praça Tiradentes o que vem prejudicando a estrutura da praça e do conjunto arquitetônico entorno. Por esse motivo há a necessidade da descentralização. Quanto aos estilos e ritmo, Pedro afirma que é solicitado as bandas, independente do ritmo que se toca, priorizar os ritmos carnavalescos. “Os foliões aprovaram essa solicitação” conclui.

Blocos Zé Pereira dos Lacaios e Vermelho i Branco

Falar de carnaval em Ouro Preto é falar da eterna diferença entre os blocos republicanos e os tradicionais, segredos do quarto maior carnaval do país e o maior de Minas Gerais. Sempre na quinta-feira que antecede o Carnaval, os blocos “Zé Pereira dos Lacaios” e “Vermelho i Branco” fazem a abertura oficial. A alegria toma conta inicialmente de seus bairros de origem. Eles se concentram no Antônio Dias e no Rosário, respectivamente, onde ficam suas sedes, e seguem cortejo pelas ruas de Ouro Preto arrastando multidões caracterizadas com as cores do Bloco e animadas pelas marchinhas carnavalescas. Esse ano não foi diferente, com muitas cores, música e animação pelas ruas de Ouro Preto. O número de pessoas na cidade quase que dobrou. Turistas do Brasil e do mundo vieram para conhecer e prestigiar os blocos e os shows realizados durante o evento. Vozes alegres, caras jovens e dispostas desfilavam pelas ladeiras durante o dia e a noite. A fama desse carnaval não é só por conta dos blocos tradicionais, afinal esses dividem, há um bom tempo, o espaço com outros blocos fechados das Repúblicas Universitárias e com vários espaços multiculturais (espaços para shows diversos) espalhados pela cidade. Mas, uma pergunta ecoa quando se fala em planejamento. Será que tem lugar para todos? Como fica a situação dos blocos tradicionais? É o que pretendemos tratar aqui, após várias entrevistas.

O carnaval de Ouro Preto, neste ano de 2013, iniciou-se na quinta-feira, às 21h, na Praça Tiradentes com o bloco Zé Pereira dos Lacaios. O bloco “Vermelho i Branco” acompanha o centenário “Zé Pereira” há mais de 30 anos nesta tarefa de animar os foliões. “A gente sabe que é uma dificuldade enorme em manter esses blocos, imagina só, Vermelho i Branco fazendo 30 anos. São 30 carnavais, que a gente fica feliz em participar”, afirma o vereador, mandato 2013/2016, e, ainda, carnavalesco da escola de samba Sinhá Olímpia, que acompanha desde os 15 anos o “Vermelho i Branco” Wallisson Pedrosa Maia. Pedrosa se recorda que quando criança, seus pais o traziam para o centro da cidade. Ficava deslumbrado com o Bloco Zé Pereira. Das figuras que apareciam, a fantasia que mais lhe punha medo era a dos capetas com aqueles tridentes batendo no chão e saindo faíscas. “É uma tradição que deixa muitas e boas lembranças”, conclui.

Na opinião de alguns foliões os blocos tradicionais vem perdendo um pouco do espaço para os particulares. Mas a gestão pública ouropretana vem tentando resgatar esta tradição. No entanto, a folia organizada pelos universitários cresceu muito devido ao número de repúblicas, que também aumentaram com o passar dos anos. Este é um dos motivos de existir, em paralelo aos blocos tradicionais, os das repúblicas. A maioria destes não saem, ficam concentrados em espaços particulares. Costume é importante, pois gera identidade entre o povo de uma cidade e região. Resgatar estes blocos tradicionais é uma importante iniciativa. O sentimento que nos temos hoje é que esse governo quer resgatar a cada dia mais as marchinhas de carnaval e os blocos tradicionais”, fala sorridente e esperançoso o vereador Pedrosa.

Os blocos de carnaval tradicionais que desfilam em Ouro Preto recebem incentivo financeiro da Secretaria de Turismo. No entanto, enquanto carnavalesco da escola de samba Sinhá Olímpia, Pedrosa lastima o fato de sua escola não desfilar mais. “Nós vamos buscar esse resgate também, no nosso Bairro, Bauxita, tentar levar a escola de samba em 2014 para o carnaval ouropretano. “Mas, em relação às escolas de samba este ano, “a pergunta que não quer calar”, me parece que não houve tempo suficiente para que fosse repassado a verba às escolas de samba. Eu posso dizer com propriedade que esse recurso é necessário. Nós precisávamos pagar os fornecedores antecipadamente e não haveria tempo de fazer um carnaval à altura”, fala o vereador. Mas, no entanto, acredita que a prefeitura, nesse momento, acertou em não realizá-lo, pois, “embora a população perca muito com isso, quem sabe vai servir para que em 2014 o carnaval das escolas de samba seja realizado de uma forma que beneficie ainda mais a população de Ouro Preto”, concluiu.

O vigilante Reneir Guilherme Rufino, 36 anos, contou a nossa equipe, que são 20 anos acompanhando o bloco “Vermelho i Branco”, além de participar ativamente da escola de Samba “Unidos do São Cristóvão”. Rufino, apaixonado por Ouro Preto, nos confessa que tem preferência pelo blocos tradicionais. Acredita que os bloco Republicanos divide um pouco a população atrapalhando o movimento dos tradicionais”. Sobre o evento deste ano, lamentou-se pelo fato de não ter ocorrido o desfile das escolas de samba. “Um pouco por falta de organização das ligas das escolas. E outro pouco por que o poder público não organizou em tempo hábil planejamento para fazer o repasse da verba destinadas às escolas”, concluiu Rufino.

A foliã e membro do bloco Zé Pereira dos Lacaios, o mais antigo do Brasil, Angélica, 25 anos, graduada em Moda, conta que há pouco tempo é integra do grupo, mas nasceu e passou a vida toda ao lado da sede do bloco. Dessa proximidade geográfica nasceu uma paixão pelo bloco Zé Pereira. Seu sonho sempre foi participar do bloco, mas tocando na bateria. “Os administradores passados eram machistas e não admitiam muitas mulheres, só agora com a nova direção do senhor Salvador é que houve essa abertura”, explica a moça. Fala, ainda, do fato dos blocos tradicionais serem direcionados ao público nativo e os fechados para os estudantes e turistas, mas que um não atrapalha o outro, pois não há rincha. “O que tem aqui, não vai acabar, é do povo”, fala convicta sobre os blocos tradicionais. Quanto aos blocos republicanos, esses vão e vem, se formam e acabam, conforme as turmas que ingressam nas repúblicas. Para ela os blocos tradicionais são alimentados pelo amor do povo ouro-pretano pelo carnaval. “As crianças ficam o ano todo ensaiando para participar do Zé Pereira. Para elas isso é muito legal”, conclui sorrindo. Sobre esse carnaval de vários estilos, multicultural, com vários espaços e shows, nos contou que acredita que o Zé Pereira foi prejudicado, em seu primeiro desfile, no sábado, pois não houve o acompanhamento policial para garantir o cortejo e eles foram impedidos de entrar na Praça Tiradentes devido ao show que estava acontecendo lá. No domingo, o bloco e seus foliões fizeram um protesto, na mesma praça, para manifestar o desagrado. Mas, ainda assim, acredita que tem que ter espaço para todos.

Diversidade de atrações

Ao todo são dezenove blocos caricatos na sede e outros nove nos distritos que fazem a alegria dos foliões. Alguns já são tradicionais, com uma longa trajetória de folias para contar, outros tem pouco tempo de história. Um dos primeiros a ser criado na cidade histórica é o Zé Pereira dos Lacaios, com 146 anos de desfiles e participações. No dia em que sai pelas ladeiras da cidade, uma verdadeira multidão é arrastada pelas cores, caricaturas, marchinhas e pelo som contagiante de sua bateria. Além disso são programados, em vários palcos montados – em pontos estratégicos da cidade Shows que atende a vários gostos: rock, samba de raiz, escola de samba e blocos particulares fechados – a cidade fica lotada de turistas, para todos os lados que se olha vemos alegria estampada nos olhares e sorrisos.

Avaliação e expectativa de público

Expectativa para o Carnaval de 2014

Estimativa para o Carnaval de 2014

A cada ano cresce mais o público que vem prestigiar o carnaval em Ouro Preto. Segundo estimativas da prefeitura, o número de visitantes foi de aproximadamente 65 mil pessoas e a média de crescimento por ano é de 3 a 5%. Uma enquete feita por nossa equipe, do site #tecer, na rede social Facebook confirma a afirmação da prefeitura. Num período de 8 horas, 40 pessoas responderam a uma pergunta: Você passou o carnaval 2013 em Ouro Preto? Pretende passar novamente em 2014?. O resultado revela que 83% dos que responderam à enquete passaram o Carnaval em Ouro Preto. Destes, 60% pretendem voltar em 2014. Dos 18% que não vieram este ano, 10% responderam que pretendem vir no próximo e 7,5% não. Somando o percentual dos que pretendem voltar com os que pretendem vir pela primeira vez teremos 77,5% um percentual muito próximo ao de 2013. Se fossemos considerar uma margem de erro, facilmente poderíamos confirmar um possível crescimento no número de foliões em 2014.

 Confira o que coube a cada secretaria na organização do carnaval:

Secretarias

Atribuições

Obras

Operação tapa buracos e coordenação dos funcionários para ficar à disposição

Saúde

Distribuiu quites de prevenção e atendimento médico de emergência em tendas

Fazenda

Responsável pelo repasse das verbas aos blocos

Patrimônio

Responsável pela fiscalização do trabalho dos camelôs e dos ambulantes

Turismo

Coordenou todas as outras secretarias quanto à realização do carnaval

Vídeo: Paloma Ávila

Vídeo: Elis Regina

Vídeo: Paloma Ávila

Vídeo:Paloma Ávila

Vídeo: Paloma Ávila

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Estudante de Comunicação Social - Jornalismo