Posted by admin On março - 6 - 2013

Minas Gerais é conhecida por sua grande atuação na área da mineração. Sendo assim, é um assunto recorrente nos noticiários e de interesse do público mineiro. Essa atividade teve início na era colonial, com a descoberta de ouro e outras pedras preciosas. A região se destaca no cenário nacional como o principal produtor de minerais metálicos e não-metálicos do país, respondendo por 35% do total da mineração brasileira.

A extração mineral fomenta investimentos em Minas. Prova disso é o balanço parcial de 2012 (janeiro a novembro), publicado no portal do jornal O Estado de Minas, que indicou 158 protocolos de intenção de investimentos, orçados em R$ 17,4 bilhões e com a perspectiva de gerar 26.821 empregos diretos no estado.

Nas análises das notícias do jornal online O Estado de Minas, é recorrente a presença de matérias que tratam do assunto mineração. São encontrados dados sobre investimentos em cidades de pequeno porte e como os royalties são importantes para a geração de emprego e até de melhorias urbanas. Porém, também são apontados pontos negativos desta atividade, como o desgaste ambiental causado em áreas onde as minas de extração estão localizadas.

Mas será que a forma de noticiar a “mineração” está feita de forma clara e objetiva?

Abordar o jornalismo ambiental é um desafio complexo que exige dos profissionais especialização na área e um mínimo de conhecimento científico. Segundo Belmonte (2004), o tema meio ambiente é noticiado de forma descompromissada, no que diz respeito a educar e a transformar a sociedade.

Trabalhar como jornalismo ambiental é mais do que debater a relação do homem com o meio ambiente, “ao contrário, exige uma abordagem ampla e contextualizada, constituindo-se uma prestação de serviço para as futuras gerações” (MORAES, 2008).  Porém, as empresas de notícias, na maioria dos casos, dão atenção para questões ambientais espetaculares, no caso de acidentes naturais que geram grande repercussão e favorecem a vendagem ou a audiência dos meios.

No Brasil, o jornalismo ambiental é uma atividade recente que muitas vezes tem sua imagem associada ao ativismo radical. Esta relação faz com que a sociedade não se importe com o que esta sendo apresentado, isso porque em algumas situações os defensores ambientalistas extrapolam.

Para o jornalista Wilson Bueno, o “jornalismo ambiental deve propor-se política, social e culturalmente engajado, porque só desta forma conseguirá encontrar forças para resistir às investidas e pressões de governos, empresas e até de universidades e institutos de pesquisa, muitos deles patrocinados ou reféns dos grandes interesses”.

Além de uma função informativa o jornalismo ambiental também é educativo, no que diz respeito à explicitação de problemas com o meio ambiente e de indicar soluções para estes. “O Jornalismo Ambiental não pode, como tem acontecido com relativa frequência, ser veículo dos vendedores de produtos e serviços, quase sempre antagônicos à ideia de proteção e de respeito à qualidade de vida”. (BUENO, 2007)

 

Nos jornais

O Estado de Minas é um jornal diário, pertencente ao Grupo Diário dos Associados e circula desde o ano de 1928. É um dos mais importante e influente de Minas Gerais. É possível perceber que em muitas vezes o jornal assume papel de cobrança relacionado a atividade mineradora.

Um exemplo disso é a reportagem de Marcelo Fonseca, do dia 16 de dezembro de 2012, que usa expressões, de certa forma, coloquiais como “segundo plano”, “faz tempo” para denunciar o descaso do governo sobre o assunto. O uso dessas expressões pode aproximar o leitor do assunto, e facilitando a identificação do leitor com os temas tratados. A matéria enfatiza, ao final, a maneira com o ministro Edison Lobão parece “enrolar” quando se trata do código de regulamentação da mineração. E aponta o descaso do governo e adiamento “proposital”, reafirmando quando ele cita falas do ministro Edison Lobão nos últimos três anos (2010, 2011 e 2012), em que garantia que o projeto seria votado o mais breve possível.

Ainda a título de exemplo, tomamos a reportagem de Marta Vieira e Paulo Henrique Lobato, veiculada no dia 29/06/2012, que aponta a importância da atividade mineradora para o país e, principalmente, para o estado de Minas Gerais. Nesse caso, a mineração é tratada como uma atividade benéfica para a economia, já que uma crise não abalou a atividade. A matéria cita a geração de empregos graças a expansão das mineradoras. Porém não faz referência aos impactos ambientais causados por essa expansão. Ao final da matéria, encontra-se um infográfico com os dados da mineração. É importante lembrar que por se tratar da versão online de um jornal. O infográfico adequa-se perfeitamente tornando a compreensão da matéria mais eficiente e mais chamativa.

Por fim, destacamos uma matéria do dia 11/03/2012, do repórter Daniel Camargos. O título “Mineração pode devastar paisagem que emoldura os profetas de Aleijadinho em Congonhas”, já propõe que teremos um texto mais sensibilizado com as causas ambientais. O bigode sugere que a matéria dará voz aos vários lados envolvidos na questão.

Esse caráter emocional permanece no primeiro parágrafo, o lead, “Joel, um dos 12 profetas esculpidos por Aleijadinho, é testemunha imóvel da exploração que minou grande parte da Serra da Casa de Pedra”. Abordar esse assunto dessa matéria faz com o que leitor se identifique com o problema e, de certa forma, se posicione diante do assunto.

As fontes ouvidas pelo jornal são o ex-prefeito de Congonhas, Anderson Cabido, o coordenador de um projeto de proteção da Serra de Casa de Pedra, de Congonhas, e o ministério público. A matéria tende a expor mais os aspectos negativos da exploração de minério de ferro na cidade de Congonhas, mas também aborda o lado benéfico da mineração para a cidade. São enfatizados os prejuízos ambientais, culturais e públicos que a exploração mineral traz para a cidade. É possível perceber crítica a fala do prefeito que defende a mineração, que diz ter projetos para a preservação ambiental, mas que nunca foram colocados em prática.

Ao fim, o jornal apresenta argumentos de quem é a favor ou contra a exploração mineral na cidade de Congonhas.

A área do jornalismo ambiental ainda é muito recente e pouco explorada. Com a popularização da internet essas pautas passaram a ser mais recorrentes, principalmente nos portais online. Percebe-se que os repórteres tem pouca habilidade para tornar as matérias mais simplificadas e acessíveis a qualquer tipo de leitor.

E como já foi dito anteriormente, o jornalismo ambiental precisa, mais que informar, cumprir papel educativo, para conscientizar a sociedade da importância de preservar e discutir questões relacionadas ao meio ambiente[1] .

O jornal O Estado de Minas prioriza a mineração somente como uma atividade econômica e, deixa as discussões e a conscientização ambiental  em segundo plano. E falha na falta de profissionais ligados a área ambiental como fontes para problematizar os impactos causados pela atividade mineradora.

Por Fernanda de Paula, Fernanda Mafia e Júlia Mara Cunha

Categories: Destaque

3 Responses

  1. Eduardo Braga disse:

    Muito boa a crítica feita por Fernanda de Paula, Fernanda Mafia e Júlia Mara Cunha. Abordaram muito bem a maneira como o jornalismo ambiental é tratado pelo jornal avaliado, utilizando referências de estudiosos para analisar melhor o tema. Demonstraram o foco do jornal em suas notícias e o que falta em suas reportagens.

    • Eduardo Braga disse:

      Desculpem-me por não ter comentado, mas o único erro foi não ser postado fotos das matérias analisadas e do jornal criticado.

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