Posted by admin On março - 4 - 2013

A Folha de S.Paulo publicou uma notícia assinada pela jornalista Eliane Cantanhêde com o seguinte título: Racionamento de luz acende sinal amarelo. A matéria afirmava que mesmo depois de ter descartado problemas no setor de energia, a presidenta Dilma teria convocado uma reunião de emergência por conta dos baixos níveis dos reservatórios de água. Depois da publicação do texto, o ministro Edison Lobão, em telefonema à Cantanhêde, esclareceu que a reunião não era de emergência nem tinha sido convocada pela presidenta Dilma. Tratava-se de uma reunião ordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) marcada desde dezembro de 2012.
No decorrer da matéria, ao falar dos níveis dos reservatórios, Eliane citava como fonte os técnicos do setor de energia:

“Técnicos do setor acusam Dilma de estar centralizando as decisões e dizem que, se o racionamento não é uma certeza, também não pode ser simplesmente descartado. Um deles diz que o risco “está acima do prudencial”. Trecho retirado da matéria publicada dia 7 de fevereiro de 2013

No dia 08 de Janeiro a Folha publicou na Seção “Erramos” a seguinte nota:

MERCADO (7.JAN, PÁG. B1) A reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico havia sido marcada em 13 de dezembro de 2012, e não neste ano, conforme informou a reportagem “Racionamento de luz acende sinal amarelo”, de Eliane Cantanhêde.

No mesmo dia, na editoria de Mercado, a jornalista publicou um texto assumindo a troca de informações. Para não ficar desarmada, após ter afirmado na primeira matéria que os participantes da reunião tiveram que modificar suas agendas devido à emergência da convocação, a jornalista utilizou como fonte a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Eliane escreveu o seguinte:

“De acordo com Lobão, a reunião é ordinária e foi “marcada há um ano”. No entanto, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE que integra o CMSE foi obrigada a remarcar sua assembléia geral, prevista para amanhã, depois de convocada, no final da semana passada, para a reunião do comitê”.

No dia 10 de Janeiro, Eliane assinou uma dura crítica ao governo em sua coluna no Folha Online. Intitulada “Aos 45 do segundo tempo” a nota reafirmava que a convocação havia sido de ultima hora:

“Desmentir notícias desconfortáveis, aliás, é comum a todos os governos: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”.

Por isso, guardei uma carta, literalmente, na manga: o e-mail enviado por um dos órgãos participantes às 17h56 da última sexta-feira: “A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE informa aos agentes que a 53ª Assembleia Geral Extraordinária foi transferida para o dia 14 de janeiro [...]. O adiamento deve-se à coincidência da data anterior [9/1] com a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), convocada pelo Ministério de Minas e Energia”.

Segundo o Código de Ética, Capítulo III – Da responsabilidade profissional do jornalista

Art. 12. O jornalista deve:

I-Ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas.

Diante disso, fica evidente a falta de apuração dos fatos. Toda a repercussão negativa para a Folha poderia ter sido  evitada se a jornalista tivesse seguido o Código de Ética e apurado a fundo as informações. De fato a reunião aconteceu, o tema era o nível dos reservatórios de água e a atual situação de energia do Brasil, mas não uma possível situação emergencial.

Cantanhêde deixa claro no último texto publicado sua crítica ao atual governo, não dizendo que ele é o único que desmente fatos, mas que já esperava que o governo fosse “esconder” a situação e que tinha uma “carta na manga”. Quando chegamos nesse ponto temos um conflito de informações, por se tratar de uma situação governamental, cinco dias pode não ser considerado antecedência e nesse momento a jornalista não comete equívocos em publicar que a reunião era emergencial, mas ainda assim reafirma que a informação dada pelo ministro é falsa. Nós leitores ficamos divididos entre as duas versões, pois damos credibilidade e confiança ao jornalista quando lemos e acompanhamos suas matérias, certos de que estamos consumindo um produto dentro das normas éticas, mas também não descartamos a credibilidade quase “automática” quando se trata de uma fonte oficial do governo.

Por Adrean Larisse Nunes, Thamira Bastos e Edan André

Categories: Destaque

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