Posted by admin On março - 4 - 2013

A editoria de polícia do telejornalismo brasileiro é totalmente popular, nas abordagens, nas coberturas dos fatos. O jornalismo policial possui um caráter sensacionalista impulsionado pela reação do espectador, que dá audiência à polêmica gerada com o discurso da matéria que prende o público.

Segundo a Teoria Hipodérmica (Teoria da Bala Mágica) a informação jornalística chega a seus receptores da mesma forma que é emitida, tendo em vista que o emissor acredita que o receptor (o telespectador) faz parte de uma sociedade de massa, passiva da capacidade de contrapor-se ao conteúdo que consome.

O teórico Harold Lasswell, autor do paradigma clássico afirma que “compreender o alcance e efeitos das mensagens transmitidas pela mídia requer as seguintes perguntas: ‘quem?’, ‘diz o quê?’, ‘através de que canal?’, ‘a quem?’, ‘com que efeito?’. O quem faz menção aos emissores da mensagem, o diz corresponde ao conteúdo da mensagem, o canal à análise dos meios e o efeito à análise da audiência e reflexos na sociedade.”

“Chororô na delegacia”

O programa Brasil Urgente, da Bahia, veiculou uma reportagem intitulada “Chororô na delegacia”, no dia 10 de maio de 2012. No vídeo, a jornalista Mirella Cunha entrevista um acusado de estupro e o satiriza durante toda a matéria. O que fomenta o sarcasmo é, inicialmente, o fato do entrevistado não saber falar o nome correto do exame de próstata. Mirella enfatiza esse erro do entrevistado após afirmar que ele tinha a intenção de estuprar a vítima, mesmo com o contraponto constante do entrevistado.

Esse vídeo gerou repúdio em boa parte da população nas redes sociais, que usou de muitas retaliações sobre a credibilidade da profissional. A matéria foi visualizada por milhares de pessoas e reprovada por muitas delas. Houve até posicionamento judicial contra a repórter, cabendo à empresa definir seu destino e o dos demais funcionários.

Assista ao vídeo abaixo:

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O programa “Brasil Urgente” surgiu na televisão brasileira com a proposta de mostrar o país como ele é sem cortes e rodeios. De acordo com o site do mesmo nome, trata-se de um programa jornalístico e investigativo, exibido na rede Record, e tem como característica o dinamismo, matérias policiais recheadas de opiniões do apresentador. O telejornal  apresenta uma linguagem coloquial e opinativa. Dispensa os formatos tradicionais, assumindo a flexibilidade e sempre improvisando ao vivo.

Na análise do vídeo citado e também do programa como um todo, o Brasil Urgente usa do discurso sensacionalista para obter efeitos diante dos telespectadores, para prender a atenção, emocionar, gerar sentimentos de revolta, pena, comoção, identificação. O perfil do apresentador também se tornou a principal característica do telejornal, por meio de gritos, comentários pessoais, ofensas aos criminosos e suspeitos, demonstrando a revolta diante das tragédias. Em muitos casos, o mesmo comportamento é utilizado pelos repórteres do programa, que acabam reagindo de maneira grosseira com seus entrevistados, como aconteceu com a jornalista Mirella Cunha.

Muitas vezes nos deparamos com matérias “jornalísticas” como essa, que ferem a ética e mancham a imagem dos profissionais de Comunicação. Neste gênero de matéria argumentas que a ética apregoada pelos códigos deontológicos é deixada de lado, porque não atrai audiência, não instiga, não aumenta a pontuação do Ibope. E o vídeo mostrado do programa Brasil Urgente confirma essa tese. Não há nenhuma preocupação com a maneira pela qual os assuntos são abordados, como as pessoas são entrevistadas e como o receptor vai receber as informações. Os programas policiais precisam continuar mostrando a realidade sim, mas será que essa seria realmente a forma correta de informar? Onde está a imparcialidade do jornalista? E a ética? Essas são perguntas recorrentes e que precisam ser colocadas em debate.

A partir das informações mencionada acima, cria-se um espaço para debate. A teoria da comunicação citada durante a análise explica a existência de um público sem capacidade interpretativa dos fatos. Já o cientista político, Lasswell, mostra que o receptor tem um senso crítico, capaz de pensar nos aspectos que compõem o cenário no qual é transmitida a matéria: o jornalista, o perfil do programa, as características político-econômicas da emissora e os efeitos também utilizados para transmitir a informação, por exemplo.

A notícia ganhou grande repercussão, destacando-se em diversos sites na Bahia:

http://www.bahianoticias.com.br/holofote/noticia/24336-jornalistas-repudiam-atitude-da-reporter-mirella-cunha-em-carta-aberta.html


Por Kíria Ribeiro, Luma Saboia, Marcelo Nahime Jr e Thainá Cunha

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