Posted by admin On março - 4 - 2013

A comentarista Eliane Catanhêde, da Folha de São Paulo, anunciou no dia 7 de janeiro de 2013 o que deveria ser um dos maiores furos da semana: as vésperas de passar por uma crise de racionamento de energia, a presidente Dilma convocou uma reunião de emergência com diversos órgãos, incluindo o Conselho Nacional de Política Energética, sobre os baixos níveis dos reservatórios nas hidrelétricas. Nas palavras da própria, “Na avaliação do governo, os níveis dos reservatórios estão até 62% abaixo dos registrados no ano passado e a situação tem piorado por causa do intenso calor e da interminável seca, sobretudo no Sudeste.”

Seria de fato um grande furo, uma vez que dias antes a presidente teria dito, em um discurso, ser “ridículo” falar em racionamento de energia. Contudo, conforme foi anunciado dias depois, a reportagem não passava de  um erro de interpretação da colunista. Consta no comunicado oficial do ministério que a reunião não tinha caráter de emergência, tampouco trataria dos baixos níveis do reservatório, e sim foi uma reunião rotineira marcada há meses.

Confirmado o erro, era de se esperar uma retratação da própria colunista ou do jornal Folha de São Paulo. Não foi o que ocorreu. Ela ainda escrevera mais uma coluna afirmando que a matéria anterior era sim verídica e que não se daria por vencida de divulgar sua “verdade”. No seu segundo texto sobre o tema, disse que ”Desmentir notícias desconfortáveis, aliás, é comum a todos os governos”: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde” argumentou, continuando a alarmar o possível “apagão”.

O Ministério de Minas e Energia, vendo a gravidade da situação em que se encontrava, enviou uma carta-resposta para a Folha, em que explicava com detalhes erro de Catanhêde. Constava na carta, entre outros argumentos, que ”Além desses esclarecimentos não terem sido prestados na reportagem sobre o assunto publicada em 8/1 (“Lobão confirma reunião, mas descarta riscos”, “Mercado”), a jornalista, na coluna “Aos 45 do segundo tempo” (“Opinião”, ontem), põe em dúvida a veracidade das informações do Ministério de Minas e Energia. Para que não reste dúvida sobre o assunto, consta na ata da 122ª Reunião do CMSE, realizada em 13/12/2012, precisamente no item 12, a decisão de realizar no dia 9/1/2013 a referida reunião ordinária.”

Não havia mais dúvidas. A Folha de São Paulo, um dos maiores jornais do país, divulgara no dia 7 de janeiro, em sua primeira página, uma notícia falsa, a chamada “Barriga Jornalística”. O jornal confiou na desinformação de sua própria funcionária e cometeu um grande deslize. Publicada a carta-resposta do Governo no dia 11 de janeiro, era inevitável uma retratação da colunista, que aconteceu na própria edição. ”De fato, a reunião foi marcada em dezembro, mas, diante dos níveis preocupantes dos reservatórios, ganhou caráter emergencial – evidenciado pela intensa movimentação do governo. A Folha contemplou no dia 8/1 a versão do ministro de que não havia risco de racionamento.” Sem dar o braço a torcer, a colunista assumiu que perdera.

Além da “barriga”, pode-se perceber nesse casso histórico da mídia brasileira um perigoso efeito da ”espiral do silêncio”, termo usado quando um lado é retratado com grande veemência pela maioria dos grandes veículos de comunicação calando-se os de menor expressão. Assim, o veículo conduz a opinião contrária silêncio pela falta de voz. Globo, Estadão, e outros portais na internet repercutiram o fato publicado na Folha de São Paulo e geraram, entre outras consequências, uma desmotivação empresarial e queda nas ações de empresas geradoras de energia.

Com a constatação de que não se passava de especulação dos meios, o setor empresarial e as ações voltaram ao normal no decorrer da semana, e outra ”espiral do silêncio” pode ser vista: os grandes veículos que pegaram carona no “furo” de Eliane não tocaram mais no assunto energia elétrica. A chuva voltou como esperava, com o governo para lavar sua alma e levar por enxurrada as críticas oposicionistas.

Por Luís Fernando Braúlio e Tácito Chimato

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