Posted by admin On março - 4 - 2013

UFOP se posiciona diante dos abusos cometidos por alunos

Não é de hoje que o ambiente acadêmico e, principalmente, a vida dos estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) vem sendo discutido na mídia regional e nacional. O assunto se agravou com as mortes de dois estudantes da Instituição. O primeiro, morador de uma república particular e o segundo, de uma moradia federal.

Após os fatos a imprensa passou a noticiar de forma intensiva o abuso de álcool de estudantes, em especial os que pertencem a UFOP. Podemos pensar essa sequência de reportagens, caracterizando-a na linguagem jornalística como agendamento, como sugere a Teoria do Agenda Setting.

“A teoria do agendamento defende a ideia de que os consumidores de notícias tendem a considerar mais importantes os assuntos veiculados na imprensa, sugerindo que os meios de comunicação agendam nossas conversas. Ou seja, a mídia nos diz sobre o que falar e pauta nossos relacionamentos”

A produção deste suíte tem a função de levar o leitor a compreender  os desdobramentos dos assuntos da edição anterior do Blog Cítrico. Utilizamos como base uma carta emitida por João Luiz Martins, que lança uma campanha de conscientização sobre o uso de álcool em toda comunidade acadêmica e faz referência às medidas a serem tomadas no carnaval.

Com o lançamento dessa carta, reportagens foram realizadas por veículos que participaram a coletiva da reitoria. Não procuramos criticar o texto de Werkema nesse momento, mas sim usá-lo como base para elucidar a nova campanha intitulada: “Avalie seu consumo”.

Postura da Universidade Acompanhamento durante o Carnaval

A universidade, por iniciativa do reitor e professor João Luiz Martins, instaurou uma Comissão de Sindicância para investigar a morte do aluno Pedro Silva Vieira, morador da república federal Saudade da Mamãe, através da nota publicada no site da Instituição.

Reitoria da UFOP

Em 31 de janeiro a UFOP, novamente na figura do reitor, chamou a imprensa local e nacional para uma coletiva, a intenção é mostrar o resultado da sindicância, aproveitando o momento para falar das propostas da reitoria de mudança nos estatuto das repúblicas federais. Desta forma o objetivo foi o de apresentar a campanha de conscientização antidrogas intitulada “Avalie seu consumo”. Desta forma, o assunto “abuso de álcool” voltou a ser agendado na imprensa, com publicações em jornais como Estado de Minas, O Tempo, Portal R7, G1, TV Globo, TV Band, rádios CBN, Band News, entre outros, todos presentes na coletiva.

Pode parecer tardia a reposta da Instituição, mas quando se trata de politicas públicas é preciso que se pense dando alternativas e respostas para as questões que foram levantadas a partir desse assunto.

Enquadramento

A teoria do enquadramento (framing) parte do pressuposto de que os veículos jornalísticos relatam fatos excluindo ou enfatizando  determinados aspectos e informações.

“Na prática jornalística, um enquadramento (framing) é construído através de procedimentos como seleção, exclusão ou ênfase de determinados aspectos e informações, de forma a compor perspectivas gerais através das quais os acontecimentos e situações do dia são dados a conhecer.” (ROTHBERG; 2010; pág. 54)

Todos os veículos apresentaram os assuntos que foram relatados pelo Reitor, na coletiva e descritos no release (sugestão de pauta). Notamos alguns enquadramentos quanto ao resultado da sindicância, sobre possíveis treinamentos de primeiros socorros, o lançamento da campanha “Avalie seu consumo” e as mudanças no estatuto das repúblicas federais, sendo o último o mais abordado.

Enfoques dados pela Mídia
O jornal Estado de Minas, em  matéria intitulada Ufop impõe linha dura às repúblicas”, ressaltou a formação de uma comissão que avaliará as mudanças no estatuto das repúblicas Federais. O períodico enfatiza que as mudanças, como o critério socioeconômico e a vinculação do rendimento acadêmico, seriam meios de coerção e controle quanto ao consumo de álcool nas moradias estudantis.
A matéria não deixa de lembrar as duas mortes em decorrência do consumo excessivo do álcool e relata que a comunidade acadêmica  está “aberta a transformações”. Além disso, ressalta a fala do presidente da Associação dos Moradores de Repúblicas Federais de Ouro Preto (REFOP), Luiz Philippe Albuquerque, que diz que “agora estamos mais dispostos a repensar nossa cultura e resgatar nossas verdadeiras tradições”.
Já em uma matéria do Portal R7, o enfoque está em medidas que a UFOP virá a adotar. Estas medidas incluem treinamento com práticas de primeiros socorros em casos de emergência, e também a mudança no estatuto da Universidade, para que ela possa tomar medidas mais enérgicas quanto a acontecimentos que ocorrerem fora do ambiente acadêmico.
O portal do G1 e a TV Globo salientaram o lançamento da campanha antidrogas, além das medidas anunciadas. O jornal O Tempo, destaca a proibição de marketing por parte das repúblicas, com relação a marca de bebidas alcoólicas e também sobre a campanha. 

Acompanhamento durante o Carnaval

No dia 6 de fevereiro, um dia antes do começo das festividades do Carnaval em Ouro Preto, Martins, publicou em nota oficial no site da UFOP, recomendações para os estudantes e principalmente para as repúblicas.

Na carta o reitor deixa claro que nada impede que os integrantes da comunidade acadêmica  participem e promovam os blocos. Ainda que a Universidade nada tenha a ver com a realização desses eventos.

Por isso, juntamente com o Ministério Público, foram acordadas certas normas para se seguir neste carnaval. As recomendações são voltadas para os estudantes moradores de repúblicas federais da cidade e estabelecem que os visitantes das república tenham um cadastro com informações, cuidados com a segurança de quem está nas repúblicas, divulguem informações sobre locais importantes como farmácias e bancos, entre outras. Também informa telefones úteis, como o do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar.

Conclusão

As notícias relacionadas e veiculadas fazem o uso do enquadramento episódico do tema, e que segundo Rothberg, tendem a dificultar a produção de respostas consistentes. Ou seja, matérias jornalisticas focadas em episódios isolados fazem com que o receptor pense em soluções individualistas.

“Estudos empíricos indicam que a exposição a quadros de conflito, jogo e episódicos tende a dificultar a produção de uma resposta mais consistente das pessoas às mensagens, como a atribuição de responsabilidades por problemas sociais a fatores objetivos das políticas públicas empregadas em dado momento. Uma vez expostos majoritariamente a quadros superficiais, os indivíduos tendem a enxergar soluções individuais para a pobreza, por exemplo, que ofuscam o papel de políticas sociais orientadas ao desenvolvimento humano.” (ROTHBERG; 2010; pág. 24)

Sabemos que como parte do estado democrático de direito, o jornalismo serve para questionar e cobrar, como procuradores públicos de seus consumidores. Sugere-se que a imprensa passe a fazer enquadramentos temáticos, ou seja, que vá além dos fatos, resultando em uma percepção mais abrangente de vários fatores e contribuindo para o bem-estar coletivo.

Por Arthur Medrado, Felipe Sales, Gustavo Kirchner

Categories: Destaque

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