Posted by admin On janeiro - 26 - 2013

Por Ana Paula Veloso Rodarte

É comum na prática jornalística, sermos questionados com a pergunta: “O que é notícia?” Não é de hoje que vários desses profissionais confundem os reais interesses do jornalismo com espetacularização e falta de informações. Pensando nessa visão equivocada de relatar um fato, pretendo compreender através das Teorias do Jornalismo, como a nossa matéria pautada (Relatório policial mostra a liberalidade estudantil) pode influenciar as opiniões dos leitores. Antes, porém quero me posicionar como leitora e relatar a minha opinião.

Ana Paula Rodarte, 22 anos, estudante: “Sou testemunha que alguns fatos relatados são verdadeiros e merecem total atenção dos órgãos públicos responsáveis, mas vejo Ouro Preto e Mariana apenas como exemplos do que ocorre no país inteiro. O autor não se preocupa em avaliar se os problemas com drogas e álcool ocorrem com toda a sociedade acadêmica, somos todos pré-julgados e expostos de maneira pejorativa. O que me preocupa é saber que essa notícia está disponível para todas as pessoas, inclusive minha família. Não me acho no direito de escrever as falhas profissionais de Mauro Werkema como jornalista, me basta dizer que ele representa o tipo de jornalista que não pretendo ser”.

Teorias do Jornalismo e trechos das opiniões dos leitores

Teoria da persuasão: os leitores são levados a acreditar que os fatos descritos sobre Mariana e Ouro Preto são verdadeiros. Mas através de seus “filtros psicológicos”, acreditam que esses fatos não são apenas recorrentes nessas cidades. Suas compreensões vão além do que é apresentado por Mauro.

Andrea Freire, 47 anos, pedagoga:O problema enfrentado pelas cidades de Ouro Preto e Mariana é um caso recorrente em todo Brasil. Se não houver uma ação conjunta da sociedade, órgãos públicos e principalmente dos estudantes, será com certeza um caso de difícil solução. Situações de perigo hoje em dia são banalizadas, parecendo que as pessoas não tem mais medo de nada. Temos que repensar a educação de nossos filhos, porque vivemos em uma sociedade que proporciona uma gama enorme de informações e que muitas vezes não são direcionadas de forma correta”.

Daysson de Oliveira, 22 anos, universitário: “Na minha opinião os dados apresentados pela notícia procedem, porém há questões abordadas que eu não concordo de forma alguma, uma vez que não dá pra requerer medidas extremadas por parte da Universidade. Eu acho que ela não está de acordo com certas atitudes dos seus alunos no dia a dia, porém não dá pra cobrar dela uma posição mais enérgica, uma vez que os estudantes são independentes e têm o livre arbítrio, cometendo várias vezes alguns ilícitos, porém não compete à Universidade discutir esse mérito. O aumento da criminalidade nas cidades citadas acompanha o aumento da criminalidade no Brasil, portanto, não há que jogar a culpa na vida boêmia dos estudantes. A crítica trazida pela notícia é contundente, porém aborda certos aspectos dos quais eu não comungo”.

Ana Luísa Rodrigues Nepomuceno, 22 anos, universitária (Filha de ex-aluno de República Federal, filha e neta de moradores de Ouro Preto, ouropretana e estudante da Universidade Federal de Ouro Preto): “O texto expõe uma situação cada vez mais debatida dentro da comunidade ouro-pretana: as repúblicas estudantis e a falta de limites. Não é segredo que a cidade de Ouro Preto tem uma fama de festeira e muitas dessas festas, para não dizer a maioria, são realizadas pelas repúblicas e isso gera problemas conhecidos há muito tempo como perturbação do sossego público e consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Eu acredito que muito do que o texto cita é verdade, mas ele exagera em certos pontos ao colocar todos os republicanos no mesmo balaio. É verdade que são realizados eventos para arrecadar dinheiro, e eu, como estudante da UFOP nascida em Ouro Preto, discordo do texto no que se refere a essas festas.

Eu acompanho, desde início dessas “festas extraordinárias”, que a arrecadação de muito do dinheiro acaba se revertendo para cuidar das repúblicas, pois não é segredo para ninguém que os ex-alunos e os atuais são os responsáveis por manter verdadeiros casarões com os próprios recursos. O dinheiro é revertido para arrumar a casa por dentro e por fora (e muitas delas estavam apodrecendo antes de serem devidamente restaurada) e assim os turistas podem sorrir ante o belo trabalho de preservação executado por estudantes relaxados, bêbados e drogados… há uma contradição aí, não?”.

Teoria do espelho: o leitor acredita que a notícia é um espelho do que realmente está acontecendo em Mariana e Ouro Preto.

Bartholomeu Xavier, 22 anos, universitário:Os cursos da Universidade estão aumentando e a maioria da população da cidade é universitária. As pessoas que estudam em universidades federais, geralmente são sustentadas pelos pais, ou seja, os pais enviam o dinheiro e a pessoa se vira com aquela quantia. Como são jovens, que estão saindo de casa e querem conhecer a “vida”, a melhor forma possível é ingerindo álcool e drogas, duas figuras que sempre fizeram parte da juventude de praticamente todas as gerações, por isso ela recebe um destaque acentuado. Em outras cidades que também são universitárias, existe o alto consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, porem existem outras formas de economia o que leva a não dar tanto destaque aos universitários. Sem contar que Ouro Preto sempre foi conhecida pela quantidade de “loucuras” cometidas por seus estudantes”.

Teoria dos efeitos limitados: essa Teoria é conhecida por cumprir papel limitado no jogo de influência. Nesse caso o texto não consegue induzir o leitor, fazendo que seu pensamento seja diferente do que foi apresentado e algumas vezes até questionado.

Matheus Martins, 20 anos, universitário: “A matéria da coluna de Mauro Wekerma inspira grande preocupação com a situação de Ouro Preto e região de forma geral, dado os episódios de criminalidade relatados, mas inspira preocupação maior ainda com o nexo de causalidade que nela se tenta estabelecer. Desculpa-se o nítido descontentamento pessoal do autor, que se demonstra na escolha dos termos utilizados para descrever a rotina “promíscua” dos universitários, e nas acusações de incapacidade de órgãos como o Ministério Público e a própria Universidade de Ouro Preto em conter os estudantes, por se tratar de uma coluna de opinião. Mas ainda assim, é triste ver o grande esforço do autor em estabelecer uma conexão lógica que coloque os estudantes como a fonte dos problemas da região, e falhar, recorrendo assim a uma fundamentação vaga, embasada em um relatório que “circula” pelos órgãos policiais, ou entre um ou outro dado colocado no texto sem qualquer fonte que o sustente, e condiciona o leitor a pensar que a rotina vívida dos ambientes universitários é um caso de polícia. Todo comportamento antissocial deve ser punido, mas é sempre bom lembrar que não há conduta criminosa sem lei anterior que a defina como tal. Podem-se apurar e resolver até a raiz os problemas que indignam o autor, até que não resta nada de natureza criminosa, como o tráfico de drogas e a perturbação do sossego, mas não acredito que isso lhe traria qualquer satisfação, porque simplesmente não se pode limitar as liberdades pessoais garantidas a todas as pessoas – que de acordo com o autor, os promíscuos universitários parecem desfrutar sem limites – nem se pode puni-los por práticas que sejam moralmente questionáveis, mas não criminosas. Em geral, a coluna faz acusações graves e pode ajudar perpetuar uma guerra entre moradores e universitários, que dificilmente será resolvida, pois essa não se baseia em uma situação de crime e castigo, mas sim de diferenças de valores morais”.

Patrícia Silva, 45 anos, dona de casa: “Não concordo com o que está sendo dito, acredito que se isso ocorre não são todos que fazem. Pois a Universidade Federal de Ouro Peto (UFOP) não formaria grandes profissionais, como presidentes de grandes multinacionais. A disseminação das drogas não ocorre apenas em cidades universitárias, nem entre os jovens; isso é uma epidemia no Brasil. Vemos meninos sendo mortos no Rio por causa de droga. A faculdade tem uma parcela de responsabilidade, mas cadê os pais? Cadê o governo?”.

Vinicius Cruz, 20 anos, produtor de eventos: “O texto “Relatório policial mostra a liberalidade estudantil” de Mauro Werkema discorre sobre o comportamento dos estudantes de Ouro Preto e Mariana de forma pejorativa e generalizada. Não concordo com a forma que o autor expõe o problema. A utilização de termos depreciativos e a exposição de alguns casos de assassinato no supracitado texto deposita uma carga muito negativa sobre todos os estudantes. Imagine o que pensariam os pais de algum estudante dessas cidades ao ler esse texto? Existem casos e casos. É óbvio que alguns estudantes em Ouro Preto e Mariana utilizam drogas ilícitas e bebidas alcoólicas em festas que duram toda a madrugada (como acontece em qualquer universidade do país), mas isso não quer dizer que a cidade vive em total anarquia e balbúrdia como transparece no texto de Werkema. Enfim, o texto tenta induzir o leitor a criar não só um conceito ruim em relação às duas cidades envolvidas, como também induz ao preconceito contra universitários.”.

Os argumentos e posições são influenciados pela nossa cultura, onde estamos inseridos e também pelas informações da mídia. Com todas essas opiniões ficou claro que uma notícia independente de condizer com a verdade ou não, é interpretada de diferentes maneiras pelos leitores. Mauro ao escrever essa matéria se torna um produto da Teoria do Gatekeeper, onde a produção da informação foi concebida por uma série de escolhas. A pergunta final seria: Mauro Werkema como jornalista (gatekeeper) escolheu seguir com essa matéria ou foi apenas um representante de uma política empresarial?

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