Posted by admin On janeiro - 26 - 2013

Por Kíria Ribeiro, Luma Oliveira, Marcelo Nahime e Thainá Cunha

Falar das repúblicas e da vida estudantil de Mariana e Ouro Preto, naturalmente é motivo de debates e conflitos. Se de um lado, os estudantes defendem a liberdade, de outro os moradores prezam a manutenção da rotina de vida que tinham. Os pontos de vista são divergentes e o assunto se desdobra até chegar à mídia. Mas abordar esse tema requer cuidado. No texto analisado, o autor evidencia características que levam o leitor a formar uma opinião negativa sobre o assunto.

Segundo a teoria do enquadramento, “enquadrar é selecionar alguns aspectos de uma realidade percebida e fazê-los mais salientes em um texto comunicativo, de forma a promover uma definição particular do problema, uma interpretação casual, uma avaliação moral e/ou uma recomendação de tratamento para o item descrito”. (ENTMAN, Robert. Framing: toward clarification of a fractured paradigm).

Sendo assim pode-se analisar que:

  • Segundo Mauro Werkema, o conteúdo do texto é retirado de um relatório, cuja única informação fornecida é o nome. O autor não dá desdobramentos acerca desse documento e não esclarece seu conteúdo durante o texto, como é apresentado nesse trecho: “Circulam nos órgãos policiais do Estado, como também nos organismos de cultura e turismo, um relatório sobre a situação de Ouro Preto com relação ao tráfico de drogas e às orgias nas repúblicas estudantis”.
  • O autor utiliza um vocabulário que dá conotação negativa ao texto, como por exemplo: promiscuidade, agressões, criminalidade, bebidas, libertinagem, orgias. Além disso, uma ferramenta utilizada pelo autor para reforçar o enquadramento negativo é o uso da palavra república entre aspas. Como no trecho que segue: “E as “repúblicas” que antes recebiam ex-alunos e seus familiares, hoje se transformaram em hotéis, com boates, restaurantes, venda de bebidas e até drogas”.
  • No texto as fontes primárias, que poderiam dar credibilidade aos argumentos defendidos, são ausentes. Segundo Nilson Lage, as fontes primárias “são aquelas em que o jornalista se baseia para colher o essencial de uma matéria” (LAGE, Nilson. A Reportagem). Nesse trecho do texto o autor supõe a existência de um confronto entre moradores e repúblicas. Nesse caso, ele poderia ter utilizado fontes primárias, como um morador da cidade. “Afirma o relatório que o confronto com a população, especialmente de Ouro Preto, é grande, a sociedade condena e reclama a cada semana da conduta de estudantes e suas festas, mas nada é feito. O conflito é latente e se expande, e é muito possível que agressões ocorram de forma mais grave e violenta”.
  • No texto são usados os conceitos de “liberalidade” e “libertinagem” como se fossem semelhantes. Como aparece no trecho: “O relatório retrata um quadro de liberalidade total, para não dizer libertinagem, sem limites ou controles, a não ser reprimendas ocasionais que não produzem resultados nem conseguem alterar as situações de promiscuidade, uso de drogas, corrupção de jovens, desvio de finalidades das próprias “repúblicas”, festas extraordinárias em vários aspectos, uso extremado de bebidas e muito mais”. Segundo a definição do dicionário da Língua Portuguesa, a palavra liberalidade significa: qualidade de liberal ou generosidade. Já a palavra libertinagem: vida de libertino, devassidão, desregramento de costumes. Diante dos significados divergentes percebe-se o paradoxo no uso dos conceitos.
  • Diante do delimitado espaço que os jornalistas possuem para escreverem as notícias, realiza-se uma seleção de quais fatos serão publicados nas páginas dos jornais. Essa seleção se faz com base em valores-notícia. Nelson Traquina afirma que “os valores-notícia são um elemento básico da cultura jornalística que os membros dessa comunidade interpretativa partilham” (TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo, porque as notícias são como são). Desta forma, os valores-notícia são uma espécie de bússola que orienta os jornalistas na direção dos acontecimentos que seriam mais caros ao jornalismo. Eles são as bases sobre as quais estes profissionais escolhem os fatos que serão convertidos em notícias. O tema do texto é de interesse público a medida que aborda um assunto relevante na cidade, apresentando, assim, valor-notícia.

A partir da análise apresentada, percebe-se que os argumentos da matéria publicada no jornal “O Liberal” não têm credibilidade. Talvez se a matéria acrescentasse as fontes, mais detalhes sobre o relatório e apresentasse mais argumentos, o texto se tornaria mais credível e abriria um espaço para debate sobre o tema.

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