Posted by admin On novembro - 6 - 2012

Por: Adriana Souza, Joyce Afonso, Rayana Almeida e Tuanny Ferreira

O Esquema  de compra de votos de parlamentares, mais conhecido como “mensalão”, foi a maior crise política sofrida pelo governo do presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva. O caso começou a ser julgado no 2 de agosto de 2012 e obteve repercussão midiática em todo o mundo.
Baseados nas informações fornecidas pelos sites da revista
Carta Maior e jornal Estado de S. Paulo, analisamos a coberturas por eles realizadas de acordo com as premissas referentes aos enquadramentos jornalísticos de moral, de interesse humano, de jogo, temático, estratégico e episódico para compreendermos as perspectivas gerais dos acontecimentos. Tentamos, também, buscar as fontes envolvidas na cobertura, assim como diagnosticar o nível de comprometimento com a informação dos veículos citados.

Através das matérias de 26 de agosto da revista CM e do Estadão podemos notar o poder da imprensa nas ações políticas e judiciais envolvendo o caso da compra de votos. A pressão feita pela mídia através de matérias que mostram apenas uma versão dos fatos é comum nesse período.

É evidente que as pessoas envolvidas no caso do mensalão devem ser punidas, mas também é preciso compreender que a mídia criou palavras e expressões para muitos desses casos que, traduzidas ao pé da letra, não fazem jus à realidade. “Lavagem de dinheiro” não é o mesmo que “realizar um saque de 50 mil reais”.  O primeiro termo é usado pelo Estadão de forma generalizada e sem o cuidado prévio. O uso inapropriado de expressões consagradas e jargões pela mídia lança mão de irresponsabilidade na escolha de termos e na abordagem de suas matérias. Fica claro que, em muitos dos casos, os termos não foram usados de forma correta e isso pode significar um desvirtuamento do sentido real e a transmissão de informações inadequadas.

No artigo de opinião “O STF corre perigo” do ESP, o autor diz que a estratégia do PT é tentar emparedar o tribunal. Ele exemplifica com a ofensiva na internet montada para pressionar os ministros. A matéria acusa o partido dos trabalhadores de ter uma vertente que se aproxima dos regimes ditatoriais e, consequentemente, possuir enorme dificuldade de conviver com qualquer discurso que se oponha às suas práticas. A generalização utilizada pelo jornal não leva em consideração os nomes de dentro do partido que não estiveram envolvidos em casos suspeitos. Além disso, o artigo ainda afirma que o petismo poderá assegurar o controle do Estado, independentemente da vontade dos eleitores, uma vez que por estarmos na América Latina tudo é possível.

No fórum dos leitores do mesmo dia é possível ver a indignação do público em relação ao voto de Lewandowski, que inocentou João Paulo Cunha, acusado de corrupção passiva. Os leitores seguem basicamente a mesma vertente do jornal, apontando os aspectos que o veículo defende e usam, na maioria das vezes, o mesmo argumento usado na matéria. Dessa forma, evidencia-se que a visão do público de Estadão é diretamente influenciada pela política editorial do mesmo. Os fatos, para o público, não dão origem aos seus conceitos, mas sim a cobertura feita pelo veículo lido.

A matéria “O mensalão e o photoshop de um tempo histórico” da revista CM alerta sobre a cobertura parcial feita pelas grande mídias acerca do processo judicial do “mensalão”. Concomitantemente, o Estadão apresenta a matéria “Cobertura do Estadão terá apoio da Direito GV” que anuncia uma parceria com a escola de direito de São Paulo para o aperfeiçoamento da apuração do caso com opiniões de professores e especialistas no assunto. O que questionamos aqui é a ciência dos leitores sobre o processo de edição pelo qual passam as matérias. Essa edição pode ser comparada ao “photoshop” do qual a Carta Maior fala, assim como a parceria do ESP com os estudantes de direito também contribui com a parcialização do que é falado nas matérias feitas a partir dali.

Comparando as matérias “o mensalão como operação de marketing” da Carta Maior e “PSDB dá apoio publico a Perillo e ataca petistas” do Estado de S. Paulo, notamos a vulnerabilidade da imagem do PT. No ESP é expressivo o espaço dedicado à oposição ao partido dos trabalhadores, que é citado incansavelmente juntamente com o nome do ex presidente Lula. A esquerda, nesse caso, é marginalizada e acusada pela grande mídia. Fruto de uma herança histórica que vem desde o governo Vargas.

Tanto na cobertura midiática feita pelo Estadão, quanto pela Carta Maior a utilização de fontes é escassa. Apenas na entrevista do Estadão feita com o presidente do Banco Rural, João Heraldo Lima, o identificamos como tal e notamos a busca de uma versão de pessoas ligadas ao caso, uma vez que Banco Rural foi acusado de envolvimento no caso do mensalão.

Outra deficiência que pode ser identificada nas coberturas foi a falta de comprometimento com a informação de diagnóstico, em outras palavras, a informação que faz com que a população compreenda o processo e tente se inserir nele. Segundo Ruthenberg, o jornalismo que estiver pautado por enquadramentos episódicos, de conflito e de jogo perderá a substância da política e esse ambiente estimulará ao desinteresse pelo engajamento no processo democrático. Foi justamente isso o que aconteceu nas duas coberturas. O jogo político (as desavenças dos ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, além da imagem do PT) foram os objetos de reportagem e não o próprio processo de julgamento do maior caso de corrupção da história do Brasil. Os detalhes e problemas do processo foram colocados a frente do próprio processo, muitas vezes por ideologia política dos veículos. Portanto, a população não recebe as informações da maneira que deveria e nem se sente estimulada a participar ativamente do processo democrático.

Enquadramentos encontrados:

Quanto aos enquadramentos, tentamos identificar os quadros temáticos que apareceram nas coberturas de Carta Maior e Estado de São Paulo.

O enquadramento moral se porta como principal dentro da Revista Carta Maior, quando se sujeita a fazer uma cobertura crítica não só do “Caso Mensalão” mas de todos os fatos que envolvem essa complexa trama política. Assim, objetiva de modo claro a reflexão do leitor sobre todos os aspectos e todas as vicissitudes desse “evento” em pauta.

Na matéria “Cobertura do Estadão terá apoio da GV” do ESP, é presente o enquadramento temático que mostra um contexto mais analítico e pretende ir além dos fatos do Caso Mensalão. Na cobertura de CM é possível perceber a presença desse quadro quando são destacados todos os acontecimentos e o desenrolar do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.

Quando o autor chama a atenção para o cinismo dos políticos no artigo de opinião do Estado de São Paulo “O STF corre perigo”, são presentes os enquadramentos moral, de jogo e estratégico.

O enquadramento de interesse humano (aquele que focaliza indivíduos e personaliza a cobertura da mídia destacando o lado emocional) pode ser percebido na matéria: “Notícias de agosto: de Vargas ao Mensalão” da Carta Maior. O artigo evoca a memória dos leitores para um fato histórico que afetou de modo intenso a política nacional e ainda provoca comoção do público: o suicídio do Ex-presidente Getúlio Vargas. Assim como na matéria publicada na mesma revista no dia 24 de setembro “Apesar do ‘Mensalão’, Lula é cabo eleitoral disputadíssimo” que é colocada em foco a imagem do ex presidente, adorado pela população, segundo pesquisas feita pelo IBOPE.

O Enquadramento de jogo (responsável por apresentar na noticia a política em termos estratégicos ressaltando as intenções e ações dos diversos “jogadores”) é encontrado na cobertura da revista CM. São mostradas as intenções, posicionações e posturas de inúmeros envolvidos durante esse período. Na matéria “PSDB dá apoio público a Perillo”, do Estado de S. Paulo, notamos a presença desse enquadramento quando são ressaltadas as falas que direcionam o público a um só alvo: o PT ou pessoas ligadas a esse partido.

Analisamos 43 matérias do jornal Estado de S. Paulo Online referente aos dias 18 e 29 de julho e 26 de agosto, além de 5 matérias da revista Carta Maior referentes aos dias 18 e 29 de julho, 26 de agosto e 24 e 26 de setembro.

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